Entorno da estação Santo Afonso da Trensurb vira ponto de apoio de resgates em Novo Hamburgo

Entorno da estação Santo Afonso da Trensurb vira ponto de apoio de resgates em Novo Hamburgo

Veículos com barcos chegam ao local a todo momento para se somarem à corrente de solidariedade

Felipe Faleiro

Barcos chegam e saem a todo momento em Novo Hamburgo

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Moradores do bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, na divisa com São Leopoldo, estão, na medida do possível, se auxiliando mutuamente em busca de obter transporte, água, comida e resgate. Automóveis com barcos chegam a todo momento, com mais pessoas se somando à corrente de solidariedade, e mesmo aqueles cujas famílias perderam tudo, se colocam à disposição para ajudar de alguma forma. Um pequeno porto foi improvisado no local. Quem pode, vai até a estação Santo Afonso da Trensurb, que é um ponto de apoio.

Mais cedo nesta segunda-feira, o morador Delmar Santos fez como faz com frequência nestes últimos dias. Ele tomou o assento de uma embarcação a motor e foi verificar sua casa, na rua Caracas. Embora a água esteja baixando lentamente, corroborando dados da Prefeitura, ainda não há condições de ingressar na mesma. Com uma esposa e uma filha de 17 anos, ele já sabe que perdeu praticamente tudo o que tinha, e precisará recomeçar.

"Saí de lá na sexta-feira, e depois não consegui chegar mais. Não sei nem em que altura está. Quero ver se tem como já fazer alguma coisa", relatou ele, antes do trajeto. Após alguns minutos de caminhada na água barrenta e funda,e em seguida uma viagem com o barco a motor, o resultado foi que o local ainda estava tomado pela água até a cerca de 1,80 metro de altura. "É difícil. Nunca havia visto isto daqui", desabafou. Uma das pessoas que estavam conduzindo o barco era Luiz Fernando, morador do bairro RIo Branco, em Canoas. Emocionado, ele contou que precisou abandonar sua casa, levando sua mãe. Ambos estão abrigados em casa de amigos no bairro Petrópolis, também em Novo Hamburgo.

"O que eu puder fazer, vou largar nas mãos de Deus, porque não têm palavras para descrever o que está acontecendo aqui. Estou no mesmo barco que este pessoal. Perdi tudo. Bens materiais buscamos de novo, minha vida está salva, mas eu quero ajudar o próximo, auxiliar quem precisa", disse ele. Outro trabalho que é realizado abaixo dos pilares dos trilhos dos trens é o acolhimento de animais, feito de forma improvisada por voluntários da ONG Campo Bom pra Cachorro, de Campo Bom. No mesmo barco de Delmar, a jovem Leidiane Machado Vieira, que atua na organização, foi conferir a situação de pets que ainda podem estar ilhados, grande parte por abandono.

"Estamos com este ponto de apoio, mas também dando o suporte a veterinários e abrigos que estão reunindo animais perdidos. Fazemos toda uma movimentação pedindo para que as pessoas não deixem os animais para trás, mas parece que, às vezes, não adianta. As pessoas acham que a água não vai subir porque nunca subiu antes. Ficamos muito felizes com todos os resgates, e sabemos que muitos destes animais estavam lutando por suas vidas há três, quatro, dias, desesperados. Muitos deles estão literalmente se jogando para conseguirem ser resgatados", disse ela, também sem esconder a emoção.


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