Municípios se mobilizam diante da queda de níveis dos mananciais da região Metropolitana

Municípios se mobilizam diante da queda de níveis dos mananciais da região Metropolitana

Autoridades temem previsão de piora da estiagem e estão contabilizando prejuízos

Felipe Faleiro

No Guaíba, em Porto Alegre, bancos de areia e lixo continuam aparecendo com a seca

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O nível de água dos principais mananciais da região Metropolitana de Porto Alegre continua crítico, como efeito da estiagem persistente no Rio Grande do Sul. O Guaíba, além dos rios Gravataí, Jacuí e Sinos, seguem sofrendo duramente com o baixíssimo fluxo de água, ocasionando prejuízos a milhões de moradores locais e preocupando os serviços de abastecimento em geral. As réguas de medição continuam registrando níveis cada vez menores, demandando a busca de alternativas nem sempre seguras para obtenção de água.

No caso do Gravataí, cuja régua no Balneário Passo das Canoas, no município de Gravataí, registra marcas descendentes a cada hora, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema) divulgou, nesta semana, um balanço parcial de atividades realizadas em sua bacia. De acordo com o órgão, dez incursões já foram feitas na região desde o último dia 16 de dezembro, com apoio da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e Comando Ambiental da Brigada Militar (CABM).

Uma fazenda arrozeira no distrito de Águas Claras, em Viamão, está sendo investigada por obstrução de recurso hídrico. Conforme a Sema, havia no local uma barragem que impedia o fluxo de água para um canal que direciona ao rio, que foi desbloqueada. A ação integrada teve apoio de órgãos da Prefeitura de Gravataí e a propriedade foi notificada administrativamente. Caso a irregularidade persista, poderá haver pagamento de multa e cassação de licenças ambientais. 

“Desde este período de dezembro, as captações estão suspensas na calha do rio Gravataí no trecho crítico para o abastecimento da Corsan, em Gravataí e Alvorada”, explica o diretor de Gestão de Recursos Hídricos e Saneamento da Sema, Luciano Cardone. Ainda de acordo com ele, também já foram identificados na região “pontos de maior relevância e interesse para fins de fiscalização”. Nas cidades da região Metropolitana, a situação é igualmente preocupante.

Em Gravataí, a régua na Estação de Tratamento de Água (ETA) da Corsan em Gravataí marcou novamente dois centímetros na quinta-feira, e 58 centímetros no mesmo local em Alvorada, este, o mais baixo registro do ano de 2023 até o momento, e ambos muito abaixo do ponto em que a captação é automaticamente suspensa aos produtores rurais locais. Os dados são do Boletim de Estiagem da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí.

Já no rio dos Sinos, existe cautela. Na manhã desta sexta-feira, a régua da Agência Nacional de Águas (ANA) marcava 56 centímetros, caindo cerca de um centímetro por hora. No município de Novo Hamburgo, onde níveis abaixo de 2 metros são considerados críticos para estiagem, a medição da Companhia Municipal de Saneamento (Comusa) no bairro Lomba Grande marcava, na sexta-feira, 2,18 metros, também com tendência de queda. Tanto o órgão hamburguense quanto o Serviço Municipal de Água e Esgotos de São Leopoldo (Semae) estão com campanhas em andamento para evitar o desperdício de água.

O Guaíba, na Capital, estava na manhã da sexta-feira com 42 centímetros na régua do Cais Mauá, na região do Centro Histórico. Porém, em que pese esta queda, que inclusive ocasiona o aparecimento de lixo e bancos de areia cada vez maiores junto às águas, especialmente na área do Anfiteatro Pôr do Sol, o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) segue afirmando que o abastecimento está normal aos porto-alegrenses, mas pede prudência e reforça os pedidos para economia de água. O órgão argumenta que investiu R$ 25 milhões para prevenir interrupções no abastecimento durante o verão.

Em Eldorado do Sul, a Secretaria Municipal de Agricultura já solicitou a decretação de estado de emergência pela estiagem, e aguarda laudo técnico da Emater para dar seguimento ao pedido. Em uma reunião nesta semana, a Prefeitura relatou que a produção agrícola vem sofrendo perdas e há falta de água para o consumo humano e animal. Pequenos agricultores do município não vêm conseguindo quitar dívidas adquiridas em 2022 junto ao programa estadual Troca-Troca de Sementes, bem como financiamento municipal, porque as lavouras foram destruídas pela seca.

Em Nova Santa Rita, o baixo nível de água traz o risco de mortandade de peixes, avalia a Secretaria Municipal de Agricultura. Também está faltando água para irrigar as lavouras de olerícolas, além do risco de focos de queimada e incêndios. O secretário de Agricultura, Emerson Giacomelli, confirma que o decreto de situação de emergência será expedido na próxima semana. “Já temos todos os laudos da Emater e Assistência Social. Não podemos ainda estimar as perdas, mas estão na casa dos milhões de reais. Nossa maior preocupação é que não há previsão de chuvas”, diz ele.

A silagem também está sendo afetada. Ainda segundo Giacomelli, a Prefeitura construiu reservatórios de água potável, assim como contratou máquinas para melhorar a irrigação de arroz. “Mesmo assim, é inegável que o sofrimento das famílias é gigantesco. Além das perdas, a falta da precipitação vai se estender por vários dias”, comenta ele, reforçando que já houve duas reuniões com a Defesa Civil estadual, a fim de alinhar a situação do município.

A Corsan, que atende diversos destes municípios do entorno de Porto Alegre, está com algumas ações em andamento para diminuir os efeitos da estiagem. Na bacia do Gravataí, onde mais de 750 mil pessoas são atendidas em Gravataí, Alvorada e Viamão, a companhia afirma, por exemplo, que está em fase de formalização com o órgão ambiental para uma proposta de desassoreamento de canais para melhorar o escoamento da água do Banhado dos Pachecos em Águas Claras.

Também mantém um estudo para aquisição de açudes e barragens particulares com boa disponibilidade e qualidade hídricas, além da microbarragem para elevação do nível do curso d’água. Esta, porém, de acordo com os moradores locais, surtiu poucos efeitos até o momento. Já de acordo com a MetSul Meteorologia, as perspectivas são de que o calor deve permanecer no Rio Grande do Sul. 

Poderá chover na maioria das localidades neste final de semana, mas o alívio será apenas localizado para a estiagem. Na semana que vem, a situação não muda e o calor pode até se agravar. Para mais adiante, no entanto, a MetSul já havia feito o prognóstico de que o cenário deve se inverter, em razão do fenômeno El Niño no Oceano Pacífico, e que poderá trazer inclusive chuvas excessivas entre o outono e o inverno deste ano.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895