Nível de coleta do Aedes aegypti em Porto Alegre acende alerta à população

Nível de coleta do Aedes aegypti em Porto Alegre acende alerta à população

Vigilância em Saúde afirma que não foram confirmados casos de dengue em 2023 na Capital, mas eles devem ocorrer já em janeiro

Felipe Faleiro

Mosquitos coletados em casa na Vila Maria da Conceição, e descobertos nesta terça pelos agentes de controle de endemias

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Não havia, até o início da tarde desta terça-feira, casos confirmados de dengue neste ano em Porto Alegre, de acordo com a Diretoria de Vigilância em Saúde (DVS), vinculada à Secretaria Municipal de Saúde (SMS). No entanto, a Prefeitura registrava três notificações, uma no Centro Histórico, outra no Extremo Sul e mais uma na região Nordeste da cidade. A atual época do verão, somada à sequência de dias de calor excepcional e à falta persistente de chuvas na Capital, mantém aceso o alerta para a infestação do Aedes aegypti. 

No ano passado, quando houve extrema proliferação, a cidade teve 7.320 notificações, 4.607 confirmações e quatro mortes. Porto Alegre realiza semanalmente o monitoramento de 910 armadilhas, espalhadas em 46 bairros, e instaladas por uma empresa terceirizada. Na primeira semana de 2023, ao menos duas delas, uma na Vila Maria da Conceição, bairro Partenon, e outra no Santo Antônio, detectaram cada uma seis insetos causadores da dengue, conforme dados divulgados na plataforma pública “Onde Está o Aedes?”, mantida pela Prefeitura.
 
Ainda hoje, oito agentes de endemias estiveram na Conceição para visitar as casas em um raio de 300 metros e verificar como os moradores agem para combater o mosquito. Porto Alegre tem 80 destes servidores. Edson Ricardo Fredes Julio e Ermelindo da Silva Lopes estiveram na residência da professora Maria Salete Anibaleto, e do filho dela, o também professor Gilberto Miranda da Silva Júnior, na rua Paulino Azurenha, onde está instalado um dos pequenos objetos plásticos que atraem a fêmea do Aedes aegypti e a deixam presa no local. 

“Sempre procuramos nos cuidar. Felizmente, não contraímos a dengue”, comenta Maria Salete, informando que ela própria coleta alguns exemplares eventualmente e guarda eles em um potinho. Caso haja a detecção do mosquito, ele é enviado ao laboratório para verificar se está ou não com o vírus da dengue. Não muito longe dali, a área considerada crítica do bairro Santo Antônio está entre as ruas Padre Antônio Vieira e São Francisco de Assis, em uma região com muitos terrenos baldios, afirmam os moradores, além de lixo acumulado.

De acordo com eles, algumas pessoas tiveram dengue recentemente, e ao menos uma delas chegou a ficar hospitalizada. Porém, todos se recuperaram. O aposentado Gervásio Silvestre, que mora na Padre Antônio Vieira há 24 anos, afirma que faz sua parte. “Não procuro deixar água parada, e de qualquer forma, está tudo seco mesmo”, comenta ele, que está com uma obra na de sua casa. Ali próximo, há uma antena de telefonia celular, cujo terreno apresentava grama alta, já que a manutenção é feita somente uma vez a cada quatro meses, e havia algumas garrafas no chão. 

Nos vizinhos, há uma piscina e pneus dispostos em pátios, eventuais vetores para o mosquito. Na São Francisco de Assis, rua paralela à anterior, o recolhimento do lixo orgânico ocorre três vezes na semana, e o lixo seco é recolhido bissemanalmente. A aposentada Solange Mendes vive ali há 21 anos. Ela diz que também procura não deixar itens ou lixo espalhados em seu pátio, mas reclama que há descaso com a sujeira na frente de um terreno próximo. “Acho que existe um pouco de preguiça do pessoal daqui de chamar o caminhão. Tem certo desrespeito com a situação”, comenta.

No último dia 4, a DVS emitiu alerta aos profissionais de saúde para o atendimento a suspeita de arboviroses, como dengue, zika, chikungunya, especialmente quanto aos sintomas compatíveis, a exemplo de manchas vermelhas no corpo, dor de cabeça, dores musculares ou nas articulações, dor atrás dos olhos, náuseas e vômitos. Caso haja algum destes sinais, é preciso buscar atendimento clínico ou encaminhamento a um serviço de saúde para avaliação. Ao retornar de viagens, também há a recomendação de eliminar focos de água parada.

O diretor da DVS, Fernando Ritter, prevê que as primeiras confirmações deste ano na Capital podem ocorrer ainda em janeiro, muito antes do que em outros anos, quando os casos iniciavam por volta de março ou abril. A exceção à regra foi mesmo em 2022, quando eles começaram em profusão em fevereiro. “O ano passado, sem dúvida, foi o pior momento da dengue da história de Porto Alegre. Houve casos na região do Extremo Sul, como Cruzeiro, Restinga, Lami, locais onde normalmente não havia. Realmente, estamos preocupados”, observa.

De acordo com ele, é preciso que a população pratique a conscientização de forma individual. “Pedimos muito apoio da comunidade. Sabemos que não existe melhor ação do que a prevenção. E ela decorre de, primeiramente, eliminar água parada, especialmente nos pequenos recipientes, potes de plantas, reservatórios de alimentos para os cães e ralos Estamos em um período quente, propício para o desenvolvimento da larva. Basta uma distração termos um foco e contaminar um número grande de pessoas”, diz Ritter.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895