Moradores de bairros de Sapucaia do Sul estão há quatro dias sem água da Corsan

Moradores de bairros de Sapucaia do Sul estão há quatro dias sem água da Corsan

Um deles conta que chega a tomar banho no rio dos Sinos enquanto o abastecimento é insuficiente

Felipe Faleiro

Dona de casa Delma Mello mostra as garrafas de água que acumula para driblar o desabastecimento

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O drama de moradores dos bairros São Jorge e Fortuna, em Sapucaia do Sul, na região Metropolitana, se resume em torneiras vazias há quatro dias, ou apenas um fio de água que sai do sistema de abastecimento da Corsan. O problema, de acordo com eles, iniciou em novembro de 2022, e segue, portanto, ao menos há dois meses. As famílias contam que já realizarem diversos protocolos à estatal, mas relatam que são praticamente ignorados.

Enquanto isso, há quem lance mão de alternativas, como se banhar no rio dos Sinos, que passa ali próximo. É o caso de Otávio Rogério Camargo, 62 anos, que diariamente caminha cerca de 300 metros rumo às águas sinuosas que dão nome ao curso d'água. Munido de uma toalha e certa dose de coragem, o aposentado passa por uma trilha ladeada por um mato atualmente seco pela estiagem, e repleto de lixo em seu entorno, depositado ali pelos carroceiros locais. A área que margeia o Sinos é de vulnerabilidade social.

“Já sei onde pisar. Se eu for mais ali para o fundo, posso cair”, afirma ele, enquanto molha o tronco e braços com a água que é qualquer coisa, menos limpa. “O negócio é não ficar sujo”, comenta. De volta à casa, Rogério, como é conhecido, mora com a esposa, a dona de casa Delma Mello, 58, e uma das filhas do casal, Diessika Camargo, 28, formada em Jornalismo, mas que atua como professora de séries iniciais. 

Na casa na rua Santo Ângelo, bairro São Jorge, Delma mantém pelo menos 15 garrafões espalhados pela cozinha, além de um balde, este último usado quando a água aparece na torneira, mesmo fraca. Na manhã desta terça-feira, o reservatório estava sobre a pia, cheio e pronto para uso na cozinha. “Já tivemos uma máquina de lavar queimada, e para tomar banho, somente no frio, já que na temperatura quente vai queimar também”, afirma ela. A família tem um sítio em Capela de Santana, onde há poço artesiano. O local serve tanto como escape do calor quanto reduto de água fresca.

Neste mês, a conta de água veio com um valor total de R$ 159,34, dos quais apenas R$ 55,99 se referem ao consumo, e o restante é o somatório de três taxas. “Pagamos as contas todas certinhas, inclusive tenho elas guardadas. Têm dias em que a água cheira a peixe”, observa Delma, reafirmando que, quando vem, ela tem gosto, cheiro e às vezes, aspecto leitoso. No grupo do WhatsApp da rua, os relatos de protocolos se acumulam, às vezes por cinco famílias diferentes. “Aqui ao lado tem uma senhora cuja mãe está doente, e não tem água na torneira”, conta Delma.

A provável causa do problema, afirmam os moradores, é um vazamento na rua, adiante cerca de 50 metros, mas que cria um acúmulo na mesma há vários meses. Para driblar a falta d’água, Rogério disse que logo vai instalar um poço, ao que foi contrariado pela estatal de abastecimento. “É o jeito que temos”, pontua. Procurada para comentar a questão, a Corsan disse que, em novembro de 2022, houve um rompimento na rede de 150 milímetros, e, após o conserto da rede, foi identificada pressão da água na rede que abastece a partir da rua Hugo Gerdau seguindo pela Borges de Medeiros em direção às ruas Canoas, Santo Ângelo e Pirelli Sul. 

A companhia, então, retornou ao local e fez novo trabalho. No último final de semana, a Corsan disse que recebeu novas reclamações de falta de pressão no bairro e está realizando cortes na rede para efetuar expurgos na tentativa de normalização do abastecimento, o que deverá ocorrer até o final da tarde de hoje. A empresa está atuando no local com equipes de manutenção e apoio.


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