Novo Chefe da Polícia Civil gaúcha toma posse em momento histórico no Estado

Em evento realizado na noite desta terça-feira no auditório Cícero do Amaral Viana, no Palácio da Polícia, o delegado Fernando Sodré tomou posse como novo Chefe de Polícia do Estado do Rio Grande do Sul. A solenidade marcou também a posse do Delegado Heraldo Chaves Guerreiro como novo Subchefe da corporação. Participaram da cerimônia

Aos 58 anos, Sodré é o primeiro negro a ocupar o cargo de Chefe da Polícia Civil no Rio Grande do Sul. Natural de São Paulo capital, se emocionou durante vários momentos de sua fala. Num deles, lembrou das dificuldades enfrentadas pela população negra na conquista de diferentes espaços, funções, incluindo cargos públicos de prestígio. No entanto, frisou que não passa a ocupar a chefia da Polícia Civil pelo fator racial, mas sim por toda sua trajetória construída em décadas de estudo e trabalho. Mesmo assim, em seu discurso, Sodré enfatizou a importância da representatividade do cargo. “Isso demonstra a força da diversidade, a visão do Estado e o cumprimento de suas autoridades públicas no enfrentamento do racismo estrutural”, considerou. 

Para Sodré, o controle da violência e criminalidade no estado precisa levar em consideração os fatores sociais e culturais enraizados na sociedade. Para além do racismo, ele chamou a atenção para o reconhecimento de outras formas de preconceito variadas como machismo, a misoginia e a LGBTfobia. Segundo Sodré, essas questões estruturais precisam ser pensadas criticamente em toda atuação dos órgãos de segurança do estado. Além do fator da diversidade, ele também ressaltou que sua gestão irá prezar pela agilidade e modernidade.

Em fala ao Correio do Povo antes de começar a solenidade, o governador Eduardo Leite, que abriu a cerimônia de posse, enfatizou a experiência de liderança e capacitação técnica de Sodré como atributos que contribuirão para a redução dos índices de violência no Rio Grande do Sul. Ao ser questionado sobre o aumento dos casos de feminicídio no estado em 2022, afirmou que o governo está agindo no enfrentamento desses casos e que esse tipo de crime requer cuidados maiores por normalmente acontecer muitas subnotificações. "O primeiro passo é estimular as mulheres a se sentirem seguras para fazer as denúncias, registrar as ocorrências. Esse é um passo fundamental porque a subnotificação atrapalha a atuação do Estado". Leite também ressaltou a importância das ações na área da educação e cultura para ajudar na formação de uma consciência que reconheça a liberdade e a autonomia das mulheres. 

Acerca das ações de proteção à mulher, Sodré destacou o objetivo de ampliar as estruturas de atendimento às mulheres, questão já inclusa no planejamento estratégico da nova gestão. "O momento do registro é sempre quando a mulher está dolorida. E normalmente quando ela faz o registro não é a primeira vez que ela está com aquela dor. E nós temos que interromper esse momento antes dele se alongar e se tornar um feminicídio'', explicou. Ele também destacou o envolvimento da secretaria com o projeto "Monitoramento do Agressor'', que prevê o uso de tornozeleiras eletrônicas para rastrear os passos de quem agride mulheres. Segundo Sodré, é necessário mudar essa visão patriarcal do estado.

Sodré é delegado da Polícia Civil do Rio Grande do Sul desde 1998, chegando à 4ª classe, o mais alto nível da carreira. Desde 2019, desempenhava a função de titular da 13ª Delegacia de Polícia Regional do Interior, em Santo Ângelo, cargo que já havia ocupado entre 2011 a 2015. Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras e em Direito pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), ele seguiu os estudos, conciliando com a vida profissional. Após concluir dois cursos de mestrado - em Aplicações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais/RJ e em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria -, atualmente é doutorando em Direitos Humanos na Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS (Unijuí). Sodré também possui especialização em Supervisão Escolar pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em Direito Penal pela UCS e em Segurança Pública pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Já Guerrero, gaúcho de Mostardas, é delegado da Polícia Civil desde 1992. Em 2000, foi titular da 3ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana (DPRM) de São Leopoldo. Também atuou como titular das delegacias de polícia de Xangri-lá, Atlântida do Sul, Capão da Canoa e Mostardas. Em 2021 passou a comandar o Departamento de Polícia do Interior (DPI). No ano seguinte, foi empossado como secretário da Segurança Pública Adjunto na gestão do então secretário Vanius Cesar Santarosa.