Há dez dias sem água, moradores de Porto Alegre pedem solução do Dmae

Há dez dias sem água, moradores de Porto Alegre pedem solução do Dmae

Habitantes da Quinta do Portal chegaram a bloquear estrada reivindicando restabelecimento do serviço

Felipe Faleiro

Cosme (camisa vermelha) mostra conta de água paga, mas serviço inexistente em sua casa, assim como em seus vizinhos

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Moradores da Quinta do Portal, no bairro Lomba do Pinheiro, zona Leste de Porto Alegre, estão indignados com a falta de abastecimento de água, que, hoje, chegou ao 10º dia, tudo isto em meio à onda de calor que recentemente atingiu duramente a região. Torneiras secas, dizem eles, são inclusive comuns nesta época do ano, porém a atual situação é fruto não apenas de algo recorrente, mas de uma série de infortúnios, os quais o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) não está conseguindo resolver a tempo de evitar a frustração geral.

Não havendo água, os habitantes da área precisam improvisar, e, de alguma forma, seja a falta total ou parcial do serviço, cerca de 6,6 mil pessoas chegaram a ser afetadas. Cansados de buscar uma solução e sem ter mais a quem recorrer, eles protestaram durante todo o dia na segunda-feira, bloqueando três pontos da Estrada Afonso Lourenço Mariante, uma das principais vias por onde passam diariamente os caminhões da coleta seletiva em Porto Alegre.

“Nosso objetivo era parar a coleta de lixo na cidade”, afirmou o aposentado Cosme Ferreira Moreira, que vive na rua Diógenes Sobrosa de Sousa, uma das mais afetadas pelo problema. Sua esposa, Lorena Rodrigues dos Santos, tem diabetes e faz uso de medicamentos controlados, porém o tratamento tem sido prejudicado por conta das falhas. “Da outra vez, ficamos do Natal até o dia 4 de janeiro sem água. Há 25 anos, é normal isto acontecer por aqui todos os anos”, acrescentou ele.

Se os moradores estão sem o serviço desde o último dia 9, o Dmae enviou caminhões-pipa para a região apenas no dia 15, afirmam eles, o que causou certo alívio, contudo não reduziu o sentimento de abandono. “Íamos até a subprefeitura local (região 4, da Lomba do Pinheiro) e disseram que abririam protocolo, porém isto não nos adianta. Queremos uma solução rápida”, afirmou. Para a casa de Cosme, da esposa, enteada e neto, a conta de água com vencimento no último dia 15 veio, com valor a pagar de R$ 108.

A família tem uma caixa d’água de mil litros e recolhe água da chuva em baldes. A indignação não se resume à residência da família, e se estende a outras. A cabeleireira Luciane Mendes vive com o marido, que trabalha como motorista de aplicativo, e dois filhos na mesma rua, e alegou que não consegue trabalhar há uma semana. “Algumas clientes estão me trazendo água para ajudar, porém não está sendo suficiente”, disse ela.

Reunião na tarde de hoje

Em outros locais da área, a água chegou fraca hoje pela manhã, fazendo com que alguns moradores finalmente tomassem banho após mais de uma semana. Hoje à tarde, está marcada uma reunião entre lideranças comunitárias e integrantes do Dmae na sede do órgão, no bairro Moinhos de Vento, para buscar pôr fim à situação incômoda. Procurado, o Dmae disse que o consumo elevado devido às altas temperaturas, a instabilidade no fornecimento de energia elétrica na Estação de Tratamento de Água (ETA) Belém Novo e a redução dos níveis dos reservatórios impactaram o abastecimento de água.

Na manhã de segunda-feira, os caminhões-pipa já haviam distribuído cerca de 503 mil litros de água na Lomba do Pinheiro e bairros São José, Coronel Aparício Borges e Restinga, e o diretor-geral do órgão, Maurício Loss, reforçou que a Prefeitura está em contato com a CEEE Equatorial para buscar um possível ressarcimento pelos danos causados aos equipamentos. Nesta terça-feira, o número de caminhões-pipa já foi ampliado de dez para 16, e a expectativa é chegar a 20 nos próximos dias. O Dmae fez um processo na rede para ampliar a pressão da água nestas áreas afetadas.


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