Povos indígenas: entidades mapeiam impactos das chuvas nos territórios tradicionais

Povos indígenas: entidades mapeiam impactos das chuvas nos territórios tradicionais

Balanço indica que cerca de 80 territórios foram afetados; mbyás guarani de Eldorado denunciam destruição de comunidade

Correio do Povo

A comunidade Pindo Poty, do bairro Lami, em Porto Alegre, foi uma das mais afetadas pelas chuvas

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No cenário de cheias sem precedentes que acomete o Rio Grande do Sul, muitas comunidades indígenas foram diretamente impactadas; algumas tiveram de deixar seus territórios e outras estão ilhadas. Levantamento colaborativo realizado por sete entidades indica que foram afetadas mais de 80 comunidades tradicionais de 49 municípios do estado.

O mapeamento, que segue em atualização, é realizado de forma conjunta pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul, Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), Fundação Luterana de Diaconia, Conselho de Missão entre Povos Indígenas, Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (FLD/Comin/Capa) e Conselho Estadual dos Povos Indígenas do Rio Grande do Sul (Cepi/RS).

O relatório aponta que algumas comunidades da etnia mbyá guarani tiveram de deixar seu território para se alocar em locais mais elevados, dado o risco de alagamento e deslizamento de terra. São elas: Pindo Poty e comunidade da Ponta do Arado, de Porto Alegre; Pekuruty, de Eldorado do Sul; Yva'ã Porã, de Canela; Flor do Campo e Passo Grande Ponte, de Barra do Ribeiro, e Araçaty, do município de Capivari do Sul. Juntas, as comunidades respondem por 85 famílias. A Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) também aponta que há duas comunidades isoladas: Terra Indígena Pacheca, em Camaquã, e a Tekoa Guavayvi, de Charqueadas.

Além dos mbyá guarani, os caiganque, xokleng e charrua também foram afetados. A relação das comunidades está disponível no site do Cimi.

Indígenas denunciam destruição de território

Em Eldorado do Sul, indígenas da aldeia Pekuruty, localizada às margens da BR-290, denunciam abuso de poder por parte do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que ao consertar uma tubulação que passa pelo território, destruíram as casas e a escola da comunidade. Os indígenas estão provisoriamente abrigados na Escola Municipal de Ensino Fundamental Octávio Gomes Duarte, na sede do município.

Segundo Roberto Liegbott, missionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), “eles [integrantes do Dnit] arrancaram as casas dos indígenas sem que os guarani sequer soubessem ou tivessem sido comunicados. Os indígenas no momento encontram-se em um abrigo, mas quando retornarem, a comunidade já não existirá mais, porque o DNIT destruiu tudo”. O Departamento, consultado pela entidade, informou que a comunidade teria autorizado a intervenção, informação negada pelo cacique da Pekuruty, Estevão Garai.

O Cimi, junto às entidades responsáveis pelo levantamento, levaram à denúncia ao Ministério Público Federal, que está investigando o ocorrido. A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) também foi acionada.

Doações

Há uma campanha de arrecadação de recursos para os povos indígenas, organizada pelas entidades responsáveis pelo balanço das comunidades atingidas. Pedem alimentos, material de higiene e limpeza, lonas, telhas, colchões e cobertores para as comunidades. As doações podem ser feitas na Paróquia Menino Jesus de Praga (rua Rua Dr. Pitrez, 61, bairro Aberta dos Morros, Porto Alegre), das 8 às 12h e das 14 às 18h.

O Cimi Regional Sul, a ArpinSul e a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) também disponibilizam dados para transferência bancária (Banco do Brasil, agência 0321-2, conta corrente 128891-1) e chave pix: 566601e8-72b1-4258-a354-aa9a510445d1.


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