Residentes do Grupo Hospitalar Conceição tinham que morar em pousadas Garoa ou renunciar auxílio-moradia

Residentes do Grupo Hospitalar Conceição tinham que morar em pousadas Garoa ou renunciar auxílio-moradia

Médicos questionam os termos do convênio que instituição mantinha com rede de pousadas

Marcel Horowitz

GHC diz ter rescindido contrato com rede de pousadas quatro dias após incêndio que vitimou 10 pessoas

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O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) e a rede de pousadas Garoa mantinham convênio desde 2022. A instituição diz que, mesmo após o acordo, não houve repasses financeiros à empresa. O contrato teria sido rescindido na segunda-feira, quatro dias após o incêndio que matou 10 pessoas e feriu outras 15 em uma hospedagem da rede na avenida Farrapos, em Porto Alegre.

A parceria com o complexo de pousadas visava oferecer moradia a médicos que viessem de fora da Capital para fazer residência em hospitais do grupo. Da mesma forma, o convênio também garantia que o GHC ficasse isento da obrigação de fornecer o valor do auxílio-moradia aos profissionais.

Os termos obedecem a Lei Federal 12.514, sancionada em outubro de 2011. A medida estabelece que, no caso de não oferecer moradia direta, os hospitais devem fornecer auxílio de 30% de acréscimo sobre o valor da bolsa de residência médica, que atualmente é de R$ 3.330,43 por 60 horas semanais.

O convênio com a Garoa desonerava o GHC de arcar com a despesa para cada residente. Se houvesse interessados na hospedagem, o valor seria transferido para a rede de pousadas, na forma de aluguel.

Ocorre que, desde o início do ano, a documentação para a matrícula de residentes incluía a necessidade de uma ‘declaração de renúncia ao gozo de auxílio-moradia. Em outras palavras, o profissional que recusasse se hospedar em uma das pousadas Garoa era obrigado a abrir mão do valor do auxílio.

Por isso que, conforme o GHC, não houve empenho de recursos durante o convênio: nenhum residente quis a moradia ofertada.

Cremers questiona convênio

A estratégia gerou dúvidas no presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Eduardo Neubarth Trindade. Ele questiona se a instituição fornecia hospedagem em condições precárias para que nenhum médico residente aceitasse a oferta, como de fato aconteceu.

Isso porque o convênio com a Garoa, ao mesmo tempo em que poderia evitar gastos ao GHC, também anulava argumentos para que os profissionais reivindicassem judicialmente o auxílio em dinheiro.

"Oferecer moradia em regiões degradadas de Porto Alegre, é, no mínimo, desrespeito e falta de consideração com os residentes. Ou o GHC fechou contrato sem nem saber com quem estava assinando, ou o objetivo era escolher locais onde ninguém se submeteria a morar. Só vejo essas duas opções", disse o presidente do Cremers.

Em nota, o Grupo Hospitalar Conceição disse que abriu processo de chamamento público e a única empresa que se apresentou foi a rede de pousadas Garoa. O texto adiciona que, à época, o endereço da moradia não era a unidade na avenida Farrapos onde ocorreu a tragédia.

O comunicado também sustenta que o acordo foi rescindido e que não foi empenhado nenhum valor, pois nunca foi necessário utilizar o contrato. Por fim, o GHC evitou comentar se após a rescisão passaria a oferecer o auxílio em dinheiro aos residentes.

"Com a rescisão, será construída nova alternativa", resumiu o GHC.

Leia a nota do Grupo Hospitalar Conceição

O Grupo Hospitalar Conceição abriu processo de chamamento público e a única empresa que se apresentou foi a Rede de Pousadas Garoa (noutro endereço). O GHC, no entanto, rescindiu o contrato que havia sido firmado em 2022 com a referida pousada para utilização pelos residentes. Não foi empenhado nenhum valor para essa empresa, pois nunca foi necessário utilizar este contrato.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895