Iniciada como clube voltado à preservação da identidade germânica, a Sogipa, em Porto Alegre, converteu-se, ao longo do tempo, em um complexo formador de atletas, expandindo suas operações e abarcando diferentes modalidades esportivas. Mas suas origens não foram esquecidas. A Oktoberfest própria, criada em 1911, é a mais antiga do Brasil. Há também, na sede, no bairro São João, a Casa dos Bávaros, local de preservação da memória e inaugurada no centenário da imigração, em 25 de julho de 1924, às vésperas de completar, portanto, 100 anos. Ainda é mantido o Departamento de Bávaros Die Haberer, promotor de atividades folclóricas em língua alemã.
“Isto é a continuidade da preservação dos usos e costumes dos nossos fundadores e seus descendentes. No decorrer dos anos, a miscigenação no clube se tornou efetiva e muito atuante. Mas o início foi pelos alemães, que tinham, em sua nação de origem, o costume da ginástica, e depois isto foi se transformando. Sem dúvida, mantemos as tradições da forma como é possível”, relatou o conselheiro Renato Kops, um dos dois representantes da Sogipa na comissão estadual do bicentenário – o outro é Décio Krohn.
De fato, os germânicos estão intrinsecamente ligados ao legado do clube, conforme relatado em livros como Sogipa: 150 anos de vida e história, publicado em 2017. Sua história começa em 1867, a partir da Deutscher Turnverein, criada pelos brummers, soldados mercenários germânicos contratados pelo Império do Brasil para lutar na chamada Guerra contra Oribe e Rosas, na região do Rio da Prata, Alfred Schütt, que trouxe ao Rio Grande do Sul a ginástica de aparelhos, e Wilhelm Ter Brüggen.
Após a incorporação de atividades como o tiro ao alvo e fusões, como com a Turnklub, cuja figura em destaque era o tesoureiro Jacob Aloys Friederichs, foi formada a Turnerbund, ou Federação dos Ginastas, embrião da atual Sogipa. Uma curiosidade é que a Deutscher Turnverein inaugurou, em 1885, a primeira piscina do Brasil, no balneário Badeanstalt, onde hoje é a Estação Rodoviária de Porto Alegre, na rua Voluntários da Pátria. Fluvial, ela era “um tanque de madeira instalado dentro do Guaíba”, registra o livro, acrescentando que havia um mecanismo com parafusos que permitia controlar sua profundidade, chalé de banho, trapiche e local para guardar roupas. Ali, iniciou a prática da natação no clube.
Depois, vieram a ginástica, a esgrima, o bolão e o atletismo, dentre outros, muito graças à figura de Georg Black, imigrante nascido em Munique e chegado ao Brasil em 1902, aos 25 anos. Hoje, ele nomeia o grupo de escoteiros da Sogipa, o primeiro do RS e o mais antigo do país em atividade, fundado em 1913. Além da já citada inauguração da Casa dos Bávaros, o centenário da imigração alemã foi celebrado no clube com inovações para a época, como a primeira vez em que mulheres puderam participar de competições de atletismo.
Também houve verdadeiras epopeias, a exemplo da Eilbotenläufe, a corrida de bastão, percurso iniciado no município de Ijuí e percorrido por 1,2 mil atletas até a chegada em Porto Alegre, na que pode ter sido, afirma o livro, a pioneira das provas atléticas de longa distância no Brasil. No decorrer das décadas, houve novos investimentos, com participações de atletas em competições nacionais e internacionais, como os Jogos Olímpicos, mas as tradições se mantiveram com o grupo de danças alemãs Die Haberer e outras obras, como os livros que relatam os 130 anos da própria Sogipa, este lançado em 1997, 90 e 100 anos da Oktoberfest, este último de 2011.
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