Mananciais da região metropolitana apresentam situação de estabilidade neste verão

Mananciais da região metropolitana apresentam situação de estabilidade neste verão

Enquanto isso, comitês se articulam para cobrar retiradas de água do Gravataí e Sinos

Felipe Faleiro

Início do Guaíba, em Porto Alegre, é ponto de lazer de moradores locais

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No final de 2022, os afluentes do Guaíba estavam praticamente secos, e havia uma intensa preocupação quanto à falta de chuvas, prejudicando o abastecimento de água às cidades e lavouras. Um ano depois, a situação é radicalmente diferente. Duas enchentes históricas em Porto Alegre e região nos últimos meses, causadas sob efeito do El Niño, mudaram a relação da população com os rios próximos, e na esteira da permanência do fenômeno, o questionamento é quando a próxima enchente poderá ocorrer.

Tanto o Guaíba, quanto os rios Jacuí e Gravataí, vivem uma situação atual de estabilidade, o que não deverá refletir na disponibilidade de água a estas regiões. O nível médio do principal curso d’água da Capital tem se mantido de 1,20 metro a 1,70 metro. “A expectativa é de um verão tranquilo”, afirma o hidrólogo da Sala de Situação do RS, órgão da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), Pedro Camargo.

Para isto, ele se baseia nos prognósticos da continuidade das chuvas regulares, somadas ao calor já habitual, e em observações da curva de permanência, ou seja, a razão entre o nível em si, a vazão da água e o período de tempo em que determinada medição é aferida. A maioria da população que viu o Guaíba alcançar 3,46 metros no último dia 21 de novembro ainda não era viva na maior de todas as enchentes registradas, 82 anos antes, em 1941.

Assim, houve mudanças na relação de muitos porto-alegrenses com seu principal manancial. No rio Jacuí, as medições também têm se mostrado estáveis, depois das cheias atingirem municípios como Rio Pardo, Cachoeira do Sul, São Jerônimo e Eldorado do Sul. Há alguma preocupação com a proliferação das palometas, piranhas invasoras que atrapalham a pesca, uma das principais atividades econômicas do local, e que já fizeram moradia nos rios locais.

Enquanto isso, no rio Gravataí, não apenas a escassez de água chegou a preocupar neste ano, mas também o excesso de poluição. Em fevereiro, o curso d’água em Cachoeirinha foi tomado pelo lixo, gerando impactos negativos e reabrindo o debate sobre a importância da preservação. A Associação de Preservação da Natureza do Vale do Gravataí (APN-VG), por sua vez, afirma observar a situação do manancial.

A APN-VG relata que “as ações para garantir o abastecimento de água são voltadas, preferencialmente, para o setor financeiro, e não para a população”, citando, como exemplo, os municípios de Gravataí, Alvorada e Cachoeirinha, que vivem um “estresse hídrico permanente”, acrescenta a associação. Na busca de mudar esta realidade, no último dia 12, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí (Comitê Gravatahy), aprovou a metodologia para implantar a cobrança pelo uso dos recursos hídricos do rio, após quase oito meses de discussão.

A cobrança, já instituída por lei estadual de 1997 mas nunca totalmente posta em prática no Rio Grande do Sul, estabelece que os recursos arrecadados em uma bacia devem ser destinados para recuperação dela própria. O mesmo fez o Comitê de Bacia do Rio dos Sinos (Comitesinos) uma semana depois. O avanço da discussão coloca o RS em pé de igualdade com outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Paraíba, que já cobram de quem retira água dos mananciais, conforme os respectivos comitês.


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