Feiras e supermercados sentem impactos da estiagem no Rio Grande do Sul

Feiras e supermercados sentem impactos da estiagem no Rio Grande do Sul

Em alguns casos, como na maçã, quilo ao produtor mais que dobrou de preço em um ano

Felipe Faleiro

Comerciantes da Feira Modelo, no bairro Bom Fim, em Porto Alegre, relatam preocupação

publicidade

As feiras e supermercados de Porto Alegre sentem os efeitos da persistente estiagem. Comerciantes e entidades têm convicção de que a atual escassez de chuva, uma das mais significativas dos últimos anos, e que ocorre pelo quarto ano seguido no Rio Grande do Sul, afeta as vendas de alguma maneira. “Há um pequeno impacto em alguns hortifrútis e laticínios, mas a principal situação é na qualidade de alguns produtos”, afirma o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo.

Nas bancas de rua, a situação não é diferente. Nas manhãs de terça-feiras, a rua General João Telles, no bairro Bom Fim, recebe feirantes, produtores de diversos itens, como frutas, verduras, legumes e folhosas, na tradicional Feira Modelo. No local, os comerciantes têm relatado certa preocupação, ainda que a procura seja intensa por parte de moradores locais em busca de itens frescos. “Em 33 anos que comercializo em feira, nunca vimos as coisas como estão neste momento, especialmente relacionado ao preço”, comenta o produtor Elcio Adriano Boeira Gomes, morador do bairro Aberta dos Morros.

Os principais problemas, segundo ele, estão na maçã, cujo preço do quilo da variedade argentina, que é importada, está praticamente o mesmo da nacional. Outros produtos, como maracujá, pêssego e ameixa também têm registrado valores ligeiramente mais altos. “Acredito que tem muito a ver com a conjuntura toda, ainda que estes itens venham de outros estados e talvez não tenham sido tão afetados pela seca”, comenta. Gomes também vai ao encontro do presidente da Agas, na opinião de que a qualidade dos frutos é prejudicada.

Mais adiante na feira, o comerciante Jorge Pires vive em Viamão, onde mantém uma pequena propriedade de cinco hectares. A maior parte de seu cultivo é de hortaliças. Jorge conta que construiu um açude há cerca de quatro meses, já se preparando para a seca atual, visto que, na anterior, no ano passado, também foi duramente afetado. “Sentimos que o aumento foi de 25% nos preços de uma semana para outra. Os preços tendem a subir nesta época, mas isto que está acontecendo não é normal. Está tudo muito seco”, argumenta.

Os dados corroboram a afirmação dos feirantes. Conforme dados da HF Brasil, integrante do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), a caixa de 18 quilos da maçã gala embalada graúda ao produtor custava R$ 99 em fevereiro de 2022 em Vacaria, valor que aumentou para R$ 149 no mesmo mês deste ano, crescimento de 50%. Já a caixa de 18 quilos da maçã gala miúda ao produtor saltou de R$ 63,50 para R$ 136. Ou seja, mais que dobrou de preço.

Longo afirma que os supermercados gaúchos têm buscado alternativas de fornecedores, buscando driblar as altas. “O setor produtivo também vem qualificando sua produção com estufas, hidroponia e outras tecnologias. O consumidor também ajuda a reduzir este impacto de preços migrando de produtos, reduzindo assim a demanda por alguns itens”, pontua, prevendo, por fim: “O mercado irá se ajustar”.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895