Porto Alegre aumenta vagas em albergues, mas procura segue inalterada

Porto Alegre aumenta vagas em albergues, mas procura segue inalterada

A reportagem do Correio do Povo percorreu algumas ruas do Centro Histórico e registrou pessoas dormindo nas calçadas

Paula Maia

Luiz Cardoso tem 48 anos e dorme nas ruas há mais de seis anos. Durante esse tempo foram idas e vindas, mas depois da morte da sua esposa, há mais de um ano e meio, nunca mais voltou para casa.

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Mesmo com o reforço de vagas em casas de acolhimento e ações de abordagem social nas ruas, a noite de sexta-feira, que marcou o primeiro dia Operação Inverno, registrou pessoas dormindo nas calçadas de Porto Alegre. Com a chegada do frio, a Prefeitura ampliou a oferta de vagas para pessoas em situação de rua – um acréscimo de 227 camas, além das 820 já existentes.

O educador social Luiz da Silva, que atua em um dos albergues há mais de oito anos, afirmou que o movimento na casa seguiu inalterado. “Não mudou a frequência de movimento, mas conforme vai aumentando o frio, a tendência é que lote. Nossa lotação está na média”, afirmou. Atualmente são 100 vagas, sendo 68 para homens, 28 para mulheres, e por causa da Operação Inverno passou para 10 o número de vagas para o público LGBT.

Apesar dos esforços, ainda havia muitas pessoas dormindo ao relento nas ruas da cidade ​| Foto: Fabiano do Amaral

Percorrendo as ruas da Capital, a reportagem encontrou dezenas de pessoas dormindo. Luiz, de 48 anos, que atualmente está em situação de rua,  dormia em um colchão na frente do albergue. Alegando não saber da Operação Inverno, disse que está nas ruas há mais de seis anos. Ele dorme nas calçadas da cidade desde que ficou viúvo, há cerca de 18 meses. “Antes eu vinha para a rua, ela vinha me buscar e eu voltava para casa”, declarou.

Movimento no albergue estava na média. A tendência é aumentar a lotação com chegada do frio mais rigoroso | Foto: Fabiano do Amaral

Luiz é um homem alto, magro e afirma que não gosta de confusão. Ele revelou que uma vez passou uma noite em um albergue e não quis mais voltar. Não gostou. Segundo ele, prefere as ruas, mesmo nos dias mais frios, e não tem medo. Quando questionado sobre o restante de sua família, ele revelou que tem três filhas, adultas. Quieto, não conversa muito com as pessoas nas ruas. Durante pouco mais de um ano que vive em situação de vulnerabilidade, ele alegou que não foi procurando pela assistência social.  "A sociedade não nos vê", afirmou ele, com um olhar pensativo. Por fim, confessou que está pensando em ir para algum lugar, algum abrigo na cidade. Acredita que esse pode ser um desejo da sua esposa, já falecida. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895