Ninhada de morcegos assusta na rua Voluntários da Pátria, em Porto Alegre

Ninhada de morcegos assusta na rua Voluntários da Pátria, em Porto Alegre

Comerciante relata ter fechado estabelecimento temendo invasão do animal, que é protegido, mas pode transmitir a raiva

Felipe Faleiro

Aglomeração de morcegos causa medo em quem passa na rua Voluntários da Pátria

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Em pleno coração de Porto Alegre, a presença de morcegos tem causado preocupação aos comerciantes. Centenas destes animais se instalaram recentemente no alto das janelas de uma galeria comercial na rua Voluntários da Pátria, no Centro Histórico, por onde passam diariamente milhares de pessoas. Relatos de ambulantes no local dão conta de que eles estão no local há algumas semanas, e costumam sair de seus ninhos principalmente à noite, embora possam ser vistos e ouvidos a qualquer momento do dia.

Astutos e agitados, estes mamíferos correm o risco inclusive de causar o fechamento temporário de uma loja do ramo de alimentação localizada próxima. Uma funcionária do estabelecimento, que não quis se identificar, disse que a decisão foi causada pela preocupação com que os animais invadissem o local e tumultuassem o ambiente, assim como contaminassem os produtos. “Por enquanto, isto não aconteceu. Temos uma empresa terceirizada que faz o controle de pragas e nosso prédio está tratado”, afirmou ela.

A funcionária gravou um vídeo mostrando a revoada, e reclama que haveria uma “infestação” na via. “Em uma loja perto, me mostraram fotos de morcegos grudados nas roupas, e, em uma escadaria de acesso ao piso superior, certamente havia mais de 500. O cheiro é muito forte”, afirma a funcionária. “E nem todos têm o hábito de chegar em casa e lavar as roupas que compra”. Ainda conforme ela, a Prefeitura foi contatada via 156, porém nada foi feito.

Segundo o administrador do edifício, Marcelo Oliveira, “tudo o que pode ser realizado está sendo, dentro da legislação”. “É importante salientar que estes animais estão protegidos por lei. A captura ou matança constitui crime ambiental. Estamos fazendo o manejo adequado duas vezes por dia, e contratamos uma empresa de dedetização”, afirmou ele, que ainda diz acreditar que a infestação é um problema de todo o Centro Histórico. “O Mercado Público tem, a Prefeitura tem, vários outros prédios também”, observou Oliveira.

O administrador disse também que os morcegos estão restritos ao lado de fora da galeria, e negou que eles estejam em lojas dentro dela. “Não é real que estejam nas roupas”, comentou. Funcionário de uma barbearia dentro da galeria, Paulo Henrique reforçou a tese, mas afirmou que é preciso cuidado. “Acredito que as empresas daqui estão fazendo muito bem sua função. Só acredito que a Prefeitura não passou aqui para verificar isto”, acrescentou.

Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ressaltou que os morcegos, em condições normais, são comuns, e que a orientação é que a população não encoste nos animais, pelo risco de transmissão da raiva, doença extremamente grave e com índice de letalidade próxima de 100%. Afirmou, porém, que nem todo animal está contaminado com o vírus. Na semana passada, a Equipe de Vigilância de Antropozoonoses (Evantropo) confirmou três casos de morcegos infectados pelo vírus da enfermidade, nos bairros Cristal, Cidade Baixa e Guarujá. Outros 25 espécimes foram capturados, com resultados negativos.

Como manejar corretamente os morcegos

  • Morcegos são espécies nativas e não podem ser mortos ou feridos, conforme a Lei Federal 9.605/98, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais.
  • Nos meses de verão, é comum a localização destes animais em residências, devido a abundância de alimentos, como cupins, baratas, mosquitos e mariposas. Onde eles se instalam, têm seus filhotes, até o mês de fevereiro, conforme os recém-nascidos tornam-se aptos a voar. Em seguida, deixam o local.
  • O desalojamento inadequado, como remoção de morcegos de forros sem acompanhamento técnico, faz com que eles migrem e se reinstalem no primeiro local com abertura que encontrarem. O proprietário do estabelecimento deve buscar um biólogo especializado.
  • O procedimento permitido por lei é aguardar até que os animais abandonem o local e, após a saída, proceder a limpeza para remoção das fezes com aspirador de pó ou água sanitária. Após a saída e limpeza, deve-se vedar todas as frestas para evitar a entrada de novos animais.

Orientações contra a raiva

  • Caso algum morcego seja localizado vivo ou morto em situação anormal, como caído no chão, pendurado em janelas ou cortinas, é preciso entrar em contato com o 156 ou no setor de Antropozoonoses na Diretoria de Vigilância em Saúde (DVS), pelo telefone ou WhatsApp (51) 3289-2450.
  • O morcego é um reservatório natural da raiva, mas o vírus também pode infectar cães, gatos, bois, cavalos e todos os demais mamíferos. Assim, animais domésticos devem ser vacinados anualmente. A raiva é transmitida quando a saliva do animal infectado entra em contato com a pele lesionada ou mucosa, por meio de mordida, arranhão ou lambedura do animal.
  • Em caso de acidente, é preciso buscar atendimento médico imediatamente na unidade de saúde mais próxima. O paciente pode ser encaminhado para aplicação de soro antirrábico, apenas no Hospital de Pronto Socorro, e imunoglobulina no Hospital Materno-Infantil Presidente Vargas. Já a vacina está disponível nas unidades de saúde Tristeza e Modelo.

Fontes: Secretarias municipais da Saúde (SMS) e Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus)


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