Entidades reclamam de descaso com a Ponte Internacional de Uruguaiana

Entidades reclamam de descaso com a Ponte Internacional de Uruguaiana

Trecho argentino é apontado com a pior parte da travessia

Fred Marcovici

Parte argentina da ponte apresenta muitos buracos no asfalto

publicidade

Hoje Uruguaiana é o segundo maior Porto Seco Rodoviário da América Latina em número de caminhões rodando e o primeiro em valores transacionados em mercadorias entre os países do continente. Até outubro de 2023, a Receita Federal consolidou o movimento de 7,4 bilhões de dólares transportados entre Brasil e Argentina, o equivalente a R$ 36,7 bilhões. Em 2022, houve a movimentação total de 8,6 bilhões de dólares ou R$ 42,1 bilhões em mercadorias negociadas nos dois sentidos da ligação terrestre binacional. Além de ser o maior portal físico de ingressos e saídas de estrangeiros no país. Em 2023 foram mais de 875 mil turistas.

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Despachantes Aduaneiros do Estado do RS (SDAERGS), Fábio Ciocca, há um descaso das autoridades com toda a travessia de 1,4 km da Ponte Internacional, que liga Uruguaiana a Paso de los Libres (AR), muito embora, o lado argentino, sem dúvida, esteja consideravelmente mais deteriorado e colocando em risco condutores e veículos de todos os portes.

“Falta manutenção regular da pavimentação da pista de rolamento. Porém, o que mais preocupa a categoria são as condições da parte estrutural dos 43 pilares que sustentam a Ponte Internacional. Um deles, inclusive, já apresentou problemas de engenharia, passando por um remendão com obras inauguradas no primeiro trimestre de 2023. O alvo foi o pilar arco, o primeiro no sentido Uruguaiana/Libres”, destaca.

Ainda de acordo com Ciocca, houve a solicitação junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) de um laudo técnico detalhando as condições físicas do conjunto de pilares e, até agora, não obteve a resposta. Também foi encaminhado um apurado dossiê da precariedade da ponte, ao vice-presidente da República Geraldo Alckmin, ao ministro dos Transportes, Renan Filho, ao Embaixador da Argentina no Brasil, Daniel Scioli, e ao diretor-geral do DNIT, Fabrício Galvão, além de endereçamento a todos os deputados federais e senadores, sem contestação alguma, até o momento, completa.

Trecho brasileiro da Ponte Internacional passou por obras, que foram entregues no primeiro trimestre de 2023 | Foto: Renato Lisboa / Especial CP

Ao mesmo tempo, a deputada federal argentina, pela província de Corrientes (divisa com o RS), Sofía Brambilla, do Partido Proposta Republicana, apresentou no congresso um projeto de resolução para exigir que o Executivo de seu país repare com urgência a Ponte Internacional Agustín Justo/Getúlio Vargas. Conforme Sofía, a ponte é a principal travessia internacional da Argentina. “São pelo menos 650 caminhões circulando por dia nesta rota. Uma ponte com 78 anos tem a necessidade de reparação o quanto antes”, destaca.

Sofía reitera que o trabalho não é somente pela prosperidade gerada a ambas as cidades, mas, principalmente, pelo desenvolvimento que leva para a Argentina. “O estado de abandono e a falta de manutenção da travessia é desconcertante e repercute na economia dos dois países. A degradação é avançada, com falhas estruturais, pavimentação e iluminação, tornando a Ponte cada vez mais perigosa e lenta”.

A ligação entre os dois países registra pelo menos o tráfego anual de 230 mil caminhões, 45 mil ônibus de turismo e milhares de veículos particulares. “É a principal artéria que une a Argentina ao Brasil e requer com urgência de uma atenção estrutural”, afirmou Sofía.

A vice-presidente-executiva da Associação Brasileira de Transportadores Internacionais (ABTI), Gladys Vinci, disse que a situação precária da Ponte Internacional, ultrapassou o abandono. “Se pensássemos que a travessia fosse uma criança, ela teria sido abandonada duas vezes, pelos pais e pelo governo, o que nos faz sofrer duplamente. Desesperança de encontrar uma solução”, desabafa.

Conforme Gladys, é necessário uma requalificação para quem transita pela ponte. Sabe-se que necessita ser atualizada, afinal ela é quase uma octogenária. Nos tempos atuais, os veículos mudaram. Um caminhão hoje tem a largura de 2,60 m, o que torna as pistas estreitas demais.

Uma das soluções, apresenta Gladys, seria retirar as calçadas de pedestres e ampliar os dois sentidos da pista de rolamento. "Na verdade, o sonho seria aproveitar o espaço anteriormente dedicado à ferrovia para também poder receber veículos automotivos", destaca. “No momento, até uma ambulância teria dificuldade de prestar socorro a um acidente grave registrado na ponte. Uma terceira via resolveria o problema. Não ver o aprimoramento da travessia é triste, desesperador e angustiante”, define Gladys.

A diretora afirmou ainda, que vê as condições em que a ponte do lado argentino se encontra é uma demonstração transparente da despreocupação com a integração comercial e cultural entre os dois países. “Ouço autoridades falando por falar, o que causa mais desencanto entre os transportadores”, lamenta. Existem propostas até mesmo de pedagiar uma ponte pronta há 79 anos. "O que desuniria as duas cidades e aumentaria a largura do rio Uruguai", conclui.

O chefe de serviço da unidade de Uruguaiana do DNIT, engenheiro Pablo Teonas May, afirmou que frequentemente o órgão realiza manutenções da pista da Ponte Internacional, não permitindo a formação de buracos e panelas. Ainda de acordo com May, não há descaso algum do DNIT com o cruzamento. “O problema havido em 2023, por exemplo, foi prontamente solucionado”, diz.

O Departamento enviou às autoridades competentes argentinas, um projeto de restauração da ponte que prevê o alargamento da travessia com a modificação da seção transversal, até agora sem resposta. Diante do silêncio dos vizinhos, o DNIT trabalha em projeto próprio de restauro da parte da Ponte que compete ao Brasil, salienta.

Por último, May disse que jamais o DNIT permitiria o tráfego de veículos caso houvesse qualquer risco aos usuários. Acrescentou haver constante avaliação visual dos elementos das estruturas. A Dirección Nacional de Vialidad da Argentina, responsável pelo setor, preferiu não se manifestar.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895