Empresas de transporte do interior do RS avaliam mudanças nas tarifas diante de aumento do diesel

Empresas de transporte do interior do RS avaliam mudanças nas tarifas diante de aumento do diesel

A partir desta terça-feira, combustível terá reajuste de 8%

Correio do Povo*

A empresa de transporte Ozelame, da Serra Gaúcha, julga que um aumento na tarifa será inevitável

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O reajuste do preço do óleo diesel causa preocupação nas empresas que fazem o transporte de passageiros municipal e intermunicipal no interior do Rio Grande do Sul. A partir desta terça-feira, o aumento de 8,8% no valor do diesel nas refinarias fará com que a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passe de R$ 4,06, em média, para R$ 4,42 a cada litro vendido na bomba.

Confira como o reajuste do combustível impacta nas regiões gaúchas:

Serra

Na Serra, o  diretor da Ozelame Transportes, Júlio Ozelame, afirmou que será inevitável um reajuste das tarifas intermunicipais. Atualmente a empresa é a responsável pelo transporte de passageiros entre os municípios de Caxias do Sul, Farroupilha, Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa. Ozelame salienta que o aumento do diesel, além de acarretar elevação no preço da passagem, tem como uma das suas consequências a redução do número de usuários, visto que muitos buscam alternativas para reduzir seus custos.

Ele cita que a empresa já chegou a transportar 150 mil passageiros/mês e que hoje não passa de 40 mil. “Nunca presenciei um momento como esse, nem em épocas de inflação alta”, afirmou. O diretor informou que o preço do diesel hoje é responsável por cerca de 40% do valor da tarifa. Para minimizar os custos, a empresa, em outros momentos, já tomou medidas como redução de horários e de veículos circulando.

Em Caxias do Sul, a Viação Santa Tereza (Visate), responsável pelo transporte coletivo informou através de nota que o aumento elevado do diesel é uma preocupação constante da concessionária visto que representa quase 30% do faturamento bruto da empresa e impacta diretamente na operação. Destacou também que este fator é capaz de interferir, inclusive, na continuidade do serviço, o que torna urgente a necessidade de ajuda emergencial, por parte do poder público, para enfrentamento às variações de preços que ocorrem durante todo o ano e não apenas nos períodos de reajuste tarifário.

O Secretário Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade Urbana de Caxias do Sul, Alfonso Willenbring Júnior, disse que até o momento não houve nenhuma solicitação da concessionária por reajuste no valor da tarifa.

Em Bento Gonçalves, as empresas que fazem o transporte coletivo urbano entregaram na Secretaria Municipal de Gestão Integrada e Mobilidade Urbana um estudo que aponta a necessidade de elevação da tarifa do transporte coletivo urbano de R$ 4,75 para R$ 7,94. Conforme o secretário Henrique Nuncio, o município está analisando alternativas para manter o valor da tarifa em valores aceitáveis. Uma das alternativas em análise é conceder subsídios na tarifa, assim como ocorre em outros municípios.

Sul

Nas maiores cidades do Sul e da Campanha o valor da passagem não deve aumentar de forma imediata. Em Pelotas, o Secretário Municipal de Transportes e Trânsito, Flávio Al Alam, lembra que o preço da tarifa do transporte coletivo é composto principalmente pelos valores da folha de pagamento de funcionários e o custo do  diesel. “A expectativa é que surjam outras medidas que compensem isto, como a aprovação pela Câmara dos Deputados do subsídio às tarifas dos idosos e a diminuição do imposto sobre o diesel”, enumera.

Ele conta que ocorreu um aumento do número de passageiros nos últimos meses. “A ideia é chegar a 70 mil viagens por dia, ou seja, 70% do que era antes da pandemia. Hoje estamos em 65 mil. Também esperamos o fim da guerra na Ucrânia que também é um impacto no preço do diesel, mas neste momento este aumento não irá impactar no preço das passagens, vamos aguardar os próximos acontecimentos”, ponderou. 

O Consórcio do Transporte Coletivo de Pelotas é responsável pelo serviço tanto na zona urbana como na rural. Para o secretário executivo do Consórcio do Transporte Coletivo de Pelotas, Enoc Guimarães, o aumento do preço do diesel é apavorante e não tem como não impactar no preço das passagens. “Desde março quando fizemos o cálculo tarifário e tivemos o último reajuste no valor das passagens já teve dois aumentos no custo do diesel. Ainda não sabemos quanto vamos pagar, mas  já estávamos pagando em torno de R$ 6 que dá um real a mais do preço atual das passagens”, explica.

Ele relata que em 2016, quando iniciou o sistema do consórcio na cidade, o diesel era 70% o preço de uma passagem. Hoje, antes desse aumento, já estava em 120% o valor de uma tarifa. “Acredito que vá a 13 %. Não tem como o usuário não sentir este aumento, a não ser que o município volte a subsidiar uma parte do valor”, observou.

Ele confirma que há um acordo em vigência entre prefeitura e consórcio, com duração de 60 dias para que o valor da passagem fique em R$ 5,00. “Neste período, que termina em 12 de maio, seriam tomadas medidas para tentar reduzir o custo que na planilha é de R$ 5,50. Em março, o diesel era R$ 4,82 o litro. Agora deve ir para R$ 6,40. Ou seja, um aumento de mais de 30%. Primeiro vamos receber o novo diesel e depois conversar com a prefeitura para ver as medidas que irão tomar, não descartando reajuste."

Em Rio Grande, por enquanto, não há expectativa de aumento na tarifa em função do aumento no valor do diesel. “Não tivemos relato de sugestão das empresas para aumentar o valor em função da elevação do custo do diesel. Até porque isto depende da reunião mensal da comissão que trata do assunto, que em maio já ocorreu”, diz o superintendente da Secretaria Municipal de Trânsito e Mobilidade Urbana, Luciano Macedo. O valor da passagem em Rio Grande é de R$ 4,85.

Em Bagé, a prefeitura confirmou que não existe a possibilidade de aumento imediato. O último aumento no valor da passagem foi no ano passado. Por enquanto, mesmo com o reajuste do diesel, não há previsão de aumento no valor da passagem, que atualmente está em R$ 4,15.

Região Metropolitana e Vale do Sinos

A Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação de Novo Hamburgo lembra que o último reajuste da tarifa do transporte coletivo municipal ocorreu em abril de 2021. A data base da categoria dos rodoviários é no mês de junho. Neste sentido, este novo valor do óleo diesel, assim como os reajustes que vêm ocorrendo no combustível e nos demais insumos, podem impactar no equilíbrio econômico do contrato emergencial do transporte público. São questões que estão pesando na tarifa, mas não há data prevista para um eventual reajuste. 

A Prefeitura de Esteio informou que o Município, desde 2020 vem custeando, por meio de subsídio, o déficit da operação do transporte coletivo na cidade. Em 2022, mesmo com a manutenção do cenário deficitário, empresas e sindicato dos rodoviários, acordaram aumentos que impactaram em mais de 30% o custo da operação. Soma-se a isso o aumento de outros insumos, como o diesel. Segundo a prefeitura, "esse cenário de irresponsabilidade" levou à situação atual, com as empresas pagando apenas 50% do salário dos trabalhadores. O Município, mais uma vez, lançará mão de mecanismos para equalização da operação, aumentando em mais de 130% o subsídio concedido. O projeto de lei está em análise na Câmara Municipal e deve ser votado ainda nesta semana. 

Os Departamentos de Trânsito dos Municípios de Sapiranga, Ivoti e Viamão informaram que o valor da passagem do transporte coletivo será mantido como está. Já em Dois Irmãos, o Departamento de Trânsito informou que para não impactar no valor das tarifas, está sendo reavaliado alguns horários com pouca demanda, buscando manter a tarifa vigente de R$ 4,50. 

A Prefeitura de Estância Velha pondera que está, desde o ano passado, discutindo o transporte coletivo no Município de uma forma ampla. “Obviamente, o aumento constante do preço do diesel é uma preocupação que nós temos dentro deste contexto. Por outro lado, dentro das estratégias que temos traçado, em parceria com a empresa, entendemos que repassar esse aumento à população por meio da tarifa não é algo que permeia a discussão. Nós estamos buscando mecanismos de não impactar, ainda mais, os usuários. Contratamos uma empresa especializada que aferiu a realidade do transporte coletivo do Município. Isso, inclusive, fez parte da conciliação judicial que estamos em curso. Com base no que estamos alinhando, haverá um remanejamento de linhas e deveremos aportar um subsídio mensal à concessionária pelo período de 12 meses. Há o consenso de que, neste momento, elevar a tarifa paga pelo usuário do transporte coletivo só iria aprofundar a crise e, como consequência, diminuir ainda mais o total de passageiros transportados. Nossa estratégia, com essa negociação, é de tentar baixar o valor da passagem.” No fim da tarde desta terça-feira, prefeitura e concessionária de transporte devem se reunir e definir um acordo.  

O diretor da empresa de ônibus Expresso Assur de Guaíba, Cristian Isse, diz que a equipe está em conversação sobre o repasse do valor para o bolso do usuário. “Ainda não há nada concreto porque recebemos essa notícia hoje, mas com certeza isso vai acontecer porque o reajuste do valor do diesel foi muito expressivo e não temos condições de absorver. Entretanto, ainda não temos data definida de quando isso vai acontecer para o consumidor.”  

A Prefeitura de São Leopoldo disse, em nota, que o transporte público já estava em crise com a queda de passageiros antes da pandemia e que depois ficou pior. Neste sentido, informa que vem desde 2020 construindo alternativas para que o serviço não pare e a população seja atendida, citando que foram aprovadas três leis, em 2021, para preparar o serviço de transporte público para o retorno gradativo aos serviços completos. A prefeitura diz também que apoia a proposta de lei federal que cria o Programa Nacional de Assistência à Mobilidade dos Idosos em Áreas Urbanas (Pnami), prevendo repasse por três anos aos municípios, recursos para custear a gratuidade para as pessoas com mais de 65 anos. São Leopoldo teria por esta lei direito a receber mais de R$ 6 milhões para ser investido no transporte público da cidade por ano. Na nota, a prefeitura critica os recentes aumentos no preço do diesel e afirma que segue vigilante e em amplo diálogo com todos para a saída desta crise. Além das ações já realizadas em 2021, diz que  regulamentará a lei aprovada do cartão social para compra de créditos – passagens. A administração informa ainda que recebeu pedido das empresas concessionárias de revisão da tarifa para cobrir os custos, principalmente porque é época de dissídio da categoria dos rodoviários, e que analisa as possibilidades, sem ainda uma decisão final.

 

Fronteira-oeste

Em Alegrete, a empresa Expresso Fronteira Oeste conta com uma frota de 13 ônibus na área urbana e outros três que servem a clientela do IFFAR (Instituto Federal Farroupilha), na localidade do Passo Novo. Segundo a gerente-executiva, Ana Vezzaro, são transportados, em média, 2 mil passageiros/dia e a tarifa é fixada em R$ 4,25. Ana lamenta o aumento do diesel para R$ 6,49 litro e salienta que no momento ainda não é possível fazer algum tipo de repasse. Houve um reajuste recente acordado com o município. Conforme a gerente, a solução seria a redução na equipe de funcionários que já está no limite e, principalmente, dissolver os custos adicionais nas despesas, exceto na manutenção que é intocável. “Administrar dificuldades é o que faremos ainda mais”, conclui.  

O gerente da empresa Transporte Integração Urbana, de São Borja, Marcelo Zanella, considerou o aumento impactante e acredita não haver muita saída de compensação. “O que esperamos é uma ajuda extra, em forma de subsídio municipal, estadual ou federal”, diz. A tarifa de R$ 4,40, fixada em novembro de 2021, não cobre os custos. No período houve vários reajustes de insumos de toda ordem, além do dissídio dos funcionários que está em atraso, acrescenta ele. A empresa conta 16 carros que transportam 3 mil passageiros/dia pós pandemia. As isenções são muitas, o que onera os pagantes. Segundo Marcelo Zanella, o litro do combustível está cotado em R$ 6,39 direto do fornecedor e nas bombas, R$ 7,04.

Em Uruguaiana, a empresa Fronteira D’Oeste Ltda, por meio do administrador Rodrigo Perini, avalia que o impacto surge em um período difícil, quando se tem o início das tratativas do dissídio da categoria, além dos valores dos insumos aumentando gradativamente. A empresa conta com 14 carros que transportam em média 5 mil/dia e outros 3 mil dentro da gratuidade. Exemplificou que no momento em que o diesel custava R$ 3,80 o litro, a passagem estava cotada a R$ 3,50, uma complementação de R$ 0,30 por passageiro. Agora, com a tarifa a R$ 4,00 a diferença ampliou para R$ 2,50 por passageiro. O diesel saiu de R$ 3,80 para R$ 6,50 na cidade. Resta agora tratar com a municipalidade visando a perspectiva de um subsídio, "em razão de um prejuízo diário e insustentável". 

Norte

Em Erechim, a administração municipal, por meio da assessoria de imprensa, informou que não haverá reajuste no valor da passagem do transporte coletivo urbano, mesmo com o aumento do preço do óleo diesel. 

O prefeito de Palmeira das Missões, Evandro Massing, informou que a empresa Transpal, que realiza o transporte coletivo na cidade, encaminhou pedido que recomposição dos preços. O pedido de reajuste das passagens está em análise na Procuradoria-Geral do Município.

Em Passo Fundo, a prefeitura informou que em 20 de abril foi definida a revisão da tarifa do transporte coletivo urbano no município, atendendo a uma solicitação das empresas prestadoras do serviço. O novo valor da passagem é de R$ 5,50.

Segundo a Secretaria de Transportes e Serviços Gerais (STSG), o novo valor da passagem foi discutido com o Conselho Municipal de Transportes (CMT) e representa uma média ponderada entre os valores requiridos pelas empresas. Segundo a Secretaria, a Coleurb apresentou a solicitação de que o valor da tarifa fosse de R$ 6,80; a Codepas, de R$ 6,77 e a Auditoria-Geral do Município, de R$ 6,15. “Para tentar reduzir o impacto da tarifa na renda do cidadão, o Executivo definiu o valor de R$ 5,50”, explicou o secretário, Alexandre de Mello.

O secretário comentou ainda que a revisão da tarifa foi justificada pelas empresas como uma necessidade diante do desequilíbrio no aumento dos insumos que compõem o cálculo tarifário, sobretudo a elevação no preço dos combustíveis. Após este novo reajuste do preço do óleo diesel, o assunto do preço das passagens não entrou mais em pauta. O reajuste acertado no dia 25 do mês passado é 19% inferior ao solicitado pelas empresas.

* Colaboraram os repórteres correspondentes Agostinho Piovesan, Angélica Silveira, Celso Sgorla, Fernanda Bassôa e Fred Marcovici


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