Gramado: rachaduras no solo ameaçam casas de moradores

Gramado: rachaduras no solo ameaçam casas de moradores

Ponto mais crítico fica entre os bairros Três Pinheiros e Planalto, junto a um condomínio de casas, área que foi isolada pela Defesa Civil

Angélica Silveira

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As rachaduras que apareceram no solo de Gramado, na serra, principalmente após as chuvas da última sexta-feira e sábado, continuam sendo motivo de preocupação e fazendo com que as pessoas tenham que deixar suas casas. Segundo a Prefeitura, equipes técnicas elaboram relatórios das vistorias realizadas nos últimos dias, e outros grupos de servidores municipais seguem limpando as vias, auxiliando as famílias atingidas e monitorando pontos mais críticos. 

Desde o início desta semana uma equipe de técnicos das Secretarias de Meio Ambiente e do Planejamento Urbano segue vistoriando e elaborando pareceres técnicos sobre as rachaduras que seguem aumentando, segundo moradores. No início desta semana eles tiveram o apoio da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), que deslocou uma equipe técnica de Porto Alegre para prestar suporte na avaliação de pontos considerados críticos pela prefeitura, devido ao risco de deslizamento. Os técnicos da FEPAM estiveram em dois pontos da cidade. 

O mais crítico, na avaliação dos técnicos, fica entre os bairros Três Pinheiros e Planalto, junto a um condomínio de casas, em uma área que foi isolada pela Defesa Civil.  Constatou-se que a partir de novas chuvas, havia risco de movimentação do solo, com chance de novos danos estruturais às casas do condomínio e entorno. Já no Loteamento Orlandi, os danos foram pontuais. A partir da vistoria será produzido um relatório com detalhes do diagnóstico e recomendações ao município. Em nota, a FEPAM antecipa que nos dois casos deve sugerir a realização de estudos técnicos detalhados para avaliação de ações a serem tomadas para mitigar os riscos.

O que dizem os moradores do bairro Três Pinheiros

No bairro Três Pinheiros, onde todas as casas foram interditadas no último domingo devido ao risco de deslizamento. Fissuras estão aparecendo todos os dias em vários pontos da cidade. O afiador de cutelaria, Éder Leandro Rossa, 45 anos, mora no bairro com a esposa e os filhos. A família teve que sair de sua casa na tarde de domingo. Ele conta que ficou, pois não tem associação no bairro e a Brigada Militar, apesar de dar suporte, não tem efetivo suficiente para garantir a segurança das casas. “Nos reunimos para auxiliar na ronda para proteger o patrimônio. Ainda estamos levantando com exatidão, mas são em torno de 110 casas que foram afetadas pela medida”, enumera. Conta que a Defesa Civil também pede este levantamento. 

Rossa sempre morou no bairro e não lembra de situação semelhante. “Em 2002 desceu uma terra, atingiu umas casas, mas nada parecido com essas rachaduras”, observa. Sobre o prédio com estrutura condenada, que fica acima do bairro, ele conta que o espaço foi desapropriado na última sexta. “É o que mais trás peso, pois não tem casa condenada no bairro, o problema é acima e como está instável pode cair em cima do bairro” relata.

O que dizem os moradores do bairro Piratini

Uma outra rua com problemas é a Nelson Dinnebier, no bairro Piratini, onde 23 casas estão interditadas devido a rachaduras e deslizamentos. No sábado, três veículos foram soterrados e tiveram perda total, também está proibida a passagem de veículos pela via.  Uma das casas interditadas é a da Michele Berti Teixeira, de 33 anos. Até o final de semana a auxiliar financeira morava na casa com o marido, o filho de três anos e o enteado, de oito anos. No sábado pela manhã, eles saíram do local para morar provisoriamente com outros familiares. “Até o momento a nossa casa está condenada. Não temos previsão de voltar, pois a cada momento aparecem mais rachaduras. Moro há 17 anos no bairro e pela primeira vez tive que sair assim, tirar tudo rápido, com medo da chuva”, lamenta. Ela contou que há pouco tempo a reforma da residência tinha ficado pronta.

Perto do meio-dia de sábado as autoridades pediram para que saíssem do local e no domingo com sol, conseguiram tirar um pouco dos móveis para não perder tudo para a chuva. “Não fizemos uma mudança normal, quando colocamos nossos pertences em caixas, saímos praticamente correndo com o que era possível. Se ver o estado da casa não tem como voltar. O banheiro veio para frente, com fendas que cabem nos cinco dedos da mão”, compara. Michele diz que a família está desesperada com a situação. “O menor pede para voltar para casa, pois não entende o que está acontecendo. Não temos seguro de imóvel contra desastre natural, mas penso que ao menos temos saúde, então vamos nos recuperar”, garante. Michele afirma que a não ser que seja muito seguro, não pretende voltar para a antiga residência. “Estamos muito desestruturados com tudo que está ocorrendo. Inclusive estou com uma campanha na rede social para tentar juntar dinheiro para se reerguer”, destaca.

O que dizem os moradores de outros bairros

Segundo a Prefeitura, também há uma residência interditada desde sábado junto à antiga Famastil, devido ao risco de deslizamento. Na rua Ladeira da Azaleias, no bairro Planalto, todas as edificações foram interditadas a partir do número 44, sendo uma casa, os condomínios residenciais Ana Carolina e Don Felipe, que foram evacuados devido ao risco de deslizamento. Na rua Alameda das Rosas, no bairro Planalto, duas casas foram interditadas nesta terça-feira. No mesmo dia, cinco casas foram interditadas devido a rachaduras e risco de queda de barreira na Linha Caboclo, na Rua Moreira. A Estrada da Linha Tapera também está totalmente bloqueada devido ao risco de queda de barreiras, assim como a Miguel Tissot, na Várzea Grande.  A estrada na linha 28 precisou ser interditada na altura do Ecoparque Sperry. Aqueles que não conseguiram se abrigar na casa de amigos ou familiares estão no abrigo montado no ginásio da Escola Senador Salgado Filho. Na manhã desta quarta-feira 20 adultos e 11 crianças permaneciam no local.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895