"Ninguém nos ajuda", diz presidente da ATL após congelamento de tarifa dos ônibus em Porto Alegre

"Ninguém nos ajuda", diz presidente da ATL após congelamento de tarifa dos ônibus em Porto Alegre

Magnus Isse afirma que transporte por lotações perdeu até 40% de passageiros no pós-pandemia

Felipe Faleiro

Apesar da redução, 500 mil pessoas utilizam o sistema de seletivos por mês

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Após o anúncio do congelamento da tarifa dos ônibus em Porto Alegre em R$ 4,80 no ano de 2023, outra modalidade de transporte pede a mesma atenção na Capital. O transporte seletivo, cuja tarifa está em R$ 8,00 desde julho de 2022, está em situação “extremamente difícil”, segundo disse o presidente da Associação dos Transportadores de Passageiros por Lotação (ATL), Magnus Isse. O agravamento, conforme Magnus, está relacionado principalmente à queda de 30% a 40% do número de passageiros no pós-pandemia, e ainda aumentos expressivos no preço do óleo diesel.

“Sempre fomos atrelados ao sistema dos ônibus. O ônibus não subindo, a lotação não pode subir também. Se não, vai haver uma diferença tão grande que ninguém mais vai querer andar de lotação, além de uma concorrência desleal. O que queremos é igualdade, o que é feito para um é para todos”, afirmou ele. Ainda segundo Magnus, a chegada do transporte por aplicativos e a proliferação dos clandestinos também causam uma disputa que pode não ser benéfica ao seletivo.

Das 29 linhas atendidas pelas lotações e citadas pelo presidente, ele estima que de sete a oito pararam depois da fase mais aguda da Covid-19. “Nosso sistema emprega muita mão de obra, e como vamos pagar estes funcionários, e suas obrigações sociais? Tudo isto nos criou uma situação insustentável. Tivemos que demitir um monte de pessoas e enxugar muitas coisas para sobreviver”, argumenta.

Apesar da queda, Magnus informa que cerca de 500 mil pessoas utilizam os seletivos por mês em Porto Alegre, às quais a maioria é mulheres, na proporção de seis para cada quatro homens, e duas em cada dez são idosas, ou seja, são isentas no transporte coletivo. “Estas, porém, preferem andar conosco. O restante utiliza nosso serviço porque o transporte passou primeiro e está atrasado. Quem sustenta nosso sistema são mulheres e idosos”.

Diante da situação, a categoria foi à Prefeitura solicitar auxílios, e conseguiu, em primeiro lugar, a isenção do pagamento do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) até 31 de dezembro de 2024, o que não é considerado suficiente. O projeto foi aprovado na Câmara Municipal em agosto de 2022. “Isto era para ter tirado desde 2013. Ninguém nos ajuda, não temos nenhuma regalia”, comenta o presidente. Agora, está indo novamente. 

Magnus disse ter ouvido recentemente do prefeito Sebastião Melo a promessa de “forma taxativa” de que as lotações não acabarão. Por ora, um grupo de estudo foi criado na Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) para analisar a situação. “Ele vai ter que tomar uma decisão, se vai nos auxiliar ou não, mas alguma coisa tem que ser feita para que o sistema se mantenha”. A ATL está elaborando um documento em que traz um diagnóstico do sistema de transporte seletivo, e deverá apresentar ao prefeito em nova reunião nos próximos dias.

A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e a Empresa Pública de Transporte e Circulação afirma que dialoga com a ATL em busca de alternativas para a manutenção do transporte seletivo no mercado de passageiros. "De forma imediata para auxiliar os transportadores, foi aprovado no ano passado projeto de lei que prevê para este ano e para 2024 a isenção do ISSQN. A partir de janeiro não é mais cobrado dos lotações os 2,5% ao ano referente a este imposto. Seguimos no diálogo em busca de alternativas que levem ao equilíbrio financeiro, modernização e a eficiência do sistema", diz.


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