"Perdemos tudo, mas ganhamos a vida": o relato de famílias que conseguiram se salvar em Encantado
Uma das moradoras só conseguiu pegar os documentos antes de sair de casa
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Duas famílias residentes em Encantado relataram à reportagem do Correio do Povo o drama de terem perdido grande parte de seus pertences por conta da forte enchente que atingiu o município no Vale do Taquari. Ao todo, são 39 mortos no Estado, e 79 cidades afetadas pelas chuvas desde o domingo.
A auxiliar de costureira Vaneiva Silva de Araújo veio da Bahia e vive há um ano em Encantado juntamente da mãe, Eliana Silva de Araújo, a filha de 13 anos, que faz aniversário na próxima semana, e um casal de amigos. Na cidade há uma morte confirmada pela Defesa Civil Estadual. Com a velocidade da enchente, ela conseguiu pegar quase nada da casa alugada onde mora. O tempo foi muito curto e só foi possível obter alguns documentos.
Vaneiva estava trabalhando no momento do início da enchente e sua chefe a liberou do expediente para que conseguisse retornar à casa. "Não peguei nada, nós deixamos tudo para trás, só peguei o documento. Minha chefe ligou para mim e falou para eu correr porque a água já estava entrando", relatou.
Quando estava pegando os documentos, a água já estava na cintura da moradora, pois ela foi a última a sair de casa. "Perdemos tudo, mas ganhamos a vida", sintetizou a mãe de Cinara. A filha tem diabetes e acabou ficando sem os medicamentos. Em um centro de acolhimento em Encantando, a família não sabe precisar quanto tempo ficará no local, mas a ideia é não demorar muito para tentar salvar o cachorro que ficou ainda na casa.
Cinara Costa Carneiro (à esquerda) já vivenciou enchente antes em Encantado | Foto: Maria Eduarda Fortes
Acostumada com enchentes
A recicladora Cinara Costa Carneiro vive com o companheiro e a filha em Encantado há quase quatro anos. Ela diz já estar acostumada com enchentes, pois já passou por situações similares antes. A diferença, segundo a moradora, foi a velocidade que a água tomou conta das ruas desta vez. "Foi rápido demais e a outra vez foi mais tranquilo porque o rio estava subindo devagarzinho, e as pessoas já estavam em alerta para sair das suas casas", destacou.
Cinara começou a arrumar os pertences ainda tarde da segunda-feira, quando viu que a situação envolvendo a cheia tendia a piorar. Ela foi fazendo o básico: organizou trouxas de roupas e abriu as janelas para as paredes não estourarem.
No centro de acolhimento em Encantado, ela afirma que pretende não ficar muito tempo no local para tentar retornar à casa e conseguir ver os pertences com a possibilidade de serem recuperados. "Vamos ver como é fazer para limpar a residência e voltar de novo à ativa", diz.
*Com informações da repórter Camila Pessôa