Prefeito de Caraá vai se reunir com Lula para pedir apoio após o ciclone

Prefeito de Caraá vai se reunir com Lula para pedir apoio após o ciclone

Município cancelou todos os eventos previstos para este ano e realizará repactuação do Orçamento

Felipe Faleiro

Caraá ainda vive período de reconstrução mais de dez dias após o ciclone

publicidade

O governo federal autorizou o envio de R$ 926,4 mil para o município de Caraá e R$ 831,1 mil para o município de Maquiné, os mais afetados pelo ciclone extratropical que devastou o Litoral Norte e parte da Região Metropolitana de Porto Alegre há cerca de dez dias. Segundo o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), os repasses, cujas portarias foram publicadas no Diário Oficial da União, serão para compra de cestas básicas, kits de limpeza, higiene pessoal e dormitório, colchões e combustível, além de aluguel de veículos, no caso de Maquiné.

O município ainda receberá uma verba de R$ 125 mil, ainda por conta da estiagem registrada em fevereiro. Já para Caraá, o valor irá para a aquisição de itens de assistência humanitária à população atingida. O prefeito caraense, Magdiel Silva, divulgou também que a cidade fez uma repactuação do Orçamento. “Rescindi de forma amigável todos os contratos para os eventos do município”, publicou ele nas redes sociais. Caraá cancelou a Oktoberfest, Natal no Berço das Águas, festa de aniversário da cidade e Rodeio Municipal, cuja edição seria a primeira.

Conforme ele, a prioridade será para saúde, educação, assistência aos atingidos pelo ciclone, pagamento da folha salarial e fornecedores. O secretário Municipal de Administração, Fazenda e Planejamento, Telmo Oliveira, não estima valores, e afirma que a decisão ocorreu após uma reunião do prefeito Magdiel com o secretariado. “Havia alguns contatos com as empresas que participariam destes eventos, e o pessoal entendeu muito bem a situação. Não haverá nenhum prejuízo financeiro”, afirmou ele.

Oliveira também confirmou que o chefe do Executivo do município tem uma conversa agendada com o presidente Lula ainda nesta semana. “Ele deve falar algumas coisas no sentido de pedir ajuda, colocar as pautas na mesa para atrair recursos à nossa cidade”, afirmou. Enquanto isso, há uma outra força de trabalho empenhada em trazer novas empresas. “Nosso município tem vocação na agricultura familiar, que foi bastante afetada com a perda de solo fértil. Entendemos que ter empresas de outros segmentos aqui dentro é fundamental para empregarmos moradores também”, comentou o secretário.

Psicólogos identificam mais de 100 pessoas para atendimento permanente

Em outra frente, mais de 60 voluntários da área da Psicologia estiveram no município para tratar da população com a saúde mental comprometida após a tragédia que deixou cinco mortos em Caraá, e 16 no RS todo. Elas receberam capacitação por videoconferência da psicóloga Melissa Couto, que já trabalhou nos desastres de Brumadinho/MG, da Boate Kiss, em Santa Maria, e nas enchentes em Teresópolis/RJ. Em Caraá, os profissionais foram capitaneados pela profissional Rayana Tedesco, moradora e atuante no município.

Segundo ela, a equipe mapeou 162 pessoas que precisam de acompanhamento na área. “Entendi que recebi esta missão antes de ela acontecer. Eu havia ido para Osório, e depois a Porto Alegre para uma formação, então saí de Caraá, onde tudo acontece, e não vivi o som, o barulho, as imagens, não estava inserida neste contexto. Isto fez com que eu conseguisse estar fortalecida para poder ajudar. Entendo que se estivesse mergulhada nestes sentires do dia eu não conseguiria”, afirmou Rayana, que agradeceu o apoio do Cras municipal como “porta de entrada” para este processo.

Foto: Rayana Tedesco / Arquivo pessoal

A psicóloga, que tem um consultório em Caraá, conta que rapidamente foi criada uma força-tarefa para atender estas famílias, inicialmente as que estavam isoladas, e logo parceiros se uniram aos esforços, como o curso de Psicologia da Unilasalle, em Canoas, Secretaria Estadual de Educação (Seduc), entre outros. “Foi importante as famílias entenderem que estávamos ali por elas. Fomos lá para fazer aquela escuta, dar aquele abraço. Todo mundo perdeu algo ou alguém. Algo se foi com esta catástrofe. As pessoas estão com muita necessidade de fala, e vão precisar de muito suporte emocional para seguir”, comentou a psicóloga caraense. Ela, Melissa e os demais profissionais articulam a criação de uma rede de apoio permanente no município para pensar futuras estratégias de saúde mental.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895