Irregulares, flanelinhas perturbam motoristas e comerciantes no bairro Azenha, em Porto Alegre

Irregulares, flanelinhas perturbam motoristas e comerciantes no bairro Azenha, em Porto Alegre

Guarda Municipal reconhece que depende de denúncias da população para combater problema

Felipe Faleiro

Em dupla, eles muitas vezes intimidam motoristas que buscam estacionar no local

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Moradores e visitantes de Porto Alegre que circulam em automóveis e buscam lugares para estacionar podem se deparar com os indesejáveis flanelinhas, cuja tarefa, em teoria, é auxiliar na busca por vagas, cada vez mais raras pela cidade. Tal atividade, porém, é proibida por lei municipal, embora não pareça, dada a proliferação destes “ajudantes” em diversas ruas e avenidas, especialmente próximos a pontos de comércio, lazer e grande circulação em geral.

Na avenida Azenha, bairro de mesmo nome, há sempre dois, um de cada lado da via, trajando coletes refletivos. Portanto, é fácil identificá-los. Para quem estaciona, torna-se praticamente uma obrigação deixar uma “contribuição espontânea”, geralmente de valor elevado, estipulado por eles próprios, e à revelia das autoridades. A proximidade de shoppings, colégios e postos de saúde faz com que sempre haja quem busque estacionamentos, e, portanto, clientes em potencial.

Enquanto isso, os comerciantes da área têm opiniões mistas, mas geralmente negativas. Morador e proprietário de um pequeno mercado na Azenha há 24 anos, Ivan Macagnan critica os flanelinhas, bem como batedores de carteira que aproveitam a distração dos pedestres para praticar pequenos furtos. “Isto acaba espantando clientes. É terrível. A gente deixa frutas na frente para ajudar os garis que varrem aqui, só que sempre tem alguém que leva. Esses dias, levaram a caixa onde elas ficavam”, conta Macagnan.

Atuando em plena luz do dia e não sofrendo qualquer intimidação, eles se aproveitam da falta de fiscalização do poder público, o que causa prejuízos, temor constante e fuga de moradores. A situação ocorre mesmo com a circulação de viaturas policiais e da Guarda Municipal, responsável por estas abordagens. “Esses dias, um homem acompanhou uma senhora, atravessou a rua com ela, e foi ameaçando, dizendo que se ela não desse dinheiro, ela levaria um tiro. Ela entrou aqui e ele seguiu falando. Está cada vez mais difícil trabalhar”, relatou o comerciante.

Os flanelinhas que atuam na área não são fixos, mas “trabalham” em sistema de revezamento, buscando fugir das abordagens. Enquanto estão atuando, há momentos em que eles vão para o meio da via, praticamente atacando o trânsito, buscando chamar a atenção para as lojas do entorno. Apesar das críticas e da atitude de alguns motoristas em desviar destes incômodos, há quem ache positiva a presença deles sob certos aspectos, já que eles se tornam úteis para realizar pequenos serviços por alguns trocados. “Nunca tive problemas com eles, que acabam auxiliando em uma ou outra mudança”, contou a vendedora Tamara Martins, de outra loja da Azenha.

O motorista de aplicativo aposentado Nilo Augusto, morador do bairro Humaitá, conta que onde mora, próximo da Arena do Grêmio, eles são uma presença habitual, em razão das partidas no estádio, e ele próprio disse já estar acostumado. “Acho que é um trabalho que eles realizam por não terem outra oportunidade”, comentou ele, que, na manhã da última sexta-feira, estacionou na área da Azenha com o auxílio de um guardador autônomo de veículos.

Procurada, a Secretaria Municipal de Segurança Pública (SMSEG) informou que a atuação de flanelinhas representou, no período entre janeiro de 2020, quando entrou em vigor a lei complementar 874, que proíbe a atividade, e março de 2023, o maior contingente entre todos os autos de infração expedidos pela Guarda Municipal de Porto Alegre, com 29% do total, ou 485 de 1.658. As multas somaram R$ 37,7 mil no mesmo período, valor que pode aumentar, conforme a SMSEG, já que 216 autos ainda dependem do julgamento de recursos.

“Efetuamos algumas operações no bairro Azenha, ali próximo de onde há oficinas mecânicas e lojas de produtos automotivos. No entanto, a demanda é grande, e não conseguimos manter uma viatura ali parada 24h. Dependemos da denúncia via telefones 153 e 156. Dadas as limitações de efetivo, não conseguimos estar em todos os locais. As denúncias nos ajudam a mapear os locais com maiores necessidades”, afirmou o comandante da Guarda Municipal da Capital, Marcelo do Nascimento Silva.

Ainda conforme o comandante, o reforço no efetivo da GM, representado pela finalização de um curso de formação de 70 novos agentes, que inicia em 1º de setembro, além do novo concurso anunciado pela Prefeitura para mais 32 guardas efetivos, devem ajudar no policiamento ostensivo e consequente combate ao problema. “Dada a informação trazida, vamos fazer um replanejamento, com mais viaturas e deslocamentos circulando por este local”, prometeu Silva.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895