Estiagem reduz produção vendida ao consumidor

Estiagem reduz produção vendida ao consumidor

Para alguns produtores, a falta de chuva e o calor intenso recente contribuíram para redução de insumos como milho, soja e ovo

Christian Bueller

Feira Ecológica do Bom Fim, em Porto Alegre

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O Rio Grande do Sul enfrenta a estiagem mais severa em quatro anos, mobilizando o governador Eduardo Leite a formar um comitê permanente de enfrentamento aos impactos da seca no Estado. Até o momento 212 dos 497 municípios gaúchos noticiaram declaração de Situação de Emergência, incluindo Porto Alegre, que protocolou o pedido na última quarta-feira. A falta de água para os animais e abastecimento de pessoas em praticamente todas as regiões já resultam em perdas e baixas em culturas das mais variadas. Os problemas já aparecem nas vendas de alguns produtos aos consumidores finais, incluindo na Capital.

Um exemplo é a Feira Ecológica do Bom Fim, junto ao Parque Farroupilha (Redenção). Alguns produtores já percebem determinadas mudanças por conta da falta de chuva e o calor intenso dos últimos dias. É o caso da família Justin, vinda do município de Itati, no litoral Norte, que mantém uma agroindústria familiar de alimentos orgânicos. “A batata-doce está parada, não desenvolve direito. Temos plantado mas não tem irrigação e dificulta ainda mais. O mesmo acontece com o milho, até tem, mas nada comparado a anos anteriores”, diz a matriarca, Marlene. A produtora reconhece que os custos deveriam resultar em reajustes nos preços, mas a família preferiu não encarecer os produtos. “Nosso foco maior é banana e o feijão, se bem que este último não veio na quantidade esperada”, revela Marlene, que junto do marido Odari, participa há 30 anos da Feira Ecológica.

Odari participou, com outros especialistas, da roda de conversa “Quem planta, colhe”, neste sábado, na Feira, que debateu a relação entre a mudança no clima e a queda na produção. Em torno de 30% da produtividade dos alimentos é explicada pela variação climática. Os outros 70% são explicados por insumos, fertilizantes, genética, práticas agrícolas.

Em falta nas prateleiras de alguns países, o ovo virou foco de atenção no RS, ainda mais se tratando de período de estiagem. Ausência do produto não é o caso no Brasil, mas a estiagem gaúcha impactou a produção. “Deu uma baixada, sim. As galinhas precisam comer cereais para botar os ovos e acabam bebendo mais água e a produção cai bastante”, conta Victor Ardissone, que chega a vender um pouco mais de 400 dúzias em boas safras, mas que reduz para 250 a 300 dúzias na comercialização durante a Feira em tempos atuais. “A base da ração das galinhas é trigo, milho e soja. Fica difícil, mas estou conseguindo manter o valor (R$ 18 a dúzia) a mais de ano”, destaca o vendedor.

Segundo a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), os estabelecimentos, de maneira geral, ainda não tiveram impacto significativo no valor e escassez de produtos por conta da estiagem.


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