Moradores narram horror da explosão em prédio no Rubem Berta e drama por lares destruídos em Porto Alegre

Moradores narram horror da explosão em prédio no Rubem Berta e drama por lares destruídos em Porto Alegre

Condôminos lamentam sonho da casa própria ruindo, alguns poucos meses após comprar apartamento

Vitória Fagundes

Família Venezuelana de prédio que sofreu explosão

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A madrugada desta quinta-feira transformou o ano que recém começa para os moradores de um condomínio do bairro Rubem Berta, na zona Norte de Porto Alegre. A explosão que atingiu uma das torres de edifício deixou nove feridos, mas também obrigou diversas famílias a deixarem seus lares. Para algumas, o sonho recente de ter a casa própria.

Sem ter para onde ir, uma das moradoras do bloco 10, Alba Rosa Cabello, vivenciou momentos de pânico. Ela passou a noite junto da família e de outros moradores no salão de festas do condomínio. “Por volta das 23h30 sentimos um cheiro muito forte de gás e o cheiro ficou no prédio inteiro. Depois, escutamos um escape de gás tremendo, que soava como uma panela de pressão. Meu genro começou a bater nas portas de todo mundo para saírem. Foi questão de segundos e o prédio explodiu. Foi horrível”, conta.

Alba precisou pegar o básico, e sair a tempo de não ser atingida pela explosão. A filha dela teve o apartamento destruído. “O apartamento da minha filha ficou todo queimado com a explosão de cima do terceiro andar”, lamenta.

O condomínio tinha pouco menos de sete meses desde sua inauguração. Emocionada, Alba relembra como foi a conquista da casa própria. Ela é venezuelana e mora há seis anos no Brasil. O sonho dela e da família era de comprar uma casa para a família poder viver com tranquilidade. “Íamos completar cinco meses de compra do apartamento. Com muito sacrifício minha família juntou o dinheiro para comprar o apartamento. Agora, o sonho se tornou um pesadelo. Perdemos tudo. A gente luta como pode, nesse momento. Não temos abrigo, não temos nada”, descreve, emocionada. Alba não pretende voltar a morar no condomínio depois da explosão. “Aqui se tornou um pesadelo. Início de ano de 2024, onde brindamos o melhor para todo mundo. Olha o que aconteceu.”

O genro e a filha de Alba, Carlos Alberto Guzman e a Dhary Placencio, contaram que enfrentaram inúmeros desafios para conseguir a moradia. “O processo foi bem difícil. Minha esposa fez um esforço grande também, entre nós, para conseguir comprar o apartamento. E a gente fez o esforço para poder pagar as parcelas, pegar as chaves. Depois que pegamos as chaves, estar aqui uns 5 ou 4 meses...”, desabafa Guzman.

Ele é morador do segundo andar, seu apartamento ficou destruído. “Eu estava com insônia na noite da explosão. Eu sentia um cheiro forte de gás. Fechei as janelas do apartamento, mas o cheiro estava ainda muito forte. Foi então que desci, comecei a gritar para mandar todo mundo sair, bati porta, tirei minha sogra, minha cunhada. Não passaram três segundos que explodiu tudo. Joguei minha esposa à frente para ela não ser atingida. Quando vi, meu apartamento estava destruído. Tirei a minha filha carregada, porque ela tinha uma ferida de vidro no pé. Foi horrível, se eu não acordasse o pessoal, a gente teria morrido”, relembra.

A moradora do bloco 12 Yenmar Elena Ramírez Marquez se viu impotente ao ver a casa destruída. Ela havia conquistado a compra da casa em agosto do ano passado. Yenmar foi acordada pelos gritos da filha no momento da explosão. “Quando acordei, eu vi que tudo estava pegando fogo, o apartamento cheio de vidro, foi horrível. A gente não tinha como caminhar por nenhuma parte, todas as janelas quebradas. As paredes estão todas furadas, como se fossem tiros”, descreve. “A pressão foi tão forte da explosão que os vidros cravaram na parede. Minha filha estava na janela e, nesse mesmo momento, ela foi ao banheiro, um segundo depois, entrou no banheiro e explodiu. Minha filha estava na janela e isso aconteceu muito forte. Mas graças a Deus, todos estamos bem. A casa está toda destruída. Porque a explosão foi justo na frente da janela do apartamento”, detalha.

A explosão

Defesa Civil liberou, na noite desta quinta-feira (4) o acesso de alguns blocos. | Foto: Mauro Schaefer

Segundo o Corpo de Bombeiros Militar, a corporação foi acionada para atender o vazamento de GLP (gás liquefeito de petróleo). A ocorrência acabou evoluindo para uma explosão que derrubou parte da parede da residência atingida. O acidente deixou cerca de nove pessoas feridas.

Na parte da manhã, a Defesa Civil interditou as 22 torres do condomínio. Por volta das 20h30, a Defesa Civil liberou o acesso dos moradores das demais torres, com exceção das torres 9 e 10, que correm risco iminente de desabamento. Segundo o coordenador adjunto da Defesa Civil de Porto Alegre, Evandro Lucas, a Defesa Civil esteve no local durante o dia para fazer a inspeção em todos os apartamentos e prédios dos respectivos blocos do condomínio.

“Hoje foi concluído a vistoria, o IGP esteve pela manhã com uma equipe, a tarde com outra equipe, então o princípio agora é só esperar as análises. A empresa contratada pelo condomínio vai fazer a vistoria daqui a 24 horas. Fizemos a vistoria, se tinha alguma rachadura, tinha muitas janelas quebradas, então começamos a quebrar os vidros que sobraram, porque tinha risco de corte, ou de cair lá de cima e machucar alguém aqui embaixo.” Segundo ele, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros realizaram a interdição de acessos do condomínio para algumas torres, om risco que algum vidro que não foi possível retirar na inspeção possa cair.

Segundo informações de moradores, os condôminos dos blocos 9 e 10 buscam alternativas de abrigo em casa de parentes, ou no salão do condomínio, onde estão sendo ofertadas marmitas prontas e doação de roupas e mantimentos.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895