Em dia de manifestações pelo Brasil, MST ocupa pátio do Incra, em Porto Alegre

Em dia de manifestações pelo Brasil, MST ocupa pátio do Incra, em Porto Alegre

Aproximadamente 200 pessoas do Movimento Sem Terra pedem melhores condições de trabalho e apoio à produção nos assentamentos

Correio do Povo

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Cerca de 200 pessoas do Movimento Sem Terra ocupam, na manhã desta quarta-feira, o pátio dos prédios do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Receita Federal, na avenida Loureiro da Silva, bairro Praia de Belas, em Porto Alegre. Munidos de bandeiras e bradando gritos de ordem, pedindo melhores condições e apoio para a produção dos assentamentos no Estado.

Em sua maioria mulheres, elas estiveram no local pacificamente, entoando cânticos de ordem. Parte do grupo esteve em reunião com a superintendência interina do órgão federal, reivindicando, entre outras pautas, o estabelecimento de uma liderança definitiva no Rio Grande do Sul. “Enviamos o ofício na semana passada solicitando a audiência. Outra demanda é a luta pela terra. Queremos o crédito de apoio às mulheres que está trancado há cinco anos no Incra. A pauta do estabelecimento de uma superintendência foi inserida depois, porque precisamos ter alguém com quem possamos conversar, dialogar e realmente encaminhar nossas demandas”, afirmou a agricultora e assentada da reforma agrária Seleni de Lima, que esteve no movimento. A intenção, de acordo com ela, é que eles permaneçam no local durante todo o dia.

 

De acordo com o MST, outra das pautas reivindicadas é o retorno da Secretaria Estadual da Mulher, considerada “unificada das mulheres do campo e da cidade”. Parte do grupo esteve também na sede da Secretaria Estadual da Educação (Seduc), reivindicando, entre as pautas, o retorno das Escolas do Campo, que teriam sido “abandonadas na atual política educacional no RS”, diz o movimento, além da garantir de transporte escolar das crianças assentadas.

Participam, ainda, integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS), Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) Levante Popular da Juventude, Movimento de Trabalhadores por Direitos (MTD), Movimento de Mulheres Camponesa (MMC).

Outros dois atos ocorrem nesta manhã na Capital, uma com cerca de 200 pessoas na Secretaria Estadual de Educação (Seduc), no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff), e outro, mais numeroso, com cerca de 400 pessoas, na Lomba do Pinheiro, na divisa da cidade com Viamão, que protestam contra o risco de rompimento da barragem Lomba do Sabão. No local, homenagearam Débora Moraes, integrante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que foi vítima fatal de feminicídio em setembro de 2022.

Alguns participantes dos movimentos participam da audiência pública “Violência contra as mulheres e o desmonte das políticas públicas”, que acontece no Plenarinho da Assembleia Legislativa. O evento, híbrida, uniu três comissões: de Cidadania e Direitos Humanos (CCDH), presidida pela deputada Laura Sito, de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, cuja presidente é a parlamentar Sofia Cavedon, e de Segurança, Serviços Públicos e Modernização do Estado, que tem como presidente a deputada Stela Farias.

Diversos outros movimentos estaduais enviaram representantes ao encontro. “Estamos lutando pela retomada de uma agenda de direitos, onde possamos garantir dignidade para todos e todas. Todas nós, inclusive que estamos aqui nesta mesa, já sofremos em alguns graus, como violência política e até ameaças de morte”, comentou Laura. Ainda de acordo com ela, “a prevenção ao feminicídio se dá com políticas integradas, fortalecendo as redes, estabelecendo fluxos, protocolos e o fortalecimento dos municípios”. Manifestantes aguardam um possível encontro com o governador.

Dados apresentados na audiência pública afirmam que, nos últimos quatro anos, houve 134.064 ameaças, 75.840 lesões corporais, 8.810 estupros, 379 feminicídios consumados e 1.195 feminicídios tentados, conforme os registros oficiais. Apenas em janeiro de 2023, nove feminicídios foram consumados e 24 tentados. Nenhuma das vítimas possuía medida protetiva vigente. “Se hoje ocupamos este espaço, é porque somos sobreviventes”, relatou Laura.

À tarde, ainda na programação dos movimentos sociais alusiva ao Dia Internacional da Mulher, às 14h, está programada a entrega do Troféu Mulher Cidadã, no Plenário da Assembleia, e, no final da tarde, um ato e caminhada unificada com as trabalhadoras da cidade e do campo.


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