Leitos pediátricos de hospitais de Porto Alegre operam acima da capacidade

Leitos pediátricos de hospitais de Porto Alegre operam acima da capacidade

Após aumento de casos Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças, governo declarou estado de emergência em saúde pública

Felipe Samuel

Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) operava com o dobro da capacidade

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O aumento de casos Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças obrigou o governo do Estado a declarar estado de emergência em saúde pública em todo Rio Grande do Sul. Como reflexo do crescimento de atendimentos nos serviços da rede de saúde, seis emergências pediátricas de hospitais públicos de Porto Alegre operavam ontem no limite ou acima da capacidade. Entre as causas da elevação pode estar o efeito "rebote" da pandemia. Isso porque as crianças deixaram de frequentar a escola durante o período e não desenvolveram imunidade de infecções virais.

Conforme monitoramento da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), 92 crianças estavam internadas em observação, o equivalente a uma ocupação média de 139,39%. Ao todo, a Capital dispõe de 66 leitos pediátricos hospitalares. Com 20 pacientes internados, a emergência pediátrica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) tinha registrava o dobro da capacidade, com lotação de 222,22%. Outras unidades de saúde também operavam acima do limite, como o Hospital Materno Infantil Presidente Vargas (HMIPV), com 25 pacientes e lotação de 138,89%, e o Hospital da Restinga, com 16 pacientes e 133,33% de ocupação dos leitos pediátricos.

Coordenador da Área Pediátrica do HCPA, o pneumologista Paulo Marostica alerta que a entre as crianças pequenas, permanece o predomínio de casos associados ao Vírus Sincicial Respiratório (VSR), o que mantém o número de novas internações em patamares elevados nesse público. “Essas infecções são mais intensas, apresentam mais sintomas e maior gravida nessa faixa etária. Principalmente no primeiro ano de vida”, observa. Com mais de 40 anos de experiência, Marostica afirma que no inverno normalmente ocorre aumento de casos, mas com a pandemia “mudou um pouco a coisa de figura”.

“Foi uma época em que as crianças ficaram afastadas das escolas, dos colégios, e houve uma demanda menor até 2021. A partir de 2022 e 2023, houve incremento importantíssimo de casos de SRAG. Isso ocorre provavelmente porque elas ficaram isoladas e não desenvolveram imunidade de infecções virais”, explica. Conforme Marostica, esse fenômeno é registrado em outros lugares. “Não é característica somente de Porto Alegre. Há relatos semelhantes de países da Europa e da América do Norte, que demonstraram incremento de pacientes com esse tipo de doença”, destaca.

Para amenizar a sobrecarga da unidade de pediatria, Marostica explica que uma equipe agiliza o fluxo de pacientes. “A gente tem conseguido aumentar o giro de leitos, diminuir o tempo de permanência no hospital e realizar um mutirão com as equipes médicas focadas de tal forma que temos conseguido, sem aumentar leitos e o número de funcionários, alguma melhoria no atendimento em relação ao que poderia ter sido feito”, avalia. “Como hospital público, temos que dar conta de atendimento das crianças que não têm recursos. E aumentar diálogo com as secretarias de saúde municipal e estadual”, completa.


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