Nascidos em 1993 participam de novo ciclo de exames em Pelotas

Nascidos em 1993 participam de novo ciclo de exames em Pelotas

A pesquisa investiga causas precoces de doenças crônicas não transmissíveis do nascimento aos 30 anos

Angélica Silveira

A nutricionista Caroline Nickel realizou os exames e destacou que a pesquisa é de extrema importância para a saúde da população brasileira

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O grupo de pessoas nascidas no ano de 1993, em Pelotas, no Sul do Estado, está participando de mais uma etapa da pesquisa que investiga causas precoces de doenças crônicas não transmissíveis. O estudo é realizado pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel). A pesquisa mapeia possíveis fatores de risco, que desencadeiam doenças como câncer, diabetes, hipertensão e asma, do nascimento aos 30 anos. O grupo está realizando um novo ciclo de exames clínicos e a coleta de dados dos participantes.

A pesquisa tem por base os dados de um dos mais maiores programas de acompanhamento populacional do país, que abrange quase 20 mil pessoas de quatro gerações, nascidas nos anos de 1982, 1993, 2004 e 2015. A iniciativa é financiada pela Umane (instituição isenta sem fins lucrativos que apoia iniciativas no âmbito da saúde pública) e tem o apoio da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO). Na etapa atual do corte são aproximadamente cinco mil pessoas nascidas na cidade em 1993.

O estudo analisa as condições socioeconômicas e ambientais vivenciadas em estágios anteriores e atuais da vida podem servir de gatilho para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis. Serão estudados diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares, problemas respiratórios (como asma e bronquite), alergias, transtornos mentais além dos riscos associados à inatividade física, obesidade, consumo excessivo de álcool, uso de drogas ilícitas e tabagismo.

Entre os pesquisados que fazem parte da corte de 1993 está a nutricionista Caroline Nickel. Ela completa 30 anos no próximo dia 14 de dezembro. “Eu acho esta pesquisa de extrema importância para a saúde. Se formos considerar que os dados obtidos por ela são usados para melhorias na saúde pública e formação de novas políticas públicas para a população”, opina. Ela que participou da pesquisa no mês de julho conta que os participantes respondem a um questionário, que tem a possibilidade de ser online, pois muitos participantes não moram em Pelotas.

“Fui na clínica do Centro de Pesquisa Epidemiológica, fiz exame de saúde mental, composição corporal, capacidade pulmonar, coleta de sangue, ultrassom das carótidas, antropometria (que mede altura e circunferência da cintura), medi a pressão arterial, dinamometria (avalia a força da mão)”, enumera. Ela comenta que levou em torno de uma hora para responder as perguntas e aproximadamente duas horas para a realização dos exames. “São em torno de três horas que doamos também para contribuir também com a vida do próximo”, enfatiza. Por fim, Caroline confirma que realizou coleta de urina e permaneceu por uma semana com um relógio para avaliar a atividade física.

A coordenação da pesquisa é do epidemiologista, Fernando Wehrmeister. O trabalho de campo deve durar seis meses. “Tentamos acompanhar estas pesquisas enquanto tiver recursos e o da Umane foi providencial para manter o que estávamos planejando”, destaca o epidemiologista. Ele admite que em termos de políticas públicas as vezes os resultados demoram a aparecer. “É um processo de geração de evidências que se faz necessário eventual ajuste do poder público e inclusão de política pública”, observa.

Wehrmeister conta que as pesquisas com as cortes de Pelotas já se traduziram em políticas públicas ou orientações como amamentação exclusiva até os seis meses, orientações para os mil dias de vida, crescimento adequado e linear até os dois anos melhor do que depois, dormir de barriga para cima evitar morte súbita como recomendação.

Sobre o pessoal nascido em 1993, o coordenador da pesquisa disse que o que mais chamou atenção até agora foi que na última avaliação, quando tinham 22 anos em torno de 23% já tinha duas ou mais doenças crônicas. “Acredito que vários fatores causaram isto, como o estilo de vida mais sedentário, dormir pouco, se alimentar mal, são algumas conjunção de fatores que levam ao aparecimento precoce de problemas de saúde. A próxima avaliação deste grupo será quando completarem 40 anos, mas ainda podemos ter algo no meio do caminho para avaliar melhor a situação deles”, projeta.

Os resultados obtidos pelo estudo serão essenciais para planejar medidas mais efetivas no enfrentamento de doenças crônicas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Para a superintendente-geral da Umane, Thais Junqueira, é um motivo de grande satisfação contribuir com o trabalho que vem sendo feito pelos pesquisadores da universidade. Para Thais, o trabalho que Pelotas vem fazendo nas últimas quatro décadas gera diretrizes que tem ido para um caminho para impactar em politicas publica para o mundo.

“É grande satisfação contribuir com a ciência que é feita em Pelotas e o uso prático dela que contribui com a melhoria da vida de milhares de pessoas pelo mundo”, conclui.


Correio do Povo
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