Pescadores relatam frustração em primeira temporada de pesca após enchentes em Porto Alegre

Pescadores relatam frustração em primeira temporada de pesca após enchentes em Porto Alegre

Expectativas dos profissionais são baixas depois de perdas em residências, ainda que pesca do bagre possa ser novamente liberada

Felipe Faleiro

Xavier relata que auxilio-calamidade da Prefeitura a ele "foi pouco"

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Após as enchentes devastadoras do ano passado, os moradores das ilhas de Porto Alegre não foram mais os mesmos. A primeira temporada de pesca após os níveis históricos registrados traz preocupação aos profissionais pesqueiros, que não vislumbram a possibilidade de lucro a partir da atividade, liberada novamente com o fim do período da piracema, encerrado na última quinta-feira. Muitos ainda estão se recuperando das perdas causadas pela invasão das águas às suas residências e estabelecimentos.

Como um dos agravantes, os pescadores por mais um ano estão impedidos de capturar o bagre, peixe considerado mais rentável, mas cuja pesca está proibida na área da Capital. “Estamos na expectativa desta liberação, que pode melhorar um pouco as condições para os pescadores. Houve uma reunião na semana passada e vai ocorrer outra nos próximos dias com a Federação dos Pescadores do RS, a fim de mudar isso”, afirmou o presidente da Cooperativa dos Pescadores da Colônia Z-5 (Coopeixe), Leonardo Gonçalves.

O impedimento faz com que a população do bagre seja multiplicada, no entanto, sua captura, mesmo que acidental, rende multa de R$ 500 por unidade, caso haja flagrante, dizem os pescadores. Dentro do período de reprodução dos peixes, iniciada em outubro e finalizada em fevereiro, os pescadores costumam arrumar suas redes e realizar outras atividades, porém, na mais recente piracema, dados os prejuízos, eles contam que não conseguiram fazer isto. Hoje, só podem ser capturadas espécies como tilápias, pintados e jundiás.

Outro risco é a proliferação das palometas, ou piranhas-vermelhas, predadores das espécies pescadas. “Ganhamos o auxílio-calamidade da Prefeitura de R$ 3 mil, mas foi pouco”, lamentou o pescador Júlio César Xavier, que atua na atividade há mais de 30 anos. O mesmo diz Leandro Oliveira, amigo de Xavier e também do ramo há um período superior a três décadas. “Para quem perdeu dois freezers, como eu, esta ajuda não é nada. Acho que todos aqui têm outra atividade, porque somente com a pesca não dá para se sustentar”, comenta ele, acrescentando que, na Ilha da Pintada, onde ambos residem, diversas casas estão à venda.

Alguma esperança vem da aproximação da Páscoa, período de procura acentuada do pescado. Ainda assim, nem isso poderá atenuar o que havia sido perdido nas quatro grandes enchentes a atingir duramente o Arquipélago. Em 21 de novembro de 2023, o Guaíba no Cais Mauá, no Centro Histórico de Porto Alegre, atingiu a marca de 3,46 metros, a maior desde 1941. “Houve a enchente de 2015, só que ela não foi tão intensa quanto a do ano passado. Acredito que vai demorar umas três temporadas para o pessoal se recuperar”, opina Oliveira.


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