Porto Alegre: uma capital de praças e parques para todos

Porto Alegre: uma capital de praças e parques para todos

Nos 252 anos da capital gaúcha, conheça alguns locais singulares que Porto Alegre oferece para seus moradores

Rodrigo Thiel

Praça Província de Shiga, no Passo D'Areia, é um dos vários espaços de lazer de Porto Alegre com detalhes únicos e encantadores para os moradores

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A capital de todos os gaúchos completa 252 anos de fundação nesta terça-feira. Entre todas as suas belezas, as praças e parques são atrativos para proporcionar a todos os moradores e visitantes espaços de lazer, atividade física e contemplação. Conforme um levantamento da prefeitura, a área verde pública municipal, somando as cerca de 700 praças urbanizadas e 12 parques e quatro unidades de conservação de Porto Alegre, totaliza 13.509.330,28 m².

Ainda de acordo com a prefeitura, a gestão destass praças e parques é dividida entre algumas secretarias. A limpeza e manutenção dos espaços são de responsabilidade da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Smsurb). Já as negociações e acordos para adoção das áreas são com a Secretaria Municipal de Parcerias (SMP).

Com relação aos projetos e a urbanização destes espaços, a pasta responsável é a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus). Para o secretário Germano Bremm, a capital se orgulha da responsabilidade de ser uma das capitais mais arborizadas e com mais espaços públicos à disposição de seus moradores. “Isso é fruto da nossa liderança ambiental. A Smamus é a primeira secretaria municipal de meio ambiente do país. E a partir dela foi criada uma série de políticas públicas para o crescimento da cidade, sempre respeitando estas áreas de lazer”, citou o secretário.

Entretanto, se contar com um número expressivo de espaços públicos é um motivo de orgulho, o cuidado com eles é um dos principais desafios da administração municipal. “A vegetação tem envelhecido ao longos dos anos. Acredito que fazer o manejo adequado desta vegetação, respeitando o seu tempo de vida, é um dos grandes desafios de Porto Alegre. A gente também sabe que estas áreas possuem um impacto positivo sobre o olhar climático. Vivemos os efeitos destas mudanças, com calor excessivo, temporais e chuva, onde essas árvores têm funções essenciais. Mas isso também torna um desafio fazer a gestão desta arborização e dos espaços públicos”, completou.

Bremm apontou ainda que a pasta tem pensado em modelos de levar este senso de responsabilidade também para quem usufrui do espaço público, através de ações para estimular as adoções e parcerias com empresas conscientes. “Estas entidades nos ajudam a fazer essa gestão, pois o poder público não tem condição de estar sempre presente e acompanhar o crescimento e a evolução de forma estruturada. É importante que a gente tenha parcerias e o envolvimento direto da população para nos ajudar nesta construção”, finalizou.

Para mostrar esta construção em toda a capital, mesmo além dos tradicionais Orla do Guaíba, Redenção e Moinhos de Vento, o Correio do Povo visitou alguns dos parques e das praças que oferecem atrativos singulares para moradores e visitantes

Lazer e refúgio da vida animal na Zona Norte

Um dos espaços públicos mais usufruídos de capital está no coração do Humaitá. O parque Marechal Mascarenhas de Moraes possui 18,3 hectares, sendo oito hectares de banhado e seis de reserva ecológica. Desta forma, trata-se de uma unidade de lazer, recreação e preservação permanente. E essa característica é um dos diferenciais do espaço, a de refúgio da vida animal, em função da vegetação nativa plantada.

Para quem o visita nos finais da tarde, é possível contemplar a beleza do descanso das garças na área do banhado. Segundo moradores, elas retornam todos os dias para o parque, depois de um dia viajando por toda a região em busca de alimento. Já o diretor científico do Clube de Observadores de Aves de Porto Alegre (CoaPoa), Lucas Nenes, aponta que as garças também utilizam o local como colônia reprodutiva.

“O parque, apesar de estar no meio urbano, oferece um ambiente de vegetação nativa. Portanto, ele tem condições propícias no sentido de abrigo, alimentação e reprodução. As garças não passam o tempo todo no banhado. Elas vão para outros bairros de Porto Alegre e outras cidades da região para caçar e voltam para o Mascarenhas para alimentarem seus filhotes”, apontou.

Ele conta ainda que as espécies que mais utilizam o parque são a garça-branca-grande, a garça-branca-pequena e a garça-vaqueira. Entretanto, outras aves também usam o parque no seu dia a dia, como os socós, maçaricos e caraúnas. “No final do ano passado, membros do CoaPoa também registraram uma espécie de colhereiro, que são aves parecidas com flamingos, no parque. É uma espécie que raramente é vista por aqui. O Mascarenhas tem essa característica de receber aves que buscam por alimentos ou aves migratórias”, citou o diretor do CoaPoa, que é o clube de observadores mais antigos do Brasil em atividade.

O morador do bairro Humaitá, Luiz Gustavo Fritsh, de 60 anos, considera a cena das garças como uma das singularidades do parque. “Muita gente que passa aqui e dá uma olhada porque não acredita que, dentro de uma selva de pedra que a gente vive, tem um espaço tão rico de fauna. Isso é uma ilha de beleza e de diversidade de animais. A área toda é fantástica. É uma preciosidade”, afirmou Fritsh.

Conforme dados da prefeitura, o parque foi inaugurado em julho de 1982, revitalizado em 2019 e conta com oito quiosques com churrasqueiras, praça esportiva e playground infantil. Ao todo, são três quadras de futebol, duas de vôlei de areia, duas poliesportivas, pista de skate, academia ao ar livre e equipamentos para alongamento. Investimentos estão sendo feitos no local, como a substituição de campos para quatro quadras de beach tennis e a revitalização do cachorródromo.

Luiz Gustavo Fritsh destacou a infraestrutura do parque, que serve como o “quintal de sua casa”. “Tem tudo aqui. Tem espaço para fazer churrasco, para piquenique. Eu aproveito diariamente para fazer caminhadas. Jogo futebol com amigos no final de semana. Aqui é o meu lugar de lazer. O espaço é muito bom e é sossegado. Tem um apego especial com a comunidade, um aconchego diferente. É realmente um parque de bairro”, completou.

E esse sentimento de apego foi essencial para que Rosana Matos, de 50 anos, decidisse se mudar para o Humaitá. “Eu escolhi vir para cá por causa do parque. É muito caro morar em outras áreas da cidade e o Mascarenhas me oferece tudo e até um pouco mais do que os outros parques de Porto Alegre. A gente tem uma calmaria única. Não tem avenidas na volta. É um parque natural. Quando eu estava escolhendo um apartamento para morar, descobrir essa área foi perfeito, principalmente por causa dos meus três cachorros”, apontou Rosana.

E são justamente os momentos de passeio dela com seus animais de estimação que a aproximam do parque. “Ele é muito grande. Eu consigo andar com eles tranquilamente. Tem muito espaço para brincar com os cachorros. Como a gente mora em apartamento, aqui é o nosso quintal. Tem muita diversidade e serve muito bem para toda a comunidade”, finalizou.

Ainda de acordo com a prefeitura de Porto Alegre, o Parque Marechal Mascarenhas de Moraes está em processo de adoção, mas o contrato ainda não foi assinado. As obras de melhorias no espaço estão sob responsabilidade da Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Juventude (Smelj).

Um “pedacinho” do Japão em Porto Alegre

Ao lado de umas das principais avenidas da capital, a Praça Província de Shiga é um local silencioso e com uma estética que convida para contemplar a paz. O espaço foi inaugurado em outubro de 1983 e possui uma área de 3.860 m². Trata-se de um local que também promove o intercâmbio cultural entre o povo gaúcho e o Japão. No último dia 15, foi entregue uma revitalização do espaço, que celebrou os 40 anos do Convênio de Fraternidade, que declara Estados-Irmãos o Rio Grande do Sul e a província japonesa de Shiga, que dá nome ao local.

O que torna a praça Shiga um local único em Porto Alegre é a característica de paisagismo japonês presente nela. Existem espécies de plantas típicas do país oriental: azaleias, bambus, extremosas e cerejeiras, originais do projeto do arquiteto e paisagista japonês Kunie Ito. Já a revitalização, feita com recursos de contrapartida da empresa Cyrela Goldsztein, foi assinada pelo arquiteto Guilherme Takeda. Entre as melhorias feitas, está revitalização do lago, novos passeios, reforma dos banheiros e um novo pórtico de entrada.

Este espaço é convidativo para quem reside no bairro Passo D’Areia, onde a praça está localizada. A moradora Suelen Silveira, de 22 anos, conta que faz questão de levar a filha Pietra, de 6 anos, para passear no local. “Sempre que consigo tirar um tempo para vir, eu trago ela também. A praça é muito linda, tem uma cachoeira muito bela também. É totalmente diferente de uma praça normal. Eu gosto de ficar um tempo aqui, pois parece que te traz uma paz. A gente senta e fica analisando a paisagem e nem parece que tem uma avenida do lado. Acaba se tornando um passeio para contemplação mesmo”, falou a moradora.

Toda esta beleza e calmaria serve de palco para registros eternos, tornando o espaço em uma referência para fotografar álbuns de família. A promotora de eventos Paula Dahmer, de 49 anos, conta que a procura por produzir materiais na praça Província de Shiga é muito grande. “Ela tem muitos detalhes e uma estrutura diferente. É pequeninha, mas tem vários locais bonitos para foto. Por ser fechada, ela também é muito segura. A gente gosta de vir fazer fotos aqui pois o resultado fica muito lindo”, citou.

Paula pontuou que, durante a reforma da praça, o ponto mais procurado era o Gasômetro, mas que, aos poucos, a procura pela Província de Shiga voltou a crescer. “Viemos ao menos duas vezes por semana para fazer foto. As clientes preferem aqui. A gente prefere aqui. Tem toda uma estrutura, como os banheiros para que as pessoas possam trocar de roupa. Também é de fácil acesso. Tudo isso facilita para todos”, afirmou.

A praça Província de Shiga é um espaço com horário específico de funcionamento. A praça está com suas portas abertas todos os dias das 9h às 12h e das 13h às 17h30min. Para fotografar profissionalmente no espaço, é necessário agendar com a prefeita da praça.

Um espaço planejado para os industriários

A Vila do IAPI é um local encantador por ser um bairro planejado da década de 1940 para abrigar os trabalhadores da indústria. Assim como as casas, ruas e quadras, a área também possui um parque construído de forma projetada, o parque Alim Pedro. Com 4,5 hectares, o espaço de lazer foi inaugurado em fevereiro de 1950 pelo presidente brasileiro Eurico Gaspar Dutra.

A obra foi coordenada pelo Edmundo Gardolinski, que também foi responsável pela construção da Vila do IAPI. Atualmente, o parque possui um campo de futebol, uma pista para caminhadas, duas quadras poliesportivas, duas quadras de beach tennis, academia ao ar livre, canchas de bocha e uma grande área arborizada no centro do bairro projetado. O campo de futebol, também chamado de estádio Alim Pedro, foi adotado pela instituição Atlético Canarinho, do bairro IAPI.

Além de ser ponto de encontro e lazer para pessoas do próprio bairro, o parque também recebe visitantes de outros pontos de Porto Alegre, como Magda Veríssimo, de 40 anos, que mora no Mont’Serrat. Ela encontrou no Alim Pedro o local ideal para praticar atividades físicas em segurança. “A pista para quem corre é muito boa. A área toda é formidável. Eu acho muito bom dar uma volta aqui, principalmente naquela área mais acima onde tem as construções antigas do IAPI. A região toda está muito bem conservada e é bonito de caminhar por aqui”, falou.

Outro ponto que faz Magda ir de um bairro para outro aproveitar o espaço de lazer é a sensação de segurança. “Eu me sinto tranquila aqui, pois a praça está sempre bem preservada, com a comunidade mesmo utilizando. As pessoas fazem questão de virem aqui e aproveitarem os espaços abertos e as pracinhas. Eu acho o tamanho dela bom. A natureza dela também é essencial. Eu gosto daqui”, completou.

A calmaria do “outro lado” da Orla do Guaíba

Normalmente, quem costuma visitar a Orla do Guaíba tem como prática contemplar o pôr do sol ou mesmo o Guaíba. Dificilmente as pessoas “olham para trás”, em direção à cidade. E do outro lado da avenida Presidente João Goulart está localizada uma verdadeira joia: a praça Júlio Mesquita, também conhecida como pracinha do Gasômetro. Sua recente revitalização revelou ainda os alicerces do porão da antiga Casa de Correção, demolida em 1960.

É nesta praça que inicia a linha abandonada do aeromóvel. O espaço, mesmo menor e menos visitado que a atual orla, possui diferenciais para quem o usufrui todos os dias, como moradores e trabalhadores do Centro Histórico. Esse é o caso de Jocelaine Bernardo, de 37 anos, que reside na Lomba do Pinheiro, mas tem na pracinha do Gasômetro um dos seus locais favoritos de descanso.

“Aqui tu vê coisas mais atraentes, como crianças brincando, os moradores passeando. Também tem mais sombra e lugar para sentar do que na orla. Aqui a gente consegue descansar e se sente à vontade, até mesmo para tirar o sapato. Ao mesmo tempo, tu consegue fazer amizade, pois o pessoal senta do lado e começa a conversar”, ressaltou.

Conforme levantamento da prefeitura, a praça Júlio Mesquita possui uma área total de 15.317 m² e conta com um deck de madeira, uma quadra de futebol gradeada, academia infantil e um parquinho infantil, além da iluminação que foi renovada.

Praça Júlio Mesquita, também conhecida como pracinha do Gasômetro, oferece espaços na sombra para moradores e trabalhadores do Centro Histórico | Foto: Rodrigo Thiel / Especial / CP

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