Mananciais sofrem com baixos índices de água e comprometem níveis do Guaíba

Mananciais sofrem com baixos índices de água e comprometem níveis do Guaíba

Bacias dos rios Sinos, Gravataí e Caí estão em níveis de alerta, similares à última estiagem, afirma Sala de Situação do RS

Felipe Faleiro

Nível baixo dos afluentes prejudica fluxo para o Guaíba

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Todas as bacias dos rios que desembocam no Guaíba, em Porto Alegre, estão em níveis similares aos do mesmo período do ano passado, quando também havia seca, de acordo com a Sala de Situação do RS, órgão da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) que realiza o monitoramento da situação hidrológica no Rio Grande do Sul. Os problemas se repetem a cada falta generalizada de chuvas, e as notícias não são boas para o futuro próximo quanto aos níveis dos mananciais, já que Sinos, Gravataí e Caí estão em nível hidrológico de alerta.

O mais recente informativo especial da estiagem, divulgada pelo órgão na última segunda-feira, afirma que “há chance de agravamento da situação” no Estado, em razão das poucas chuvas e temperaturas em elevação. “Trabalhamos com essa perspectiva de diminuição de níveis, por conta dos baixos volumes de precipitação previstos”, afirma Pedro Camargo, hidrólogo da Sala de Situação. Porém, segundo ele, o enfraquecimento do fenômeno La Niña deve causar um retorno gradual de chuvas entre janeiro e fevereiro, ocasionando que os rios saiam dos baixos limiares.

No caso do Rio Gravataí, que atende 1,3 milhão de pessoas em nove municípios, a condição é considerada “crítica” desde o último dia 17, mesmo dia em que as captações para irrigação foram suspensas. Hoje pela manhã, o nível na estação de captação da Corsan em Alvorada estava em 1,17m, e de apenas 13 centímetros na captação em Gravataí. No dia anterior, o nível estava em 32 centímetros, ou seja, houve uma queda de 19 centímetros em somente 24 horas. 

Os índices são muito distantes de 1,60m ou 80 centímetros, respectivamente, considerados fora de alerta, e nos quais a coleta de água para todas as atividades é autorizada. Não há uma solução fácil, mas há caminhos possíveis, conforme o presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí (Comitê Gravatahy), Sérgio Cardoso, é uma política de recursos hídricos que contemple, por exemplo, a facilitação da construção de mini barramentos, que podem ser a “salvação do armazenamento de água” em períodos como o atual.

“Temos um projeto pronto desde 2008, no final do governo Sartori. Passaram os quatro anos do governador Leite e avançamos muito pouco. Estas obras já deveriam ter sido executadas. Lamentavelmente, também não houve colaboração por parte da Corsan, ajudando a resolver problemas históricos dentro da região”, afirma ele, que acrescenta: “Esta é uma política de Estado, e não de governo. O governo que se encerra agora no dia 31 não deu apoio aos comitês de bacia hidrográfica. Não há política de água para o Estado do Rio Grande do Sul”.

Neste mês, Cardoso, mais os presidentes dos comitês de gerenciamento do Lago Guaíba, rios Caí e Sinos, estiveram reunidos na Prefeitura de Esteio com o Consórcio Pró-Sinos e representantes de secretarias municipais do Meio Ambiente de cidades integrantes da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal). Na pauta do Fórum Permanente de Bacias Hidrográficas, a instituição de uma Agência de Região Hidrográfica, bem como a cobrança pela captação de água, diretamente nos cursos, demandas que, segundo o comitê, é parte da legislação estadual de águas que não está sendo cumprida. 

“O pagamento faz com que o uso da água seja bem empregado. Ninguém paga pelo que não precisa. Assim, os usuários que retiram água do rio vão solicitar outorga apenas da vazão que realmente necessitam. É uma forma de uso consciente”, analisa a presidente do comitê de gerenciamento do rio dos Sinos, Viviane Machado. Anteriormente, o grupo já havia aprovado a Carta da Granpal, com o pedido de “ações urgentes em prol do sistema hídrico”.

O Sinos, aliás, cuja bacia abrange 1,4 milhão de habitantes em 30 municípios, está em situação levemente melhor, com captações ainda normais. Na manhã desta terça-feira, por exemplo, o nível do local de captação do Serviço Municipal de Água e Esgotos de São Leopoldo (Semae) estava em 1,55m, e da Corsan, em Campo Bom, em 1,59m. A captação é suspensa quando os níveis estiverem em 0,50m ou 1,20, respectivamente, condição considerada de alerta.

No rio Caí, o nível hoje pela manhã na estação de Passo Montenegro, em Montenegro, estava em 49 centímetros, reduzindo em 25 centímetros em relação aos 74cm de 12 horas antes, mas superior à cota mínima de 24cm, nos últimos dias 23 e 24 de dezembro. Por fim, no rio Jacuí, os níveis na terça-feira continuavam oscilantes, marcando 76cm na estação de Triunfo, a mais próxima do Guaíba com marcações disponíveis, também bem acima do mínimo mensal de 33cm registrado pela Agência Nacional de Águas (ANA) no dia 24 deste mês.


Correio do Povo
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