Porto de Rio Grande: Estudo aponta medidas para minimizar impactos causados pela crise climática

Porto de Rio Grande: Estudo aponta medidas para minimizar impactos causados pela crise climática

Levantamento relaciona os principais riscos estruturais e operacionais aos quais o terminal está sujeito

Felipe Samuel

Levantamento apresenta 104 medidas que devem ser adotadas para minimizar os impactos no porto

publicidade

Um estudo divulgado nesta terça-feira, em Brasília, aponta os principais riscos climáticos para o Porto de Rio Grande (RS) nas próximas décadas. Ao detalhar as ameaças climáticas de maior probabilidade de ocorrência e relacionar os principais riscos estruturais e operacionais aos quais os terminais estão sujeitos, o “Levantamento de Riscos Climáticos e Medidas de Adaptação para Infraestruturas Portuárias” apresenta 104 medidas que devem ser adotadas para minimizar os impactos no Porto de Rio Grande.

Desenvolvido pela I Care para a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o estudo observa que as chuvas e os ventos no sentido sul-sudoeste são cada vez mais frequentes na região, o que pode aumentar os custos e demandas por manutenção, além de reduzir a capacidade geral do complexo portuário. Entre as principais medidas sugeridas, estão a implementação de um banco de dados relacionando os impactos aos eventos climáticos.

Além disso, o levantamento aponta a necessidade de implementação de um programa meteorológico contínuo, instalação e modernização de equipamentos, engajamento de partes interessadas, inclusão das medidas no planejamento estratégico, adequação de procedimentos operacionais, treinamentos, instalação de sistema de alarme e criação de um grupo de trabalho para monitoramento dos riscos elencados pelo estudo para planejamento e execução de novas medidas de adaptação.

Maior risco 

Conforme o gerente do Polo Clima da I Care, Victor Gonçalves, entre os portos pesquisado, o de Rio Grande é o que tem os maiores riscos. “Tem uma série de características geográficas e físicas que explicam isso. O porto de Rio Grande é um porto que não tem enseada, não tem aclive natural, e ali até tem uma amortização em função da Lagoa dos Patos, mas na prática as intempéries climáticas passam sem nenhum tipo de barreira”, observa. A partir do estudo, Gonçalves afirma que foi possível descobrir que a região vem sofrendo bastante com a força do vento.

“E deve sofrer no futuro com mais vento. A gente está falando de vento muito forte, acima de 10 m/s, de ventos na direção sul-sudoeste, que também é um vento que prejudica muito a operação do porto, e da chuva, que pode atrapalhar a operação principalmente de granéis sólidos. Como é um porto fundamentado em produção agrícola, a gente está falando de soja, de fertilizantes, milho, trigo e arroz. São materiais que não podem ser operados em condições de umidade”, alerta, acrescentando que o estudo projeta eventos climáticos até o ano de 2100.

Ao destacar a importância das medidas preventivas, Gonçalves afirma que a multa por conta de condições climáticas adversas é pesada. “O porto vai ter que pagar uma multa de 20 mil dólares mais as multas contratuais em função dessas paralisações. Quando a gente olha para os números de climatologia observada e as tendências, a gente está falando de um potencial de até 100 dias de paralisação por ano. Então isso cria uma pressão sobre o porto muito grande”, avalia.

Mais do que as paralisações, o estudo, que levou um ano para ser concluído, projeta possíveis danos provocados pelos ventos. “Um vento muito forte pode acabar derrubando um equipamento de içamento ou o aumento do nível do mar”, destaca. “Isso pode acabar criando problemas com as infraestruturas de armazenagem, para as infraestruturas de berço e parte de armazenamento. Em média o custo para construir um berço novo seria de R$ 600 milhões. Então tem uma série de impactos que são importantes. E medirmos agora permite que o porto possa se preparar para o futuro”, completa.

Além de Rio Grande, ele destaca que os portos de Santos (SP), com 42 medidas listadas, e o de Aratu (BA), com 20, estão entre os que apresentam maiores riscos por conta de mudanças climáticas. “Todo esse estudo para os três portos vai gerar um guia, que está sendo diagramado e vai ser lançado em breve, que evidencia para os demais portos os passos que precisam ser tomados para fazer uma análise desse tipo. Então o Porto de Rio Grande está servindo de case de sucesso para outros portos fazerem um estudo semelhante com a qualidade que este estudo teve”, justifica.

Segundo Gonçalves, o levantamento também conta com um guia metodológico, alinhado às normas e práticas internacionais, como a ISO 14091, e o Protocolo de Engenharia para Avaliação de Vulnerabilidades de Infraestrutura, que permitirá que outros portos possam fazer análises semelhantes, buscando se antecipar aos potenciais impactos da mudança do clima.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895