"Não quero sair da minha casa", diz moradora do Beco da Morte, em Porto Alegre

"Não quero sair da minha casa", diz moradora do Beco da Morte, em Porto Alegre

A área é marcada como de alto risco pela Defesa Civil da Capital

Paula Maia

Ieda enfatizou que comprou a casa com suas economias. Por mais que goste do local, ela reconhece o perigo iminente na área, com apenas uma única rota de entrada e saída e casas que parecem à beira do colapso

publicidade

Água correndo entre as pedras, descendo pelo morro, é o cenário do entorno da casa de Ieda Vitafori, de 59 anos, no morro Santana. Ela e mais seis pessoas dividem uma casa no Beco da Morte que tem apenas um acesso, de poucos metros de largura, para entrada e saída do local. As recentes chuvas que castigam Porto Alegre lançaram novamente uma sombra sobre as casas do Beco. Uma área marcada como de alto risco pela Defesa Civil da Capital.

No entanto, Ieda, embora esteja ciente dos perigos que a cercam, permanece inabalável em sua decisão de não abandonar seu lar em busca de um refúgio sugerido pela Prefeitura.

Os vizinhos de ambos lados já foram para casa de parentes. Ieda afirma que não tem outro lugar para ir e tem que continuar trabalhado. Ela cuida de três crianças em uma casa que fica acima da sua, que também está na área de alto risco.

Ieda contou que depois de muito tempo sem alguém da Prefeitura ir até a sua residência, esse ano ela aceitou sair de casa e ir para um abrigo, devido os eventos climáticos de julho, mas não teve uma boa experiência. Ela contou que saiu do abrigo, foi para um albergue e depois de um dia acabou voltando para casa. Mesmo tendo a consciência que o local é de alto risco, ela afirma que prefere ficar em casa. "Não quero sair da minha casa", declarou.  

“Foi esse ano, porque da outra vez que deu a água, choveu, nunca apareceu alguém. Esse ano já apareceu duas vezes. Nunca tinha vindo ninguém aqui antes. Separaram a nossa família. Ficou cada um num canto. Deram rancho, mas não tínhamos como cozinhar. Eu não tinha levado panela”, contou.

Ieda enfatizou que comprou a casa com suas economias. Por mais que goste do local, ela reconhece o perigo iminente na área, com apenas uma única rota de entrada e saída e casas que parecem à beira do colapso. “Aquela casa ali de cima pode cair a qualquer momento. Não adianta nada colocar essas faixas, as pessoas continuam passando", afirmou Ieda.

Por causa do risco iminente ela expressou disposição de mudar para outro lugar, mas com uma garantia de que a alternativa seja "melhor". “De conversa eu já tô cheia. Uns dizem que vão nos colocar lá na Restinga. Depois não aparecem. Tem que ter palavra. Depois que acaba a chuva ninguém mais vem aqui”, garantiu.

A Defesa Civil informou que esteve no local nesta quinta-feira pela manhã e que “as cinco famílias foram notificadas e orientadas a desocupar o local visto o risco iminente de deslizamento”. A Fundação de Assistência Social e Cidadania também esteve no local conversando com os moradores e está organizando o acolhimento das famílias que aceitam sair do local.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895