"Enquanto ouvem funk e enchem a cara, tem famílias chorando", diz moradora sobre turistas em SP

"Enquanto ouvem funk e enchem a cara, tem famílias chorando", diz moradora sobre turistas em SP

Cidadãos dividem opiniões sobre visitantes na região. Há incômodo para alguns e outros dizem que empresários serão prejudicados

R7

Muito trabalho na remoção de escombros na busca de sobreviventes

publicidade

A ida e permanência de turistas no litoral norte de São Paulo tem causado incômodo entre moradores da região. "Enquanto vocês ouvem funk e enchem a cara, tem famílias chorando", relatou Karolyne Reis, moradora de São Sebastião, uma das cidades mais atingidas pela chuva, em recado aos viajantes.

O temporal deixou, até agora, 54 mortos, 2.251 desalojados e 1.815 desabrigados, além de dezenas de desaparecidos e pessoas feridas desde sábado (18).

O governo do estado de São Paulo, bem como a polícia e o Corpo de Bombeiros pedem para que os turistas evitem viajar para as praias do litoral norte. Isso porque serviços básicos, como água e luz, foram comprometidos em algumas regiões e ainda há risco de novos desabamentos.

 Karolyne fez o comentário em uma publicação feita pela prefeitura de São Sebastião que mostra, em vídeo, um turista dançando em meio caos causado pela chuva — assista abaixo. "Não sei o que essa galera ainda está fazendo aqui, saiam", escreveu a terapeuta.

 

 

Ela não é a única incomodada com os viajantes na região. Tatiane Silva, que nasceu lá, considera que curtir a praia na mesma região onde moradores estão em luto e há cenas de desastre em todo o canto é "falta de empatia".

Além disso, a vendedora ressaltou o fato de o abastecimento ter sido afetado. "Eu vi a escassez dos mercados. Não é justo abastecer os comércios e esse pessoal de fora estar comprando os alimentos, tirando a vez do necessitado", afirmou a mulher ao R7.

Ainda segundo Tatiane, alguns turistas, apesar de curtir a praia, também têm se incomodado com algo: o barulho dos helicópteros que sobrevoam a região para o resgate de vítimas.

"Cidade vive de turismo", diz outro morador

Ainda em comentário na publicação da prefeitura, Fabiano andré diz que a cidade de São Sebastião "vive de turismo" e, apesar de estarem "tristes e angustiados", não se pode esquecer que são esses visitantes que "trazem o arroz e feijão em casa", escreveu.

"De fato, não é hora de dancinha. É hora de renascimento. O dinheiro tem que circular", opinou o homem.

Adriano Cavalcante também relata que é necessário pensar, também, nos empresários, ambulantes locais e pessoas que vivem do turismo para "não aumentar ainda mais a miséria".

O R7 pediu um posicionamento para a prefeitura de São Sebastião, mas, até o momento, não obteve retorno.

Chuva histórica

As chuvas que deixaram rastros de destruição nos municípios do litoral norte de São Paulo foram também o maior acumulado de que se tem registro no país, com 682 milímetros, segundo informações do governo estadual.

Em 2022, Petrópolis (Rio de Janeiro) teve o acumulado de 530 milímetros de chuva em 24 horas. Antes, o maior índice havia sido registrado em Florianópolis (SC), em 1991, com acumulado de 400 mm em apenas um dia.

São Sebastião foi um dos municípios mais afetados neste feriado prolongado de Carnaval, com deslizamentos de encostas, alagamentos e bairros isolados devido à interdição de vias de acesso. O número de mortos já supera o da tragédia de Franco da Rocha, em 2022, com o deslizamento que matou 18 pessoas. O acumulado de chuva naquela ocasião foi de 70 mm em 24 horas.

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895