Prefeitos da Região Metropolitana citam apreensão e pedem apoio da população no enfrentamento à seca

Prefeitos da Região Metropolitana citam apreensão e pedem apoio da população no enfrentamento à seca

Chuva do sábado trouxe efeitos positivos, porém ainda insuficientes; chefes do Executivo ressaltam suas estratégias contra o problema

Felipe Faleiro

Terra seca no rio Gravataí, entre os municípios de Gravataí e Viamão, é ladeada pelas águas com excesso de algas

publicidade

A chuva do último sábado, mesmo caindo de forma irregular na região, segue gerando efeitos positivos nos níveis dos rios da Região Metropolitana. O rio Gravataí, tanto em Alvorada quanto no município de Gravataí, seguia subindo substancialmente na manhã de hoje, alcançando marcas que ainda não haviam sido atingidas em 2023. Em Alvorada, por exemplo, o alcance foi de 1,07 metro na manhã desta segunda, ante o mínimo de 38 centímetros, registrado pela régua da Estação de Tratamento de Água (ETA) da Corsan no município antes da precipitação de sábado. 

No local, a chuva aferida pela estação pluviométrica foi de 3,6 milímetros. O secretário municipal de Obras e Infraestrutura de Alvorada, Rogério Negreiros, avalia que o município fez uma parceria com a estatal de abastecimento para ceder uma escavadeira hidráulica para obras emergenciais no rio Gravataí. “Estamos com campanhas para o uso racional de água em nossa cidade, para que as pessoas economizem ao lavar o carro, molhar as plantas, enfim, para reduzir este consumo”, afirma Negreiros.

De acordo com ele, o município não tem decreto ativo de situação de emergência, tampouco necessita no curto prazo, após orientação da própria Corsan. “Nos últimos anos, não chegamos a ponto de faltar água. Na realidade, sofremos com o excesso dela, com enchentes e alagamentos”, comenta o secretário. No Balneário Passo das Canoas, em Gravataí, tanto o nível quanto a vazão seguiam em alta, alcançando 1,08 metro e 1,45 metro cúbico por segundo, respectivamente. Neste local, choveu 30,6 milímetros no sábado. 

“Estamos lidando com o assunto com muita apreensão. Desde dezembro, temos avisado a Corsan, sabendo da estiagem que se aproximava”, diz o prefeito de Gravataí, Luiz Zaffalon, que já foi diretor-presidente da estatal entre 2009 e 2010. Segundo ele, “não tem chovido de forma consistente e o rio está secando cada vez mais”. “Hoje [segunda-feira], no ponto de captação da Corsan, a água está em um nível negativo. Meio metro de água na captação já é considerado crítico. E hoje está menos 14, 15 centímetros deste nível. Então está sendo captada água com balsa no volume morto do rio”, comenta Zaffalon. 

O prefeito também comenta que algumas obras emergenciais ajudaram a amenizar a situação, mas é preciso mais. “Está sendo feito o desassoreamento de alguns canais, como o do DNOS, que tem sete quilômetros, em Águas Claras, em Viamão, que iniciou no sábado, e ainda deve levar uns dez dias para ficar pronta. Isto vai fazer com que a água chegue até o leito do rio. Mas precisamos que esta obra ande rápido. Estamos acompanhando passo a passo e angustiados para que, de fato, esta água chegue ao rio”, prossegue.

Gravataí emitiu, recentemente, um decreto que dá à Guarda Municipal e à Vigilância Sanitária poderes de fiscalização e até multa a quem realiza captações irregulares ou consome água de maneira irresponsável. Embora as autoridades já tenham visitado estabelecimentos como lavagens de automóveis e visualizado pessoas que seguem lavando calçadas, por exemplo, com água corrente, a primeira ação é sempre uma orientação, e, segundo o chefe do Executivo municipal, ainda não foram expedidos autos de infração aos ofensores da lei.

Em Viamão, o prefeito Eng. Nilton Magalhães diz que o Executivo tem acompanhado diariamente as ações da Corsan, por meio do “contato constante com sua diretoria e técnicos”. “Acreditamos que as providências nos darão um pouco mais de segurança, porém é necessária a colaboração de todos no sentido do uso racional da água”, salienta ele. De acordo com Magalhães, já está sendo construída uma nova estação de captação e tratamento de água. “Até sua conclusão, precisamos colaborar no que for necessário para suportar os períodos de estiagem”, resume.

No Guaíba, em Porto Alegre, a situação segue em caráter oscilante, com o curso d’água no Cais Mauá apresentando sucessivos aumentos e quedas de nível. No final da manhã desta segunda-feira, a marca estava em 45 centímetros, dentro da média dos últimos dias, assim como próxima dos 47 centímetros do normal histórico para o mês de janeiro. Porém, conforme o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), para manter o abastecimento a pleno, o nível deveria estar em 80 centímetros, o que não é atingido desde a metade de dezembro de 2022.

Já no rio dos Sinos, o nível na régua no Centro de São Leopoldo, mantida pela Agência Nacional de Águas (ANA), atingiu 93 centímetros no sábado, maior valor desde 17 de dezembro do ano passado, e voltou a oscilar para baixo, chegando a 72 centímetros no final da manhã de hoje, índice similar ao da noite da última quinta-feira. A chuva, porém, foi mais favorável. Caíram 23,4 milímetros no sábado, maior índice dos últimos seis meses, pelo menos. Já na Elevatória de Água Bruta (EAB) do Serviço Municipal de Água e Esgotos (Semae), a medição alcançou 1,70 metro hoje pela manhã, 20 centímetros acima do dia anterior, porém ainda considerado baixo. 

“Continuamos em situação de alerta para o nível do rio dos Sinos, em função que há mais de dois meses não chovia de forma satisfatória para garantir um bom nível da água”, afirma o prefeito Ary Vanazzi. Conforme ele, não há previsão de desabastecimento, e mesmo com a chuva de sábado, tanto na área urbana quanto nas cabeceiras, “não é suficiente para resolver a situação”. “Seguimos com a campanha para não desperdiçar água, e pedimos a conscientização da comunidade para seu uso racional”, pontua Vanazzi.

Granpal está levantando perdas na região

O presidente da Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) e prefeito de Nova Santa Rita, Rodrigo Battistella, salienta que o órgão está fazendo levantamentos em seus 16 municípios, que incluem todos os anteriores, a fim de obter informações locais sobre as perdas até o momento com a estiagem. No entanto, em um primeiro momento, é possível estimar uma perda de, no mínimo, 30% das lavouras regionais. “A perda está cristalizada. Não há muito o que podemos fazer, a não ser torcer para que o quanto antes comece a chover para que as perdas não sejam mais severas ainda”, desabafa ele.

Segundo Battistella, há em andamento uma interlocução junto ao governo estadual para verificar o que se pode esperar de renda aos pequenos produtores rurais, que são os mais impactados pela falta de chuvas, e há agenda prevista com o secretário estadual de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Giovani Feltes, para tratar dos questionamentos. “Há também uma união de esforços coletivos para fazer com que evitemos estes problemas. Achar uma solução inteligente e sustentável para que possamos passar por este processo”, afirma o presidente da Granpal.

No ano passado, a entidade havia entregue ao governo a Carta da Granpal, que, entre outras demandas, pedia “ações urgentes em prol do sistema hídrico”. “Este é um projeto sensível, que envolve também o Meio Ambiente, mas também precisa ser visto. Temos uma riqueza hídrica no nosso entorno que talvez não estamos utilizando da maneira adequada. Entendo que o governador Eduardo Leite tem boa vontade para resolver esta situação, e se mostrou aberto para que possamos traçar novas estratégias para que isto não aconteça mais”, diz Battistella.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895