Elevação do Guaíba preocupa moradores ribeirinhos e faz famílias deixarem suas casas em Porto Alegre

Conforme a Prefeitura, abrigos montados já atendem mais de 200 pessoas atingidas pela cheia do Guaíba. Nível pode subir ainda mais nos próximos dias

02/05/2024 | 17:33 Atualizado 18:20

Rodrigo Thiel

Na rua Dorival Castilho Machado, no bairro Hípica, moradores ajudam a levar de volta uma senhora que preferiu ficar em casa, mesmo alagada | Foto: Fabiano do Amaral

Com a água atingindo a marca dos 3 metros no Cais Mauá, o Guaíba começa a indicar que a Capital está passando por mais uma enchente histórica. Na Zona Sul, algumas ruas do bairro Hípica já sofrem com alagamentos, deixando moradores ilhados, apesar da maioria ter decidido deixar suas residências para buscar abrigo na casa de familiares ou em pontos de alojamento montados pela prefeitura. Conforme a administração municipal, os locais montados pela Fasc já abrigam cerca de 200 pessoas atingidas pela enchente do Guaíba.

Na rua Dorival Castilho Machado, na Hípica, os próprios moradores ajudavam na retirada de pessoas que estavam ilhadas. O logradouro é um dos pontos onde a energia elétrica foi desligada em função dos alagamentos. Karina Machado, de 43 anos, que mora em outro ponto do bairro, foi até o local na esperança de que seu pai decidisse sair de casa.

Um outro residente da região serviu de contato entre ela e o pai, mas, infelizmente, um sinal de negativo fez a filha voltar sozinha para casa. "A casa dele sempre inunda. E dessa vez, eu acredito que tenha subido muito de quarta para quinta. Ele está sozinho em casa com três cachorros. Eu estou preocupada com ele, pois acho que a água vai subir mais", contou Karina.

Na mesma rua, Hamilton Costa, de 39 anos, acompanhava a mãe, Romélia, de 61, para voltar à sua casa. Segundo o filho, ela foi diagnosticada com pneumonia leve, mas preferiu voltar para sua casa. "Meu pais também está lá e ela não quer ficar longe dele, pois ele também tem problema de saúde. Dentro de casa tem uma lâmina de 5 centímetros de água. Nós precisamos colocar sacos de areia para evitar que a água entrasse mais. Agora vamos torcer para parar de subir", contou Hamilton", disse Costa.

Preparado para o pior no Guarujá

Na avenida Guaíba, no bairro Guarujá, a elevação do nível do Guaíba começa a preocupar as famílias ribeirinhas. Um destes moradores, Roger Viola, de 38 anos, decidiu instalar placas de madeiras e pedras com areia nos vãos do portão de sua casa para tentar impedir que, caso uma cheia ainda maior se confirme, sua casa seja atingida com mais força.

"Ano passado chegou a atingir a nossa casa. Agora estou montando esse muro aqui, colocando pedra e areia para amenizar a entrada da água, assim como nas comportas. Também consegui alguns paletes para subir os móveis e eletrodomésticos. Já estamos assustados com o Guaíba nesse nível. Acho que nas próximas horas ele já começa a bater aqui na frente de casa", falou Viola, que vive há dois anos no local.

Roger Viola | Foto: Fabiano do Amaral

Pescando na enchente

Apesar de toda a cheia do Guaíba na orla de Ipanema, uma cena chamou a atenção de quem passava pelo local. Isto porque o morador do mesmo bairro, Mário Stringhi, de 51 anos, montou um espaço na beira da água para pescar. Ele conta que já havia feito o mesmo nos últimos dias, mas que nesta quinta não teve sorte. "Cheguei por volta as 13h e o Guaíba já estava alto e subiu mais depois. Na quarta eu pesquei alguns bagres, mas hoje já foram embora. Se seguir subindo do jeito que está, vou embora", apontou o morador que, uma hora depois, já havia deixado o local.

Mário Stringhi, de 51 anos pesca na beira do rio desde quarta | Foto: Fabiano do Amaral

Guaíba avança sobre a orla em Porto Alegre

Na última atualização divulgada pela Prefeitura, o nível do Guaíba estava em 3,14 metros no final da tarde desta quinta-feira. A elevação fazia com que o Trecho 1 da Orla já fosse atingido pelas águas. No Trecho 3, as quadras de areia e gramado sintético também estava alagadas. Faixa de areia da praia de Ipanema, na Zona Sul de Porto Alegre também está praticamente submersa, com moradores que passam pelo local afirmando que a água está subindo rapidamente na região.

No loca, a força do vento Sul ocasiona ondas no calçadão, perto da avenida Guaíba. O vento nesta direção também é responsável por represar as água do Guaíba, elevando o nível na capital. No Belém Novo, nível do Guaíba já atinge a pracinha e a área das churrasqueiras, também com fortes ondas causadas pelo vento Sul.