Morador das ilhas de Porto Alegre fala em recomeço após perder muro duas vezes pelas cheias

Morador das ilhas de Porto Alegre fala em recomeço após perder muro duas vezes pelas cheias

José Augusto Souza da Silva mora em trecho até então inacessível da avenida Nossa Senhora da Boa Viagem, na Pintada

Felipe Faleiro

José afirma que, somando as duas grandes cheias, ficou um mês sem energia elétrica

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No Arquipélago, em Porto Alegre, moradores continuam sofrendo com os efeitos da cheia do final de novembro, embora a vazão de água já seja inferior ao dos dias anteriores. A régua do Cais Mauá, no Centro Histórico, cuja responsabilidade é da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), atingiu na manhã desta terça-feira 1,81 metro, praticamente fora da cota de cheia e menos 30 centímetros em relação a segunda-feira. Tal marca é a mais baixa desde o último dia 15 de novembro, quando o nível ainda estava em elevação.

A água baixou também na madrugada de segunda para terça em um dos trechos da avenida Nossa Senhora da Boa Viagem, na Ilha da Pintada, onde o asfalto não era visto há tempos, apesar da presença constante do lodo na via. Ali, o pescador José Augusto Souza da Silva, que vive em uma residência alta às margens do Guaíba, contou que chegou a ficar um mês sem energia elétrica, somando os períodos das cheias de setembro, quando o nível alcançou 3,18 metros, e novembro, com o alcance de 3,46 metros.

O acesso à residência dele somente é feito pelo barro, e ainda com boa dose de paciência, bem como a certeza de que os pés poderão ficar atolados. Na casa, ele mora com a esposa e o filho de três anos. “A água até está baixando agora, mas foi muito difícil na época da enchente. Minha casa já é alta, mas subiu acima das vigas e mais um palmo. O pior foi meu filho ter ficado entediado, sem poder sair, sem luz para colocarmos um videozinho para ele”, comentou Silva, cujo barco foi posto no meio da rua durante dois dias na ocasião da cheia.

Ele conta ainda que, em 2015, morava com a sogra em outro ponto da Pintada, mas logo depois se mudou para o atual endereço. Na busca de reduzir os efeitos da enchente, construiu uma cerca na frente da casa, de costas para o curso d’água, porém o Guaíba a destruiu ainda na cheia de setembro. Depois, o pescador iniciou um muro reforçado, que por sua vez foi destruído na enchente de novembro. Souza não pensa em sair do local, e diz que deverá recomeçar de novo no mesmo lugar, agora construindo um segundo muro nos fundos, na margem do Guaíba, já que sua casa permaneceu relativamente intacta.

A Prefeitura reforçou que a eleição de novos membros para o Conselho Tutelar da Microrregião 1 de Porto Alegre, que inclui as ilhas e com 19 candidatos, ocorre neste domingo, após dois adiamentos em razão das cheias. A nova data foi definida conforme decisão do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). Para votar, o eleitor precisa estar em situação regular com a Justiça Eleitoral e levar documento de identificação com foto. As sessões abrem às 8h30, com previsão de encerramento às 17h, podendo ser prorrogadas em caso de fila.


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