Projeto busca qualificar enfermeiros nos processos de doação e transplante de órgãos e tecidos

Projeto busca qualificar enfermeiros nos processos de doação e transplante de órgãos e tecidos

Rio Grande do Sul hoje ocupa a oitava posição no ranking de doações e transplantes

Rafael Rangel Winch

Lançamento do ''Manual de Enfermagem em Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos'' ocorreu no Centro Cultural da Santa Casa, nesta segunda-feira, 06

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Apesar de o Brasil ser o país com o maior sistema público de transplantes do mundo, ainda é necessária uma capacitação profissional mais qualificada para ampliar as doações. Atualmente,  o país possui mais de 50 mil pacientes em lista de espera por um órgão, sendo 2.500 habitantes do Rio Grande do Sul. Com o objetivo de auxiliar na comunicação sobre o assunto, três enfermeiros que atuam na Santa Casa de Misericórdia, lançaram, nesta segunda-feira, o Manual de Enfermagem em Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos. 

Em torno de 70% do pessoal que atua nos processos de doação ao transplante são profissionais da enfermagem, número que reforça a importância de um olhar mais atento para essa categoria no que se refere ao tema do manual. O estado gaúcho já ocupou a liderança no ranking de doações e transplantes, mas hoje está na oitava posição da lista. Os dados revelam um déficit de ações na área, o que sinaliza a necessidade de mais iniciativas que discutam esses processos não somente entre os profissionais de saúde, mas com a população em geral. "É um trabalho de formiguinha porque a gente não consegue mudar esse cenário de uma hora para outra. É importante que existam projetos de capacitação com foco na formação profissional em todas as etapas da doação e transplante. Hoje um dos principais gargalos desse assunto é a comunicação, independente da família doadora ou não", destaca Dagoberto Rocha, um dos organizadores da publicação.

A enfermeira Simone Lysakowski, que também organiza o manual, reconhece que o ensino e o aperfeiçoamento são dimensões fundamentais para melhorar o desempenho gaúcho nos processos de doação e transplante de órgãos e tecidos. "Outros estados aprenderam conosco, por exemplo, Santa Catarina e Paraná são os dois primeiros em doação e transplante. Eles focam na educação dos profissionais da saúde de modo frequente e organizado", comenta. Conforme a Associação Brasileira de Transplantes de Órgão, Santa Catarina aparece em primeiro lugar com 40,5 doadores por milhão de população (pmp). Paraná vem atrás, no segundo lugar, com 35,8 doadores (pmp) e depois aparecem Ceará e São Paulo – com cerca de 21 doadores (pmp) cada.

Para além dos organizadores da publicação, escritores dos capítulos obra são enfermeiros de diversas regiões do país. "Nossa ideia foi juntar esses profissionais com experiência no assunto e criar um manual que ainda não existia no Brasil. Eu já me formei há alguns anos, mas lembro que foi muito superficial a abordagem desse tema na minha faculdade. Então fui conhecer mesmo essa questão quando vim trabalhar na Santa Casa. A partir disso nós começamos a se especializar na área dos transplantes e doações", conta a enfermeira Kelen Machado, que também organizou o manual.

Organizadores do manual são enfermeiros na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre

Autor de um dos capítulos da obra, o enfermeiro Josmar Antonio Romanini destaca que a abordagem do assunto pode contribuir, inclusive, para a construção de percepções mais aprofundadas sobre doação e transplante por parte de famílias que estejam vivenciando esses processos. "Falamos, entre outras coisas, das expectativas de quem está esperando uma doação de órgão, olhando para desde o momento que surge um doador até o final do processo. Sempre me envolvi com esse assunto, desde a minha graduação, até porque tinha pessoas da família que esperavam por um órgão. Esse material é de fundamental importância que dá todas as linhas do tema, inclusive, abordando como falar com as famílias sobre como funciona o processo de transplante e doação de órgãos no Brasil", relata.


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