“Desenvolvimento da cidade deve ser em torno de bem-estar social”, afirma sociólogo

“Desenvolvimento da cidade deve ser em torno de bem-estar social”, afirma sociólogo

Segundo dia de Conferência de Avaliação do Plano Diretor de Porto Alegre ocorre na PUCRS

Felipe Samuel

Divididos em sete grupos temáticos, especialistas avaliam concepção de desenvolvimento da cidade

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No segundo dia de Conferência de Avaliação do Plano Diretor de Porto Alegre, na PUCRS, especialistas participaram nesta quarta-feira de reuniões em sete grupos temáticos e propuseram iniciativas voltadas à inclusão social e à criação de ferramentas para apurar onde estão residindo as famílias de alta, média e baixa renda. O objetivo é promover debates sobre o desenvolvimento urbano da cidade e buscar soluções para frear o crescimento desordenado de bairros.

Ao participar do eixo temático Desenvolvimento Social e Cultural, o sociólogo e pesquisador Milton Cruz afirma que a concepção de desenvolvimento da cidade não pode ser apenas econômica e baseada em grandes construções. “Isso limita a cidade à alta renda. Precisamos nos preocupar com o desenvolvimento da cidade em torno de bem-estar social para todos. E aí me refiro à periferia, que tradicionalmente tem ficado em segundo plano em termos de atendimento de saúde, educação e infraestrutura, que é fundamental para as famílias”, sustenta.

Autor de “A Cidade e a Modernização”, livro que analisa o planejamento urbano de Porto Alegre desde a época dos primeiros planos de melhoramentos no início do século 19 até o plano diretor atual, Cruz avalia que falta ao plano diretor atual um instrumento que mostre onde residem as famílias de todas as faixas de renda na Capital. Isso ajudaria muito no planejamento para enxergar que as famílias de baixa renda estão no entorno periférico, na Restinga, na Lomba do Pinheiro, na Zona Norte, na periferia da cidade”, observa. 

Por conta desse cenário, ele explica que as crianças dessas famílias têm pouca alternativa de lazer. E aponta outros gargalos de infraestrutura. “As ruas não são muito adequadas, se dá prioridade para automóvel em detrimento da rua como um espaço de brincadeira. O deslocamento das crianças também é difícil, é muito caro para as populações baixa renda. Então o plano diretor deveria criar um instrumento para monitorar como está o atendimento dessas famílias mais carentes em termos de infraestrutura”, completa. 

Professor de Planejamento das Cidades na Unisinos e na faculdade argentina Flacso, ele diz que um dos desafios é produzir um Plano Diretor que contemple projetos para reduzir as desigualdades e garantir uma cidade sustentável. “A gente precisa de uma cidade que dê mais oportunidade para as pessoas. Só construir o Minha Casa, Minha Vida não é suficiente. Junto com a casa tem que vir toda uma infraestrutura: água, saneamento, luz, atendimentos, assistência social de saúde, boa educação e espaços de lazer como as praças”, ressalta.

Para o sociólogo, é preciso olhar para os bairros como espaços seguros. Ele destaca a remoção dos moradores de baixa renda do Centro para a Restinga. “Removeram em cima de caminhões e jogaram lá. Depois que foi se dotando de infraestrutura. A Restinga é um exemplo interessante porque hoje a população mesmo com toda essa dificuldade, acaba acabou constituindo uma identidade própria”, observa, acrescentando que é preciso investir e gerar empregos na região.

Cruz afirma que é preciso deixar de pensar em um só modelo de cidade e começar a trabalhar a diversidade, modelos de projetos que se ajustam para o morador no seu bairro. “É o que a gente chama de planejamento, de olhar para o bairro, para a rua do morador, para o Bairro dele, para os quarteirões, e se os projetos estão justamente animando a região, dando emprego, dando aquilo que a população precisa sem grandes deslocamentos”, destaca.

Diretor de empreendedorismo social da prefeitura, João Ruy Dornelles Freire avalia que a conferência garante a participação da sociedade. “Estamos fazendo parte de vários grupos, trabalhando para construir esse Plano Diretor de forma eficiente. E de parte da Secretaria de Desenvolvimento Social, temos trabalhado a inclusão social produtiva, não só trabalhar o morador de rua que está numa condição bastante vulnerável, mas fazer com que ele seja incluído, o carrinheiro, o pessoal que trabalha na reciclagem, seja promovido ao desenvolvimento”, 


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