Estudo mostra que Porto Alegre é lar de mais de 270 espécies de aves

Estudo mostra que Porto Alegre é lar de mais de 270 espécies de aves

Observadores destas espécies têm na Capital diversos cenários perfeitos para apreciação

Felipe Faleiro

Exemplar de tapicuru, ou maçarico-preto, é visto em árvore no Jardim Botânico de Porto Alegre

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Tanto na paisagem urbana, quanto na rural, Porto Alegre tem inúmeros moradores pequenos, ligeiros, voadores, coloridos e que cantam quase sem parar. As aves da Capital se espalham pelos parques e praças, mas igualmente não é difícil vê-los e ouvi-los em fios, postes ou quase qualquer lugar onde se olhe para cima. Graças ao trabalho de pesquisadores como os membros do Clube de Observadores de Aves de Porto Alegre (COA-POA), está sendo possível mensurar e catalogar as aves que povoam os céus da cidade, convivendo de alguma forma com os seres humanos.

O mais recente levantamento do COA-POA, de agosto de 2020, mostra que há 273 espécies na Capital. Algumas são mais fáceis de serem encontradas, como o biguá (Nannopterum brasilianus), o pombo-doméstico (Columba livia), o sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) e o joão-de-barro (Furnarius rufus). Outros são incomuns, a exemplo do gavião-do-banhado (Circus buffoni), o jacurutu (Bubo virginianus) e a andorinha-morena (Alopochelidon fucata). São considerados raros o gavião-preto (Urubitinga urubitinga) e o pariri (Geotrygon montana), entre outros.

É possível que a variedade seja ainda maior, e sua catalogação é geralmente obra de observadores com binóculos, além de boa dose de astúcia, paciência e curiosidade. Por isso, há alguns locais-chave de Porto Alegre onde os membros do COA-POA recomendam a melhor contemplação das aves, como o Parque Mascarenhas de Moraes, no bairro Humaitá, o Jardim Botânico de Porto Alegre, a orla do Guaíba, no entorno do Anfiteatro Pôr-do-Sol, e a Reserva Ecológica do Lami.


Glayson e Augusto, do COA-POA, observam os exemplares no Jardim Botânico    Foto: Guilherme Almeida

Augusto Pötter tem apenas 16 anos e conhecimento de gente grande. Morador de Porto Alegre e guia em observações, ele conhece como poucos as características de muitos pássaros, bem como seus ecossistemas. “Muitas vezes, na cidade, as pessoas acreditam que não haverá aves nativas, e ver a surpresa das pessoas ao ver o quão rica é a biodiversidade que temos aqui, é sempre muito gratificante”, comenta. 

Seu mentor é o ornitólogo do Museu de Ciências Naturais da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), Glayson Bencke, organizador da lista de aves de Capital. “A atividade de observação é multissensorial e muito rica. Mesmo em ambientes urbanos, elas estão por toda parte. Então, é possível vê-las com bastante frequência, em estações e locais diferentes”, comenta Bencke, que tem 40 anos de ornitologia. 

A ideia de aguçar os sentidos humanos no âmbito da observação é justificada tanto pelo olhar quanto pela audição. Pássaros diferentes têm sons diferentes, e assim como outros animais, seu comportamento diante de outras aves e até o horário do dia influenciam o tipo de canto. Entre diversas classificações possíveis, as aves, segundo a dupla, podem ser generalistas ou especialistas, sendo que as primeiras têm vários alimentos, e as segundas são mais rigorosas na escolha. Na Capital, ambas podem ser encontradas.

O COA-POA também realiza reuniões periódicas, com o objetivo de discutir as atividades da organização e planejar as próximas saídas a campo. Durante um passeio no Jardim Botânico, Glayson e Augusto se surpreenderam com um andorinhão (Chaetura meridionalis) voando a metros do solo. Estas aves, explicam, são migratórias, e ainda não tinham sido visualizadas nesta temporada. “Acho que vimos pela última vez em fevereiro”, comentou o jovem observador.

O Mascarenhas de Moraes, um dos principais parques da zona Norte, é lar de, pelo menos, três espécies de garças: a branca-pequena (Egretta thula), a branca (Ardea alba) e a vaqueira (Bubulcus ibis). Juntas, elas proporcionam um espetáculo de cor e canto, principalmente no final do dia, quando revoam e pousam nos troncos dispostos nas áreas alagadiças. Vê-las a partir da rua Palmira Gobbi, que ladeia o parque, é uma atividade que atrai moradores do entorno com frequência.

Conviver com estas aves é próprio da população de Porto Alegre, e o desafio é atrair ainda mais pessoas à atividade de observação, mesmo dentro da cidade. Não são necessários muitos recursos, bastando alguma disposição conforme a dupla, e plataformas online como o eBird, mantido pela Universidade Cornell, dos Estados Unidos, e a enciclopédia WikiAves, ajudam a impulsionar ainda mais este conhecimento a quem não está acostumado ou quer iniciar na atividade e não conhece as especifidades dos pássaros.

“Observar aves tem um acesso muito fácil, no sentido de que estes sites contribuem para isto”, comenta Pötter. “Hoje, está cientificamente comprovado que o contato com a natureza traz grandes benefícios emocionais. Pelas suas características de visualização, temos uma fonte quase inesgotável de aves possíveis de serem vistas. Este interesse da observação, que começou há muitos anos no Exterior, agora está chegando ao Rio Grande do Sul, e isto é muito bom”, afirma Glayson.


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