Manifestantes protestam contra o aumento dos pedágios

Representantes de diversos setores protestam em Camaquã contra o valor dos pedágios no Polo Rodoviário de Pelotas

O ato pacífico reuniu centenas pessoas em um trecho da BR 116. Com faixas, panfletos e camisetas, elas reclamavam do mais recente aumento no custo da tarifa em vigor desde o primeiro dia do ano

Angélica Silveira

Manifestantes usaram faixas para alertar sobre os valores dos pedágios na região

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O aumento de 28,9% no valor dos pedágios no Polo Rodoviário de Pelotas foi motivo de protesto em dois trechos da rodovia administrada pela Ecosul na tarde desta quinta-feira. Centenas de pessoas se reuniram em um posto de combustíveis, as margens do km 396, da BR 116.

O deputado estadual Marcus Vinícius de Almeida (PP) disse que o ato foi sem partido e sem conotação ideológica. “Tivemos a presença de deputados, vereadores, prefeitos, mas também representantes de entidades sindicais e empresariais. Todos estão sufocados pelo valor do pedágio”, reclama. Para ele, o objetivo do ato foi sensibilizar autoridades estaduais e federais em relação ao tema, além da Justiça em relação aos processos que a Ecosul responde. “Preparamos um manifesto que foi entregue aos motoristas e pedimos assinaturas para uma petição pública que será juntada aos processos que tramitam no Tribunal de Contas da União e Ministério Público Federal”, destaca.

Para o deputado, o pedágio cobrado nas cinco praças administradas pela Ecosul em trechos das BR’s 116 e 392 é o mais caro do Brasil em rodovias federais. “Temos o comparativo com outras regiões. É uma narrativa falaciosa a deles de dizer que isto não é verdade”,pondera.

Durante o protesto, que teve a Polícia Rodoviária Federal como reguladora, orientando os manifestantes onde ele poderia ocorrer e a não bloquear a pista não teve nenhum ato de violência. “O evento não tem bandeira, mas tem cara. Temos uma responsabilidade”, garante.

Os manifestantes utilizaram faixas, panfletos, camisetas e um carro de som. Várias pessoas que passavam pela rodovia, principalmente caminhoneiros apoiaram o protesto. Para a presidente da Associação Comercial e Industrial de Camaquã, Carla Geannichini Roxo o protesto é uma reunião de cidadãos preocupados com futuro da região. “Estamos aqui para expressar nossa indignação diante do aumento exorbitante no pedágio que afeta diretamente a competitividade da Metade Sul do Estado. A ACIC é uma das organizadoras deste ato, pois esse aumento onera os bolsos dos motoristas e compromete a competitividade de nossas empresas e a economia local”, opinou.

O prefeito em exercício de Camaquã, Abner Dillmann disse que a população já se assusta com o preço dos pedágios não é de agora, mas que este último aumento chegou ao extremo para o município. “Um Prefeito deveria buscar novas empresas não se preocupar em manter as que estão na cidade. É isto que estamos fazendo por causa dos pedágios. Investir em turismo na Costa Doce, é inviável para quem vem de fora conhecer nossas praias”, lamenta.

O Porto de Rio Grande também está perdendo em competitividade. Conforme o vereador, Antônio Altair Puschnerat a serra gaúcha prefere escoar sua produção por Santa Catarina, onde os pedágios não mais baratos. “O investimento na duplicação da BR 116 não tem um centavo da ECOSUL. Um empresário com seis caminhonetes todos os dias indo para a sul do Estado e pagando ainda alimentação. Imagina o gasto”, afirmou.

O presidente do Sindicato Rural de Cristal, João Luiz Horta Barbosa disse que pretende entrar com uma ação civil pública para desativar o pedágio existente na cidade. “Me informei com amigos do direito público e a praça não cumpre a lei, ou seja o contribuinte decide se quer usar ou não a rodovia pedagiada, mas não temos um caminho alternativo”, justifica.

Paulo Roberto Bierhals é proprietário de uma empresa de transporte e logística em Camaquã. “É uma situação difícil. Tenho uma sede em Camaquã e filiais em Guaíba e Santa Vitória do Palmar. Trabalho com o ramo de bebidas e diariamente tenho que andar entre as três cidades. Infelizmente não tenho como não repassar este aumento aos clientes. O pedágio entre Camaquã e Rio Grande está acima do preço do diesel”, comparou. Ele afirma que mesmo com o risco de perder clientes irá repensar a situação da empresa. “Não sei senão teremos que diminuir a frota. Vamos ter que avaliar se o trabalho compensa”, ponderou.

Quem também sofre com os valores dos pedágios são os caminhoneiros autônomos, como no caso do Valcir Koch, que há 32 anos sustenta a família com a profissão. “Não tem jeito, se aumenta o pedágio temos que aumentar o frete, o que acaba saindo muito caro, pois não conseguimos repassar os pedágios com o risco de perder os clientes. Não tem mais como trabalhar para manter as contas em dia”, observa.

Em Rio Grande, a manifestação reuniu dezenas de pessoas próximo a praça de pedágio do Capão Seco. Conforme o Vereador que organizou o protesto no local Luciano Figueredo (Luka), mais de 60 pessoas compareceram. “Fizemos o protesto por dois motivos. Primeiro a indignação com o aumento autorizado pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e a contrariedade com a prorrogação do contrato, no qual a concessionária faz uma proposta de R$ 11 para carros de passeio comparando com os atuais R$ 19,60, sendo que o pedágio mais caro de Santa Catarina está R$ 4,9, sendo o único que faz divisa com o RS”, explicou.

Procurada, por meio de nota, a Ecosul disse que respeita a legitimidade das manifestações e reforça a necessidade que sejam sempre pacíficas, resguardando a segurança de usuários e trabalhadores da via e não interferindo com a fluidez do tráfego.

Ecosul informa que respeita a legitimidade das manifestações. Reforça ainda, a necessidade de que sejam sempre pacíficas, resguardando a segurança dos usuários e trabalhadores da via e não interferindo na fluidez do tráfego. Nos atos desta quarta-feira (3), a concessionária colocou suas equipes à disposição para auxiliar em ações com esses objetivos. “Em relação aos questionamentos sobre o reajuste, a Ecosul esclarece que o índice foi deliberado pela ANTT, com base no contrato vigente, e leva em consideração a recomposição dos reajustes não realizados em 2021 e 2023, além do atraso do reajuste de 2022, que ocorreu somente em novembro daquele ano”, esclarece. A concessionária reitera que segue à disposição para dialogar com entidades e lideranças sobre todas as melhorias possíveis no atual contrato de concessão.


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