Enchente reacende debate sobre nova ponte entre Lajeado e Estrela

Enchente reacende debate sobre nova ponte entre Lajeado e Estrela

Na ponte sobre o Arroio Boa Vista, na BR 386, parte do aterro foi levado pelas águas durante a última inundação

Caroline Garske

Parte do aterro foi levado pelas águas durante a última cheia, o que levou à interdição parcial

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A enchente que atingiu o Vale do Taquari no início de setembro alertou para um problema que vem se agravando desde que um caminhão-tanque explodiu na ponte sobre o Arroio Boa Vista, em março de 2021. A ponte, situada na BR 386, em território pertencente a Estrela, é responsável por ligar o município a Lajeado, além de ser uma importante passagem para transportes de cargas que transitam no sentido capital - interior. A elevação do nível do Rio Taquari, que chegou a 29,15 metros, considerada a segunda maior cheia da história, reacendeu o debate sobre a necessidade da construção de uma nova ponte.

Uma nova interrupção parcial do trecho voltou a preocupar a região e causar engarrafamentos gigantescos, como explica o prefeito de Estrela, Elmar Schneider. “Na ponte sobre o Arroio Boa Vista, parte do aterro foi levado pelas águas. Com isso, o fluxo precisou ocorrer em pista reduzida, o que trouxe novamente prejuízos ao Vale do Taquari e reacendeu a discussão sobre a necessidade de alternativas, visto que, também, a ponte entre Roca Sales e Muçum desabou”, observa.

Schneider destaca que uma nova passagem se justifica ao passo que boa parte da produção do Estado passa por esse trecho. “Criar alternativas para momentos como os já vividos torna-se imprescindível a médio e longo prazo.” Quando o caminhão explodiu, a estrutura sofreu danos e o trecho ficou um tempo interditado, o que, conforme o prefeito de Estrela, demonstra a grande fragilidade que hoje o Vale do Taquari tem em relação à logística, pois a região fica dependente desta ligação. “Com o fechamento temporário da ponte, Estrela também sentiu os efeitos pelo desvio do grande fluxo de veículos por algumas estradas e pontes do interior do município, que acabaram sendo danificadas”, diz.

O prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo, salienta que o impacto da interrupção em 2021 foi temporário porque a CCR, concessionária da rodovia, realizou o conserto do trecho rapidamente, liberando totalmente o local no dia 4 de maio de 2021. À época, o trânsito fluiu na ponte ao lado, em pista única, e os veículos pesados foram desviados para um trecho próximo. Caumo relata que, com a enchente deste mês, houve um novo incidente na ponte do Arroio Boa Vista e ela foi interditada parcialmente para o conserto. “O trânsito já foi liberado, permanecendo apenas restrito em alguns horários de menor movimento para a continuidade dos reparos”, explica. 

Segundo o chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Marcos César, logo após a enchente, foram solicitadas inspeções na estrutura das pontes e, de imediato, houve a interdição das pontes sobre o Rio Taquari e do Arroio Boa Vista, até que fosse atestada a segurança de ambas. “Após as devidas análises de segurança, os engenheiros responsáveis decidiram pela liberação total da ponte sobre o Rio Taquari, porém a ponte do Arroio Boa Vista permaneceu parcialmente interditada durante um pequeno período, estando totalmente liberada atualmente”, afirma.

Estudos de viabilidade precisam ser aprofundados

De acordo com o prefeito de Estrela, dois debates surgiram a partir da enchente histórica deste ano. Um deles é a criação de uma Defesa Civil regional e, o outro, a necessidade da construção de uma nova ponte. Para Schneider, entretanto, sem recursos da União não é possível avançar. “Para novembro estamos chamando uma reunião da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat) para discutirmos um projeto. Com ele em mãos, vamos poder buscar o apoio das esferas estadual e federal neste pleito. A região precisa sentar e debater, acima dos interesses locais, qual a melhor alternativa”, acrescenta Schneider.

Na opinião do prefeito de Lajeado, a construção de uma nova ponte seria uma alternativa para evitar situações em que a principal ligação entre Estrela e Lajeado fosse interrompida, como no caso de acidentes. A situação é diferente no que diz respeito às enchentes. “No caso de cheias tão grandes como a de 2023, para que uma nova ponte pudesse ser uma alternativa, ela precisaria conectar duas regiões muito altas das cidades e estar situada a um nível ainda mais alto do que a ponte existente. Esta situação requer estudos aprofundados para avaliação de viabilidade, uma vez que os dois municípios estão localizados em regiões de baixa altitude”, explica Caumo.

Ainda conforme o chefe do Executivo de Lajeado, é preciso um projeto robusto, que contemple as peculiaridades do relevo e considere também a cheia deste ano. “Os recursos terão que vir dos governos estadual e federal, uma vez que os municípios da região não terão condições de arcar com o custo elevado de uma obra deste vulto.” No momento, segundo Caumo, a prioridade dos municípios da região são projetos voltados à habitação para retirar a população de áreas de risco para grandes enchentes.


Correio do Povo
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