Estiagem causa recuo do rio Jacuí e afeta moradores de Eldorado do Sul

Estiagem causa recuo do rio Jacuí e afeta moradores de Eldorado do Sul

Embora situação varie conforme o bairro, há prejuízos pela seca em serviços como aulas de canoagem

Felipe Faleiro

Balneário Sans Souci recebe aulas de canoagem, mesmo com baixa no curso do Jacuí

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Eldorado do Sul, na região Metropolitana, tem diversas praias menores onde há frequentadores, principalmente ao final de semana, mesmo algumas áreas impróprias para banho. Moradores dos bairros Vila da Paz, Itaí, Chácara e Cidade Verde costumam registrar enchentes no período do inverno e recuo do rio Jacuí, que passa ao lado do município durante parte do verão. Na atual ocorrência de estiagem, a situação dos moradores e arrozeiros é mista. Enquanto alguns já sentem os efeitos da seca, outros ainda não vivenciaram suas mazelas.

“A água está normal, não estamos tendo grandes problemas com a seca”, afirma o vendedor autônomo José Luís dos Santos Silva, que mora junto à praia do Itaí, e de onde, em linha reta, é possível visualizar o estádio Beira-Rio. À frente do conjunto de casas, algumas folhagens úmidas e uma trilha aberta em meio a elas contam a história de subidas e descidas do rio. Na manhã desta sexta-feira, o Jacuí estava a cerca de dez metros da margem, mas, quando a água se eleva, invade inclusive a rua em frente.

O mesmo ocorre no bairro Sol Nascente, onde há uma estação de captação mantida por uma empresa alimentícia. “Geralmente, o nível da água fica deste jeito no verão mesmo”, conta o aposentado Jorge Alberto Mentz, que vive em uma casa elevada na beira do rio. Seguindo adiante, rumo ao sul, a situação é totalmente diferente no balneário Sans Souci, onde há a Associação de Canoagem, Ecologia e Cultura de Eldorado do Sul (Acecel), conveniada com a Prefeitura, bem como moram de oito a dez pescadores. 

O professor de canoagem Paulo Roberto Gloschke trabalha no local há 35 anos, e sua unidade, uma das três da Acecel, atende 40 alunos dos 18 aos 82 anos. “Quando está muito seco, temos que levar as canoas lá adiante”, conta ele, apontando para um local na água a cerca de 30 metros de distância. Foi o que aconteceu no último dia 24 de dezembro. Coincidentemente, o mesmo dia em que 16 bairros da zona Sul de Porto Alegre, no outro lado do Guaíba, ficaram com torneiras secas após problemas no abastecimento por parte do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). 

A situação foi causada tanto pela falta de chuvas quanto pelos ventos, que empurraram as águas rumo à Lagoa dos Patos. Conforme ele, há pontos em é possível atravessar a área com água até a cintura. O pescador Paulo Edison Berny da Rosa gravou um vídeo, e publicou em suas redes sociais, mostrando jovens alunos da canoagem obrigados a andar no meio de uma larga e profunda faixa de areia, onde deveria ser o encontro entre a foz do Jacuí e o Guaíba. 

Até o dia 1º de fevereiro, é época de piracema, na qual a pesca é proibida. “Mesmo assim, está afetando muito a gente aqui sim”, observa ele. Ainda assim, o Sans Souci é popular destino de lazer, especialmente aos domingos. Procurada, a Administração de Eldorado do Sul afirmou que a Secretaria Municipal de Agricultura (Smag) construiu cisternas com mais de 290 mil litros cada, além de mais de 300 açudes em quatro anos, bem como promoveu a limpeza de canais para melhor circulação de água para irrigação. 

“Atualmente, estamos realizando a contratação emergencial de vários equipamentos para a construção de reservatórios de água”, afirma o titular da Smag, Claudiomiro Piazza. Ainda segundo ele, as frentes desenvolvidas amenizam os efeitos da estiagem. Já a Corsan observou que não há risco para o abastecimento, e que o uso responsável da água pela população, mais o volume de chuvas na região, deverá determinar os próximos desdobramentos.


Correio do Povo
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