“Foi um pedido de socorro”, diz jovem que escreveu “SOS” em parede de casa em Feliz

“Foi um pedido de socorro”, diz jovem que escreveu “SOS” em parede de casa em Feliz

Joao Vitor Ribeiro Alves e a mãe tiveram de esperar duas horas até que fossem atendidos

Felipe Faleiro

João Vitor e Mãe ao lado do SOS que fez com lama para chamar a atenção dos resgates

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Um jovem morador do bairro Matiel, na cidade de Feliz, no Vale do Caí, teve uma atitude de desespero puro diante da cheia do rio Caí, que atingiu, na manhã de ontem, a marca de 14 metros, o dobro da cota de alerta, e a maior da história do município, mas já havia baixado ao leito, agora alargado.

João Vitor Alves Ribeiro, de 19 anos, condutor de atividades em altura na recém-inaugurada tirolesa Happy Valley, escreveu as letras “SOS”, com lama e o auxílio de um rodo, na parede externa da casa. Ontem pela manhã, a marcação era vista de longe. A água, no local, subiu a cerca de dois metros de altura, superando a altura das portas do único andar da residência.

“Foi um pedido de socorro mesmo. Estava ajudando no trabalho de manhã, lá também teve perdas, depois vim para cá e me deparei com essa situação. Fiz isso na parede para ver se alguém iria ajudar, mas não veio ninguém”, relatou Ribeiro. Quanto mais a água subia, mais aumentava o medo, porém ele e a mãe, a auxiliar de cozinha Mirela Alves, precisaram esperar.

Duas horas depois, a sogra e a namorada vieram. “Conseguimos tirar pouca coisa. O que sobrou é só aquilo lá no cantinho”, disse ele, apontando na sequência para uma porta de madeira que dava para uma série de cômodos, onde havia apenas lodo no piso, um armário e algumas sacolas com itens. O restante estava completamente vazio e repleto de mais lama. Outros materiais estavam sendo levados para um caminhão, que sairia dali em breve. Toda a família auxiliava na mudança hoje pela manhã.

A família vive em uma casa de um pequeno conjunto localizado junto de onde deverá ser construída a nova ponte de passagem sobre o Caí, ao lado da centenária ponte de ferro que leva à área central da cidade. Por medida de precaução, passam nela por enquanto apenas veículos leves, e somente um sentido por vez. Enquanto isso, a família se mudará para outro ponto do município, mais alto e longe do perigo de alagamentos.

“A gente tinha uma casa com dois quartos, sala, cozinha. Perdemos cozinha, guarda-roupa. Estamos desolados. Tinha quatro gatos, perdi um também. Foi algo que nunca pensei na minha vida. Eu olhava na TV e falava: ‘o pessoal que passa por essas coisas, cara, o que passa na cabeça deles?’ Agora a gente vê que o que passa na nossa cabeça é buscar ajuda. É pedir socorro”.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895