Movimento Salve o Harmonia discute ações nos parques de Porto Alegre

Movimento Salve o Harmonia discute ações nos parques de Porto Alegre

Coletivo é formado por mais de 70 entidades. Os integrantes pretendem aumentar as ações para evitar os impactos ambientais

Paula Maia

Um dos pontos discutidos na reunião foi a forma como as árvores foram retiradas do Parque Harmonia e os danos causadas na vegetação que restou no local

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Em uma reunião realizada na noite desta quarta-feira, os participantes de diversas áreas comprometidas com a preservação ambiental se uniram para coordenar as próximas ações contra as intervenções que estão sendo realizadas no Parque Harmonia. Entre os colaboradores estão professores, advogados, membros do Greenpeace, de entidades não governamentais, representantes de espaços culturais, militantes de partidos políticos, representantes de associações de bairro, entre outros. Todos estão dedicados a fortalecer os esforços em defesa do meio ambiente. De acordo com os integrantes, o Movimento Salve o Harmonia surgiu de forma natural há dois meses. Hoje está constituído por mais de 70 entidades. Nasceu com o objetivo de contestar a forma como as obras estão sendo realizadas no Parque Harmonia. 

Durante a reunião, o advogado Felisberto Seabra Luisi, que é conselheiro do Plano Diretor de Porto Alegre, enfatizou a importância do encontro, destacou a relevância da articulação do grupo e da necessidade de conscientizar a sociedade sobre “a devastação que está ocorrendo em Porto Alegre”. Ele expressou que a motivação para a reunião era a necessidade de elaborar estratégias para enfrentar a situação no Parque Harmonia, devido à suspensão da liminar que proibia a execução das obras. “Perdemos uma batalha, mas a guerra continua. Porque preservar é um ato de coragem e de importância para a região e para a cidade como um todo”, considerou. Quanto ao replantio das árvores proposto pela empresa GAM3 Parks, responsável pela obra, Luisi expressou ceticismo, acreditando que o estrago já está feito e que a houve uma falta de cuidado na análise da situação, o que mostra uma visão parcial das autoridades envolvidas. Ele também apontou a ausência de fiscalização adequada por parte da secretaria do meio ambiente. “É importante conscientizar a sociedade porque não é uma luta para nós é para o futuro da cidade o futuro dos nossos filhos e netos”, declarou o advogado.

O biólogo Paulo Brack é membro do Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (InGá) e enfatizou as questões de licenciamento ambiental e a importância do monitoramento da fauna e das áreas de preservação permanente da Orla do Guaíba. Ele também relembrou o histórico do parque, referindo-se a um movimento em 1994 que buscava avaliação de impacto ambiental e licenciamento para transformar o Parque Harmonia em um espaço de eventos. Um projeto que não teve andamento.

Brack expressou preocupações quanto à proporção de árvores que seriam removidas e a forma como as transformações na paisagem natural da capital estão ocorrendo. “Por mais que a empresa diga que não vai cortar mais árvores, foi um número elevado e isso não pode ser repetido nos demais parques.” Queremos discutir com outros grupos o futuro não só do Harmonia, mas dos demais parques de Porto Alegre. Esse modelo é muito predatório de ocupação, que retira árvores, retira verde e cria muitos prédios e desvia a finalidade de nossos parques, que deveria ser mais a contemplação com a natureza do que simplesmente você fazer megaeventos ou colocar estacionamentos ou estruturas que não são compatíveis com as nossas áreas verdes”, concluiu.

Brack ainda ressaltou que embora houvesse argumentos jurídicos para a necessidade de avaliações mais rigorosas, as modificações foram realizadas sem o devido acompanhamento o que acabou prejudicando a qualidade de vida de muitas árvores. O biólogo afirmou que o Ministério Público já foi acionado sobre o método usado e que é cabível de multa a forma como foi realizada a intervenção no Harmonia. “Vimos muitas árvores com ferimentos por causa das máquinas. A planta vai ficar mais vulnerável a doenças. Até o aterramento na base das árvores pode trazer prejuízos a médio e longo prazo. A planta pode vir a morrer. Isso é uma sinalização de que a empresa não teve a mínima preocupação. Desmente o discurso de que estão fazendo as obras corretamente”, explicou.

O administrador Paulo Renato Menezes, secretário-geral da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), enfatizou a importância de preservar áreas naturais para benefício da população, principalmente em meio à crise climática global. Ele lamentou a falta de cuidado com a preservação da natureza, especialmente em tempos de emergência climática, e criticou a transformação de áreas verdes em espaços de entretenimento, como a proposta de colocar uma roda-gigante no Parque Harmonia.

Além do destaque com a perda de arborização em Porto Alegre ao longo dos anos, o administrador considerou que a reclamação da poluição sonora resultada das apresentações musicais realizadas em espaços da Orla têm se avolumado. “Várias vezes eles fecham o espaço e colocam shows muito ruidosos que têm trazido reclamações nos moradores, principalmente no Centro e na Cidade Baixa. Mas o show é aqui no Harmonia e também ecoa lá no bairro Rio Branco”, afirmou.

Uma nova reunião ficou agendada para o próximo dia 16. Os integrantes ainda afirmaram que a ação popular que segue na Justiça, para paralisar as obras no Parque Harmonia, pode ter desdobramentos frente a novos fatos que estão surgindo, como por exemplo a falta de um estudo de impacto de ruído, que não consta no projeto. Uma caminhada para protestar sobre a transformação dos espaços públicos também está prevista para ocorrer em breve.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895