Moradores das ilhas de Porto Alegre buscam recomeço após enchente deixar ruas

Moradores das ilhas de Porto Alegre buscam recomeço após enchente deixar ruas

Guaíba na Capital atingiu neste começo de semana nível mais baixo em 50 dias

Felipe Faleiro

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A vida nas ilhas de Porto Alegre começa a normalizar gradualmente, depois das enchentes persistentes que causaram transtornos aos moradores por mais de 50 dias. A inundação já não era mais visível nos habituais pontos de alagamentos na manhã desta terça-feira, porém dava lugar à sujeira e ao lodo nas áreas de asfalto e a enormes buracos repletos de água barrenta em vias como a Nossa Senhora Aparecida, a principal da Ilha Grande dos Marinheiros. Os habitantes aproveitavam para limpar suas moradias e as calçadas. 

O vigia Leonir Miguelles era um deles, nos Marinheiros. Antes da enchente, ele conta que a Prefeitura depositou britas em pontos da rua citada, porém grande parte deles havia sido levada pelo avanço do rio Jacuí. Parte do material também estava sendo arrumado por ele na rua. “O maior problema daqui é o lixo. As pessoas acabam depositando por aí e não se importam para onde vai depois. Falta educação para muitos”, afirmou ele.

Miguelles diz também acreditar que parte do problema pode ser atribuído à própria Administração; no entanto, grande parcela de culpa é da população que não tem esta consciência. “A Prefeitura estava aqui arrumando, ainda que tenha coisas a serem feitas. Isso aqui vai ser asfaltado, já tem projeto para isto. Depois da última enchente, essa que só ficou atrás da de 1941, a gente via muita casa, pedaços de madeira, cavalos amarrados em árvores descendo rio abaixo”, conta o morador, cuja residência ficou comprometida, bem como uma plataforma na residência vizinha quase foi levada pelas águas.

Na Ilha da Pintada, o pescador aposentado Darci da Silva Rodrigues aproveitava para limpar a frente de sua casa, na rua Nossa Senhora da Boa Viagem. “Tem muito barro ainda aqui acumulado. Se não limpar, para sair de casa é pior depois”, observou ele. Ali próximo, na sede da Colônia de Pescadores Z-5, segue hoje com a distribuição de 8 mil kits de xampu e condicionador, em um total de 12 paletes, aos moradores em geral do Arquipélago.

A Z-5 ainda está entregando kits de limpeza pesada, como esponjas de aço, sabão em pó, entre outros, aos pescadores cadastrados nas ilhas cujas casas foram danificadas pelas enchentes. Tanto os primeiros quanto os demais itens foram recebidos da Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (SMCEC), por meio de uma articulação com a Central Única das Favelas (Cufa). Segundo o presidente da Z-5, Gilmar da Silva Coelho, a ação foi inédita e será feita enquanto durarem os estoques, que somam sete toneladas. 

Após quase 20 dias, o sistema de monitoramento dos níveis dos rios da Agência Nacional de Águas (ANA) voltou ao ar na última segunda-feira, e, na manhã de hoje, mostrava o Guaíba no Cais Mauá, no Centro Histórico de Porto Alegre, com 1,91 metro, próximo do nível mais baixo desde a madrugada do dia 6 de setembro. Procurada para comentar a respeito dos buracos na via, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) informou, em nota, que a situação é similar à da rua do Pescador, na Ilha das Flores, que gerou protestos dos moradores na BR 116 na noite de segunda.

“Devido às condições climáticas e a via ter ficado alagada com a inundação do rio Jacuí, o patrolamento foi adiado. O serviço foi iniciado na segunda-feira e continuará nos próximos dias”, afirma a nota da SMSUrb. A secretaria prossegue dizendo que, em vias alagadas, tal serviço não é viável, mas que a Prefeitura estuda a viabilidade técnica de utilizar outro tipo de pavimento no local. Observa, contudo, que “esta é uma demanda complexa, pois a rua fica na beira do rio e quando o nível das águas sobe, acaba invadindo o pavimento e prejudicando as condições da via”.


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