Impasse histórico segue impedindo avanço de obras da nova ponte do Guaíba

Impasse histórico segue impedindo avanço de obras da nova ponte do Guaíba

Prefeitura e Dnit discutem principalmente responsabilidades sobre realocação de famílias em Porto Alegre

Felipe Faleiro

Estrutura da nova ponte do Guaíba está inacabada e sofre ainda com a falta de limpeza e manutenção.

publicidade

A dona de casa Maria Cristina Telles Dutra mora com o marido, que é reciclador, e três dos quatro filhos no início da rua Dona Teodora, bairro Farrapos, zona Norte de Porto Alegre, quase no local onde deveria terminar a nova ponte do Guaíba, porém hoje é lar de dezenas de famílias. A área em questão sofre com um grave quadro de vulnerabilidade social, com muito lixo espalhado e enchentes recorrentes, enquanto os moradores vivem uma preocupação. “Ouvi falar que querem nos mandar para a Restinga, mas eu não quero ir. Lá não dá nem para entrar ou sair direito, dá medo”, comentou ela.

Maria veio do município de Cachoeira do Sul há cerca de dez anos, em busca de trabalho, com os filhos ainda pequenos. No ano passado, conta ela, um deles faleceu em um acidente de moto na freeway. A angústia dela vem do fato de não saber por quanto tempo a família ficará ali, ou para onde será alocada. Há anos, a novela da ponte, à qual falta a conclusão de quatro alças, se arrasta sem soluções visíveis. No entanto, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a construção está 97% concluída, o mesmo índice de um ano atrás.

“A conclusão das obras da nova ponte, bem como o reassentamento das famílias das vilas Tio Zeca e Areia, necessário para a continuidade da obra, integram projeto do Ministério dos Transportes para concessão”, afirmou o Dnit, em nota, acrescentando que, até o momento, o investimento na nova ponte, inaugurada incompleta em 2020, foi de R$ 770,5 milhões. Em novembro de 2023, o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, disse no Vale do Caí que o governo federal trabalhava em um “plano para atender as famílias”, junto com a Prefeitura.

“Eles (Prefeitura) já têm um plano apresentado e estamos aguardando um retorno deles para que possamos avançar nestas fatias prioritárias. A partir disto, podemos retomar as obras na ponte”, afirmou ele na ocasião. Duas alternativas, acrescentou, estavam em questão: a identificação de uma área para um investimento do programa Minha Casa, Minha Vida, ou a compra assistida, no qual moradores receberiam recursos para a aquisição de um imóvel.

O secretário municipal de Habitação e Regularização Fundiária (Smharf), André Machado, disse que houve reuniões em dezembro com o Dnit, porém deixou claro que há algumas concessões pedidas pelo órgão que a Prefeitura se recusa a cumprir. Especialmente, quem arcará com os custos do suposto reassentamento. Segundo ele, a Administração municipal prefere investir em infraestrutura adequada no próprio local, que, teoricamente, seria a solução mais célere.

“(A obra) é uma responsabilidade do governo federal, e o grande impasse existente é que o governo não sabe como vai fazer a obra. Não vamos nos furtar do que precisamos executar, e precisamos do governo do estado para estes projetos. O assunto das melhorias está diretamente na mão do prefeito, que se mostrou sensível a elas”, comentou Machado. Ele ainda diz acreditar que, ainda em 2024, deve ser batido o martelo do que realmente será feito na região.

O secretário também negou “com veemência” que haverá qualquer realocação de moradores para a Restinga, e disse se tratar de “boatos”. “Isto não passou por qualquer conversa na Prefeitura, pública ou reservadamente”, disse. “Sabemos que a situação destes moradores é complicada, mas o assunto está sendo tratado com as secretarias, como de Serviços Urbanos e o Dmae, que disseram aguardar algum movimento do prefeito neste sentido”.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895