De tristeza, o bairro não tem nada. A origem do nome não é de nenhum episódio trágico e nem por ter sido uma região pacata e sem atrativos. Ao contrário, o bairro Tristeza, como já contou o Redescobrir a Cidade, foi destino badalado de turistas em busca de veraneio na Capital, em uma época de difícil acesso ao Litoral Norte.
O nome Tristeza vem de José da Silva Guimarães, um dos primeiros colonizadores da zona Sul em 1812. Há registros que contam que ele ganhou o apelido de Juca Tristeza por conta do semblante tristonho que passou a carregar depois que sua filha casou e deixou a residência do pai. Já uma segunda história afirma que o apelido, na verdade, consta no registro de cartório como sobrenome. Juca morreu em 1826, atingido por um raio, de acordo com o historiador Sérgio da Costa Franco.
A casa de Juca Tristeza ficava onde hoje é a Praça Comendador Souza Gomes, na avenida Wenceslau Escobar. Na época, a região era habitada por trabalhadores e proprietários rurais e se estendia onde hoje ficam os bairros “Vila Conceição” e “Vila Assunção”. A região era estritamente rural até 1876, quando ganhou uma colônia agrícola italiana de nome “Teresópolis”.
Mas o que mudou radicalmente a vida na Tristeza e impulsionou o seu desenvolvimento foi a construção da Estrada de Ferro do Riacho, em 1900. O fluxo de passageiros na ferrovia rumo ao litoral do bairro aumentou de 41.764, no ano de inauguração do trajeto, para 107.909 em 1908.
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📍Corridas de baratinhas
Um outro evento que movimentava bastante o bairro Tristeza eram as corridas de carro, mais conhecidas como “corridas de baratinhas”. A competição iniciou em 1924, mas teve seu auge entre 1934 e 1940, como lembra uma reportagem publicada no Correio do Povo em abril de 1987.
O circuíto passava pela Wenceslau Escobar, Icaraí, Campos Velho, Estrada da Cavalhada, Tramandaí, Coronel Marcos, chegando novamente na Wenceslau.
"Os carros em abertos e recebiam um preparo especial. A velocidade média era de 113 quilômetros horários e, mais tarde, foi elevada para 135 quilômetros horários”, afirma a matéria, lembrando que vinham pilotos do Uruguai e da Argentina para a disputa. A preferência nas corridas era para a marca Ford, mas também participavam Chevrolet, Hudson, Lance, DKW e, posteriormente, Simca.
Uma das edições do evento chegou a ocorrer no Parque Farroupilha, em 1943, quando a gasolina foi substituída pelo gasogênio. O vencedor foi Catharino Andreatta, com um carro movido a carvão de lenha.
O fim dos circuítos de rua na Tristeza ocorreu em 1968, por decreto do governo, depois que um acidente matou uma criança. A última edição ocorreu no mesmo ano, vencida pelos irmãos Wilson e Emérson Fittipaldi, num carro Chevrolet.
Logo depois, em 1970, o Automóvel Clube do Rio Grande do Sul inaugurou o Autódromo de Tarumã, em Viamão.
📍Festa da Uva da Tristeza
A colonização do bairro Tristeza foi feita por famílias de origem italiana que, para além da agricultura, se dedicaram aos vinhedos e à produção de vinho. Em 1928, já se realizava “a pleno sucesso” a Festa da Uva de Tristeza, publicou o jornal Correio do Povo em abril de 1987.
A ideia da festa foi de Comendador Souza Gomes, figura muito atuante na sociedade. “Homem de visão, empreendedor, construiu uma fábrica de vinho de laranja, marca ‘Dona Anna’, que exportava para o Rio de Janeiro”, conta a matéria da época.