Pescadores de Guaíba se dizem preocupados com continuidade da estiagem

Pescadores de Guaíba se dizem preocupados com continuidade da estiagem

Enquanto isso, catamarã realizou alterações no serviço para seguir operando entre o município e Porto Alegre

Felipe Faleiro

José Machado, pescador por hobby há 40 anos, busca tainhas nas águas baixas do Guaíba

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Hoje pela manhã, junto ao terminal do catamarã, no Centro de Guaíba, em meio às pedras, o autônomo José Machado buscava algumas tainhas com sua vara de pescar. Morador do bairro Santa Rita, ele, que é pescador há 40 anos, aguardava sozinho que algum incauto peixe fisgasse as minhocas em sua isca. O vento batia fraco, mas o sol já brilhava forte. Alguns metros adiante, a orla tinha diversos tipos de lixo misturados à areia. “Está difícil conseguir peixe. A água está muito baixa”, lamentou ele.

O terminal tem uma régua de medição, em que, ontem, foram registrados 54 centímetros. A situação segue preocupando representantes da navegação, como a própria CatSul, que realizou alterações no serviço. A gestão do catamarã instalou estacas de madeira no canal de acesso a Guaíba, a fim de que os comandantes circulem somente dentro delas na chegada e saída, o que tem solucionado de forma provisória a situação. O vento sul dos últimos dias tem também auxiliado a represar a água do Guaíba, impedindo que a mesma desça rumo a Lagoa dos Patos, evitando um nível menor ainda.

A CatSul está operando sem atrasos há cerca de 20 dias, graças também a operação somente com barcos pequenos, com calado menor. Na visão da companhia, a solução definitiva para a tranquilidade nos serviços de transporte passa pela dragagem do canal entre Guaíba e a Ilha do Presídio, o que é demanda antiga, mas há a alegação por parte do Estado de que não existe a dotação orçamentária para tal obra.

O presidente da PortosRS, Cristiano Klinger, afirma que praticamente todas as barcaças estão navegando normalmente nos pontos navegáveis. “Não temos tido situações graves”, afirma Klinger. Já os navios grandes já realizam o alívio da carga em Rio Grande, porque o calado da hidrovia como um todo já é menor do que o canal de acesso neste município. “Obviamente, temos atenção redobrada neste período”, pontua ele.

A intenção da estatal, segundo Klinger, é finalizar ainda no primeiro trimestre a batimetria dos canais que ainda restam, para depois proceder com a dragagem. Em paralelo, o presidente da PortosRS comenta que estão sendo tratadas as autorizações para execução deste serviço. “Estamos procedendo com o plano conceitual para execução da dragagem que depois é autorizada pela Fepam. É um trabalho feito entre diversas secretarias, como Meio Ambiente (Sema), Logística e Transportes (Selt)”.

Enquanto isto, continuam em valores preocupantes os níveis dos principais rios da Região Metropolitana de Porto Alegre, em razão da estiagem. Em outros pontos do Guaíba, a régua do Cais Mauá, no Centro Histórico de Porto Alegre, permaneceu em 56 centímetros. Enquanto isso, no trapiche da Praia da Pedreira, dentro do Parque Estadual de Itapuã, em Viamão, 26 centímetros. Apesar de baixos, estes valores não são os menores desta semana. 

Nesta semana, o rio dos Sinos ingressou em nível de alerta. A medição da Agência Nacional de Águas (ANA) em Campo Bom marcava ontem 1,09 metro, outra vez o indicador mais baixo dos últimos seis meses. Já a régua no Centro de São Leopoldo apresentava 67 centímetros de tira na lâmina d'água, e na foz do rio Paranhana, em Taquara, 38 centímetros. Em Novo Hamburgo, a medição da Companhia Municipal de Saneamento (Comusa) reduziu para 1,95 metro no período da manhã. 

Também na manhã da sexta-feira, entrou em vigor a suspensão da captação de água ao longo da bacia do Sinos para atividades rurais, conforme estabelecido pela Sema. A proibição será revogada assim que o nível retornar aos valores normais, que são acima de 1,20 metro na captação da Corsan em Campo Bom, ou superior a 50 centímetros na régua do Serviço Municipal de Água e Esgotos (Semae), em São Leopoldo.

A ativação do gatilho ocorreu após a redução do nível nesta semana em Campo Bom para 1,13 metro, enquanto em São Leopoldo ainda seguia em marcas normais. No rio Gravataí, a régua do Balneário Passo das Canoas, mantido pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), marcava 1,07 metro pela manhã, em queda livre há seis dias. Já a medição da Estação de Tratamento de Água (ETA) da Companhia Estadual de Saneamento (Corsan) apontava 1,22 metro, na mesma trajetória de queda.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895