Moradores da zona Leste de Porto Alegre relatam alternativas diante da falta d'água

Moradores da zona Leste de Porto Alegre relatam alternativas diante da falta d'água

A régua de medição do Cais Mauá atingiu, nesta quinta-feira, novo recorde negativo de 2023

Felipe Faleiro

Diante do problema, Jorge Paulo Ávila Nunes recorreu a galões para fornecer água à afilhada Alice

publicidade

Os dias quentes e a estiagem deste verão estão se tornando motivo de preocupação para muitos moradores de Porto Alegre, em razão da sempre presente possibilidade da falta de água. Em diversos locais da Capital, os moradores informam que as torneiras estão secas com relativa frequência, o que faz com que a comunidade destes bairros precise buscar alternativas contra o problema. Nesta quinta-feira, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informou que poderá haver problemas na captação de água bruta e tratamento, caso as condições não estejam favoráveis e o nível do Guaíba siga baixando.

Também hoje, no final da manhã, a régua de medição do Cais Mauá, mantida pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), atingiu outro recorde negativo para o ano de 2023, com o nível em apenas 17 centímetros. A queda nos índices é justificada, entre outros fatores, pela direção dos ventos, que estava no sentido sul na quarta-feira, empurrando o fluxo na direção da Lagoa dos Patos. O diretor-geral do Dmae, Alexandre Garcia, porém, afirmou que não deverá faltar água bruta, mas sim, o processo de tratamento deverá ser “ajustado para garantir a qualidade” na distribuição. 

No Loteamento Quinta do Portal, bairro Lomba do Pinheiro, na zona Leste da Capital, o caminhão-pipa ainda não foi necessário neste ano. A região sofre com problemas crônicos de falta de água, e, em outras épocas, a comunidade inclusive protestou queimando pneus e fechando ruas, em razão das falhas no abastecimento. Na rua Paulo Guilherme Lourenço, uma das poucas famílias com caixa d’água é da auxiliar de saúde bucal Graciele dos Santos, mãe de Alice, 2 anos, e do cunhado de Graciele, o açougueiro Jorge Paulo Ávila Nunes. 

Hoje pela manhã, a menina brincava com um galão vazio de água de 20 litros, enquanto a família, que mora no local há 25 anos, aguardava a chegada de mais um, vindo por um motoboy, e que havia sido comprado pouco antes por R$ 14. “Quando começa a faltar água, o preço sobe, porque dizem que aumenta a demanda”, afirma Graciele, reconhecendo, porém, que a situação já foi pior, com lugares que chegaram a ficar sem o abastecimento do Dmae por até dez dias. 

Até havia água nas torneiras da casa na quinta-feira, porém ela somente é utilizada para regar plantas e outras atividades, mas não para o consumo. Mais adiante, a doméstica Deize Gonçalves Deolindo mora com um filho e o neto em uma residência que não tem reservatório de água. Garrafas pet e bombonas estão dispostas no pátio, algumas cheias, outras vazias. “A gente tem que se virar no momento em que falta. 

O caminhão-pipa fica parado lá em cima e sempre existe uma fila para buscar água dele”, afirma ela, apontando para a parte alta do loteamento. E, quando falta, o jeito é improvisar, inclusive com ela e o filho Jean, que trabalha em uma rede de hotéis na região do Pontal tomando banho de baldes e armazenando nas vasilhas quando necessário. “Até porque ele não pode ir sujo trabalhar, atender as pessoas”, observa Deize, dizendo que faltou água na véspera de Natal, e retornou apenas às 4h do dia seguinte.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895