Projeto Aedes do Bem auxilia no combate ao mosquito da dengue

Projeto Aedes do Bem auxilia no combate ao mosquito da dengue

Mosquitos Aedes aegypti machos são capazes de restringir a reprodução da própria espécie

Felipe Samuel

Em janeiro, a Santa Casa de Porto Alegre instalou dez caixas em locais estratégicos

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Um aliado inusitado na prevenção e no combate à dengue, zikam chikungunya, febre amarela e outras doenças perigosas está sendo utilizado nas dependências da Santa Casa de Porto Alegre. São as chamadas caixas Aedes do Bem, que contêm mosquitos Aedes aegypti machos. Eles possuem características autolimitantes e são capazes de restringir a reprodução da própria espécie, diminuindo o número de fêmeas na área tratada - que picam e são as verdadeiras transmissoras dessas doenças.

Coordenadora de Gestão Ambiental da Santa Casa, Bruna Trolli explica que as dez caixas foram instaladas em janeiro em cinco áreas estratégicas do hospital. Um estudo avaliou as principais áreas físicas da instituição com necessidade de contar com medidas preventivas para o controle de pragas dentro do complexo. “A Santa Casa está localizada no Centro da cidade, onde tinha incidência de mosquitos. E usar uma medida biológica que não seja por controle químico dentro do complexo acabou sendo ideal. Houve diminuição de relatos de casos”, frisa, acrescentando que os resultados serão melhor observados com o tempo.  

Ela explica que o estudo que uma empresa terceirizada avaliou o alcance da proliferação dos mosquitos. “Após ativação das caixas, um técnico faz uma vistoria semanalmente, substituindo a água de acordo com tempo de reprodução. Ele coloca um kit de preparo com pote de água. Após o nascimento, os insetos conseguem sair por um orifício”, sustenta. A tecnologia não utiliza produto químico no processo. Os mosquitos nascem machos com características autolimitante, limitando a reprodução da espécie. Quando cruzarem com fêmeas só vão nascer machos, e isso limita a circulação das fêmeas”, completa.

Coordenadora de Operações de Campo dos Programas de Saúde na Oxietc, a bióloga Luciana Medeiros afirma que a solução desenvolvida pela empresa do Reino Unido, que é pioneira no desenvolvimento de tecnologias inovadoras para controle biológico de insetos transmissores de doenças, já é aplicada em outros estados brasileiros desde 2021. Conforme a pesquisadora, cada caixa pode liberar até mil mosquitos Aedes aegypti machos com características autolimitantes. “Os ovos entram em contato com a água, onde eclodem as larvas. Só sobrevivem as larvas machos. As fêmeas morrem nas primeiras 48 horas de vida”, salienta.  

Ao ativá-la com água potável, os mosquitos do Bem se desenvolverão até a fase adulta. Em cerca de 10 a 14 dias, Aedes do Bem adultos voarão da caixa para o ambiente urbano para se acasalar com as fêmeas do Aedes aegypti. Deste cruzamento, apenas os descendentes machos chegam à fase adulta e herdam dos pais a característica autolimitante. “A ferramenta preenche muitas lacunas das tecnologias convencionais para controle do mosquito da dengue, onde o inseticida não alcança”, sustenta.

Ela explica que a tecnologia do Aedes do Bem utiliza ferramentas simples de biotecnologia para desenvolver mosquitos machos seguros, que não picam e não transmitem doenças, e que não persistem no ambiente. O Aedes do Bem não tem toxicidade. Não atinge nenhum inseto polinizador ou qualquer inseto que pertença à cadeia alimentar. É uma tecnologia limpa”, afirma. Segundo Luciana, os pesquisadores levaram 20 anos para desenvolver a nova tecnologia e levá-la ao mercado.


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