“Para curar a dor, resolvi ajudar”, revela voluntária de Porto Alegre que morou em Roca Sales

“Para curar a dor, resolvi ajudar”, revela voluntária de Porto Alegre que morou em Roca Sales

Grande rede de doares e voluntários se uniu para ajudar os atingidos pelas chuvas da última semana no Rio Grande do Sul

Carmelito Bifano

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Desde o impacto das fortes chuvas que devastaram cidades, principalmente no Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul e deixaram mais de quatro dezenas de mortos, uma rede de solidariedade se formou por todo o Estado com o intuito de ajudar aos conterrâneos das diversas localidades atingidas. No principal centro de coletas de doações, no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Caff), em Porto Alegre, mais de 100 voluntários trabalham diariamente para organizar o material que chega através da boa ação dos cidadãos e preparar para a distribuição nas cidades atingidas.

“Morei por 15 anos em Roca Sales e quando vi a igreja onde me batizei e vivi parte grande da minha infância e adolescência transformada em um hospital doeu demais. Para curar a dor, resolvi vir ajudar”, declarou emocionada Bernardina Brum, 63 anos, moradora de Porto Alegre.

Bernardina lembra que teve há dois meses na cidade e ficou muito feliz ao ver a pujança de Roca Sales. “Era uma cidade linda demais. Tinha até emprego sobrando. Quando estive lá, há dois meses, vi um carro de som solicitando pessoas para ir trabalhar e muitas pessoas do Alto Taquari iam ganhar a vida na cidade. Agora, até a fábrica foi atingida. Uma tristeza muito grande, por isso, assim que vi o que aconteceu, vim trabalhar aqui (no Caff)”, destacou a dona de casa, que foi acompanhada da filha Daniela.

Assim como Bernardina e Daniela, mais de 100 pessoas comparecem diariamente na Central de Doações do Rio Grande do Sul, da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil do RS, no Café, para ajudar os conterrâneos que perderam tudo com as cheias dos rios. Eles auxiliam as pessoas que levam as doações, ajudam na separação do material, formam os kits que serão destinados as cidades, de acordo com a necessidade, e também contribuem no carregamento dos caminhões da Defesa Civil do RS, do Exército e outros.

Trabalho na Central de Doações do RS é intenso e feito por mais de 100 pessoas voluntários e servidores da Defesa Civil - Foto: Fabiano do Amaral

Além de soldados da força terrestre e cidadãos comuns, quem participa ativamente dos trabalhos são escoteiros e integrantes dos cursos de preparação dos Bombeiros. “É muito legal ver a solidariedade do povo gaúcho. A prefeitura de Xangri-Lá, por exemplo, levou para Roca Sales seis caminhões de doações. Quando cheguei aqui, vi que o espaço está lotado de roupas doadas entre quinta-feira e sexta. Ali vi que o povo se uniu para ajudar os nossos irmãos e estamos dando um show de solidariedade”, destacou Matheus Costa de Souza, de 24 anos, coordenador do oitavo distrito dos Escoteiros no RS, na zona Sul de Porto Alegre.

Souza destacou que no sábado mais de 150 escoteiros estiveram no Caff para ajudar nas tarefas, mas que o trabalho vem sendo constante desde o dia seguinte a tragédia nas cidades do Vale do Taquari e em outras regiões do Estado. “Temos uma equipe com cerca de 40 pessoas em Roca Sales e eles nos passaram que a situação é muito difícil, que parecia que um tsunami tinha passado por lá. Muito triste! Vamos ajudar até quando for preciso”, concluiu.

Angelita Pinto de Souza é assistente social e doa seu trabalho e seu tempo livre para ajudar aqueles que precisam - Foto: Fabiano do Amaral

A assistente social Angelita Pinto de Souza, de 54 anos, abriu mão do seu tempo livre para ajudar ainda mais as pessoas que necessitam. Ela acorda todos os dias as 4h, trabalha e no intervalo do meio-dia até às 13h30min, vai até o Caff contribuir organizando as doações. Após o turno da tarde, volta e continua o trabalho até quando o corpo resiste. “Faço trabalho comunitário há 24 anos e fiquei muito preocupada com as pessoas depois deste evento e me solidarizei com tudo que está acontecendo. Vou doar todos os meus dias para ajudar”, revelou Angelita. “Agora é a hora da solidariedade. Muitos estão precisando e doamos aquilo que podemos. Se posso doar as minhas mãos (na forma de trabalho), eu doo, pois o trabalho é muito e é árduo. Queremos que as pessoas venham nos ajudar e dar a mão para quem precisa”, pediu.

Como ajudar

O governo do Rio Grande do Sul criou a conta SOS Rio Grande do Sul, no Banrisul, para receber doações em dinheiro daqueles que quiserem ajudar as vítimas das enchentes que atingiram o Estado. Conforme o Executivo, foi estabelecida uma chave PIX (CNPJ: 92.958.800/0001-38) para que empresas e pessoas físicas possam repassar qualquer valor de forma segura, em um canal oficial.

Doações não param de chegar ao Centro Administrativo Fernando Ferrari - Foto: Fabiano do Amaral

Além da Central de Doações do RS, no Caff, na avenida Borges de Medeiros, 1.501, no bairro Praia de Belas, entre as 8h30min até as 18h, os interessados também pode entregar doações no Palácio Piratini e no Cais do Porto, de Porto Alegre. Prefeituras municipais, unidades do Sesc, quartéis da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros Militar também recebem materiais doados.

A Defesa Civil do RS segue necessitando de todo o tipo de doações, mas os mais urgentes são: kits de higiene pessoal, contendo, por exemplo, duas escovas de dente, um creme dental, um sabonete, um desodorante, um shampoo, um pacote de absorventes femininos, um aparelho de barbear e quatro rolos de papel higiênico; kits de limpeza, que podem conter, por exemplo, um litro (pelo menos) de água sanitária, um litro de desinfetante, um quilo de sabão em pó, 500 ml de detergente líquido, esponjas e panos de limpeza. Além itens de cama e banho.

O ideal é realizar a entrega dos kits pronto, pois isso dispensa as etapas de triagem e montagem, agilizando o repasse do material às comunidades em vulnerabilidade.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895