Universíade-63: conjunto habitacional abrigou delegações internacionais em Porto Alegre

Universíade-63: conjunto habitacional abrigou delegações internacionais em Porto Alegre

Paredes externas da construção ainda carregam os nomes das delegações que foram alojadas

Brenda Fernández

Paredes externas da construção ainda carregam os nomes das delegações que foram alojadas

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Muito sorridente o "seu" Alcebíades de Almeida, auxiliar de administração da Vila Olímpica, anda muito atarefado. Comandou, durante dezesseis horas por dia, os cinquenta operários que dão os últimos retoques de preparação nos blocos da Caixa Econômica Estadual. (Folha da Tarde, 7 de agosto de 1963).

Há 61 anos, Porto Alegre sediava a Universíade de 1963. Milhares de atletas de 32 países e autoridades ocuparam entre 30 de agosto e 8 de setembro a capital gaúcha, na época com 720 mil habitantes.

A Universíade era considerada um dos mais importantes campeonatos, depois do Pan-Americano e da Copa do Mundo. Era o primeiro evento de tal magnitude que a cidade recebia. Era um “pré-vestibular para Tóquio 1964”, registrou a Fôlha da Tarde de 1963. A U-63 teve no total a presença de 27 delegações da América, Europa, Ásia e África. Atletismo, basquete, esgrima, natação, voleibol e tênis estavam dentre as modalidades disputadas.

O tempo curto entre a escolha da cidade como sede, em 1962, e o início da competição demandou esforços e parcerias. Foi o caso do conjunto habitacional que serviu de Vila Olímpica no bairro Partenon, região que era pouco urbanizada. A estrutura já estava em fase avançada de construção e tinha seus proprietários definidos, que ocuparam os apartamentos após o término do campeonato.

Os seis blocos hoje localizados entre as ruas Arthur de Oliveira, Elias Cirne Lima, Padre Todesco e Nelsom Zang, na região conhecida como Intercap, foram cedidos pela Caixa Econômica Estadual. Os blocos com 144 quartos receberam cerca de 2 mil competidores. As paredes externas da construção ainda carregam os nomes das delegações que foram alojadas. Além do Condomínio Núcleo Residencial Vila Olímpica, o bairro conta com a Praça Universíade.

Odayr Pithan e Antônio Benedito, 89 e 83 anos, são amigos e vizinhos. Moram na região desde jovens e acompanharam a construção do Núcleo Residencial Vila Olímpica, além da movimentação que a Universíade trouxe à cidade. Hoje residem no bloco que leva o nome de Brasil, que durante o campeonato era dedicado à organização do alojamento. Diferente das demais delegações, a seleção brasileira dormia no Hotel Pampa que, assim como a sede dos comitês, ficava na região central da cidade.

“Lembro de dezenas de caminhões carregados de tijolos chegando aqui”, conta Odayr que trabalhava de enfermeiro no Hospital Psiquiátrico São Pedro e afirma que parte do material da construção era feito na olaria do hospital. O aposentado se define como um apaixonado pelo bairro, mas lamenta a pouca atenção do poder público para a preservação da história. “Tinha uma placa de bronze que contava a história do prédio, mas roubaram.”

Do outro lado da via, Antônio Benedito acompanhava a construção da Vila Olímpica. Ele morava com a esposa numa chácara, o que era bem comum. “Onde são edifícios hoje, era tudo chácara, plantações, criação de animais. Essa região era considerada rural”, conta. A chegada dos atletas na Vila Olímpica chamou a atenção. “Lembro dos atletas circulando entre os blocos”. O condomínio não era cercado como hoje. Os vizinhos acreditam que poucos moradores dos prédios e do bairro saibam o motivo das placas com nome dos países nos blocos.

A Vila Olímpica servia apenas de dormitório para os atletas. Reportagens de agosto de 63 da Folha Esportiva apresentavam a configuração dos quartos: “São apartamentos muito bem acabados, constando cada um de três quartos, sala, cozinha e banheiro. Em cada um deles ficarão hospedados de nove a doze participantes”. Os leitos eram divididos em alas femininas e masculinas. A distribuição das delegações ocorreu conforme o número de participantes e idioma falado, para “eliminar obstáculos de entrosamento”.

Os colchões e travesseiros usados na Vila Olímpica foram oferecidos pela Federação Paulista de Esportes, os mesmos usados no Pan-Americano, em São Paulo, naquele mesmo ano. Foram 1,5 mil camas, 1,5 mil travesseiros, 1,5 mil fronhas e 3 mil lençóis, que foram distribuídos entre os quartos da Vila Olímpica e o Hotel Pampa.

Junto dos edifícios da Vila Olímpica foi construído o Centro Social e Comercial da Universíade-63, na avenida Bento Gonçalves. A construção de 500 metros quadrados foi planejada para ser o centro de interação social e cultural dos Jogos Mundiais Universitários. Eram espaços para descanso, com mesas de jogos e uma copa para refeições.

Ao final das competições, a Hungria liderou o quadro de medalhas com 38 no total, seguida por União Soviética, Alemanha, Japão e Grã-Bretanha. O Brasil ficou em oitava posição, com dez medalhas, sendo dois ouros – no basquete masculino e vôlei feminino –, e oito bronzes.

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Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895